BAILE DO CORPO QUE PERFORMA O VIR-A-SER# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO @@@


Oco,

opaco,

seco,

impermeável.

Letras, palavras, sentenças.

Lê-las, senti-las,

re-colher e a-colher

o que pro-jetam para o futuro,

o que viver,

a inestimável diferença

Entre o versus e ad-versus,

o outro de verdades e in-verdades,

mas a vida plena.

Algo no limite.

Sem estrutura na razão.

Sem sentidos na mente.

Areia erguida pelo vento voraz

Poeiras da rua de chão

Fixando-se nas vidraças,

Embaciando a visão.

Dispersa mudez do ser.

Dormia. Ressonava.

Senti frio perpassando-me,

aliciando-me,

entrando no corpo.

Entranhas, ossos, carnes, pele.

Árvores de tronco roliços

- imagino haverem sido torneados e envernizados.

Deambulam agonias.

Vales imensos.

Pós in-versos de versos

vazio inaudito, invisível

presente no saber que

há-de artificiar outros

isto é

a continuidade.

A luz engolfa-se, condensa-se na borda fronteira do relógio - o mostrador escoa-se. No escuro, disco suspenso no nada. Caos. Som imerso no primitivo. Alucinante. Ritmos que não podem ser pensados. Melodias que não podem ser cantadas, dançadas no baile do corpo que performa o vir-a-ser.

Ando a vagar. Deambulo

por todos os espaços, alamedas e becos,

e olho de esguelha para a distância,

o longínquo com olhos de estar vivendo a liberdade,

solto.

Ventos percebidos no espírito.

Palpitação de asas sobrevive no mistério, enigma.

Dilatado.

Esquecido de mim.

Logo, não além da eternidade.

Milton diz:

"Uma criança descobre o mundo, o homem,

como a manhã descobre o dia..."

Não. Não é a criança que importa.

As imaginações.

Anseios de outro homem.

Aspirações da vida.

Desejos da felicidade.

Vontade de passear no lado esquerdo do Senna,

tomar um café nalgum Café,

olhar a Paris de todas as luzes e belezas.

Ponho-me a andar pelo apartamento - do escritório até a cozinha. Faz um calor insuportável e preciso tomar muito líquido. Suco de maracujá é o prescrito: ameniza as tensões,

ânsias, agonias... Sensações nítidas de apsiquias rolarem do Pico às profundezas do silêncio abissal. O isolamento entre pessoas de personalidades diferentes é pior que o exílio. O inconsciente. Discorda de atitudes e palavras.

Pedem-me versar o "Fim"

Sorrindo, saltitando de alegria,

Tecendo palavras que o dignifiquem,

Real-izados foram os sonhos e ideais,

Contudo,

Cont-emplando o "fim" é "início"

De outros desejos,

Outras condutas e posturas diante da vida,

Outras utopias e fantasias frente à querência

De beleza

Verso, então, sobre a esperança

De mãos entre-laçadas, mentes em síntese,

Seguirmos o horizonte

De nossos olhares voltados para

O ESPIRÍTO DA VIDA.

Verbo do nada de ser.

Coração represo,

silêncio intrínseco do mundo.

Mar branco com ondas nas lentas

dos cerros.

Barcos negros de casas,

mastros de ramos de árvores...

Sou de verbo o nada de ser.

Silêncio profundo,

silêncio cósmico de astros

rolando pelo espaço vazio,

nuvens desprendem-se de mechas

de neve que arrasam, em planura,

a última arrogância das coisas...

Ser verbo do nada sou.

Débil lembrança de um momento nunca

abarcado pelos sentidos,

de uma verdade só memória, sem tempo.

Cheiro real do mistério fluído da hora,

quantas vezes evocada saudosamente...

#RIODEJANEIRO#, 12 DE MARÇO DE 2019#

 

 


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