//** O NADA E A ARTE LITERÁRIO - IX PARTE - NA CLAREIRA DA VERDADE**// - Manoel Ferreira


Moradia da verdade. Silêncio.
Perscrutando os interstícios da verdade... O olhar sobre a coisa transforma a sua aparição em simples aparência. A noção metafísica de verdade limita-se a estabelecer relações de identidade ou de conformidade entre os fenômenos observados. Realizando-o, negligencia o fenômeno orignal d aparição. Como é possível re-presetar os objetos, não havendo um lugar de onde possam ser iluminados? Ora, a verdade real-iza-se bem mais no plano desta visão primordial do que no das visões particulares. Ver um objeto não é, primeiramente, descobri-lo, abri-lo a algo diferente dele? É no interior desta abertura ontolólgica, desta deixcêcia histórica que toda a visão é possível. A abertura é o meio de onde surge a coisa.
Não é o nosso olhar que mede a coisa, mas o horizonte da coisa que mede o nosso olhar. A realidade aparece, com efeito, carregada de significações de que espírito não percebe senão o esqueleto. O pano de fundo no qual este se desvela é, primeiramente, o ser-no-mundo, mas também o mundo do Ser. A verdade não consiste, pois, em referir o espírito ao real, mmas em referir estes ao horizonte ontológico que os ilumina. Ela não reside na medida que regulamente a conformidade do olhar, mas na abertura que condiciona toda a tomada de medida.
Encontramo-nos na clareira da Verdade. Pelo fato de ek-sistirmos, fazemos aparecer o mundo na luz do Ser. A verdade é o ato dinâmico que faz surgir as coisas à luz, o despertar do nosso pensamento para a pré-compreensão que nos põe no Ser.
Ninguém possui a Verdade. Nós estamos na Verdade e caminhamos na sua claridade. O que a metafísica compreendeu sob esta palavra não é senão uma forma determinada de nos re-pres-ent-ar esta marcha, de tomar a medida do caminho. Não existe uma Verdade imutável, suspensa no firmamento dos ideais, há somente uma Verdade temporal que nos constitui e que descobrimos na história. Esta irrompe em nós sob a forma de um ato interior, de um apelo, de uma questão.
Perscrutando os interstícios do silêncio, con-templando as miríades de a-nunciações, luzes, que alumiam a verdade em sua pr-sença, a poiésis do dis-curso do verbo, dis-curso que esplende as dimensões trans-cendentais do espírito, des-velando verbos, velando a poiética do in-finito, este velar é convite às investigações abismáticas e abissais do espírito da ek-sistência que habita a Verdade, espírito à luz do tempo, na continuidade da ontologia do vivencial e vivenciário, vivências e questionamentos, alfim a verdade que habita no silêncio não é absoluta, fosse-o, negaria a poiética do In-finito que é abertura plena, outro do vir-a-ser, outro do vir-a-ser, a plen-itude que se in-ova, re-nova, sempre à luz de miríades a incidirem nas venezianas do tempo, miríades que perpassam as frinchas, sempre em direção ao outro, outro que na poiésis poiética da poesia significa o outros das semânticas e linguísticas do silêncio entre as palavras.
Rubem Alves aconselha a prestar atenção ao que o silêncio diz, porque ele, o silêncio, é a dimensão que re-vela, a-nuncia a cintilância e brilho das perspectivas da Verdade, ontologia do tempo. O silêncio é o princípio que ilumina o destino da Verdade no tempo, mas não há a idéia de uma transparência absoluta da Verdade no tempo.



Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 15 de outubro de 2016)


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