**O NADA E A ARTE LITERÁRIA - PECTIVAS PERS DO ETERNO AO EFÊMERO - XIV PARTE** - Manoel Ferreira


"O sinal de constrição reedita de forma abrandada a resistência de angústia sentida originariamente numa situação de receio constante de suceder alguma coisa., o que possibilita desencadear manobras de justificações." (Ana Júlia Machado)



De-monstrando a filosofia de um texto escrito pelo escritor, VAZIO DO NADA, III PARTE, assim escreve, interpreta, analisa a crítica literária, poetisa, escritora Ana Júlia Machado:



"Mais outro texto filosófico do escritor Manoel Ferreira, em que está patente a angústia, a angústia da morte, do que é efémero.
Vou tentar dizer algo, que não sei se corresponderá às expectativas do grande escritor…mas se não estiver correta sei que me dirá, e eu mais aprenderei.
A ciência que analisa o involuntário do ser, seus devaneios, para assim, conseguir deslindar a decifração de seus conflitos íntimos e um superior acto de desnudar-se para si próprio, repudiando até mesmo as inerentes concepções. Indício de constrição é a manifestação usada por Freud para nomear um mecanismo lógico que o ego coloca em execução diante de uma condição de risco, para acautelar ser subjugado pelas exaltações rebarbativas. O sinal de constrição reedita de forma abrandada a resistência de angústia sentida originariamente numa situação de receio constante de suceder alguma coisa., o que possibilita desencadear manobras de justificações. Freud igualmente discursa sobre a angústia instintiva que é o contravapor do ser sempre que se acha sem preparação e sujeito a uma condição traumática, isto é, subjugado a uma afluência de exaltações, de proveniência exterior ou interior, em que é inabilitado de avassalar. Para Freud, a angústia instintiva contrapõe-se ao sinal de angústia que é a manipulação racional para acautelar a constrição instintiva.
Para Heidegger, é o nada que nos transporta a angústia. Pois, o nada é a completa contestação da totalidade do ente. O nada se patenteia na angústia, mas não enquanto ente. O nada nos fiscaliza simultaneamente com a evasão do ente em sua plenitude. Na angústia se patenteia um recuar, esse recuar arrecada seu ímpeto inicial do nada. A nadificação não é nem uma aniquilação do ente, nem se ocasiona de uma desmentida. O inerente nada nadifica. É a prática do nada, não mental, mas emotiva, que concebe o sentimento de angústia - anuência da inerente finitude.
A anuência da inerente finitude é relevante para todos nós. Cristo cruza pelo ensaio da angústia e adopta sua finitude como indivíduo. Por isso é essencial possuir um rumo para existência. O fenecimento é, em si, uma sem expectativa para todos, até mesmo para os bichos, e aparenta só não sê-lo para os que habitam a existência com invulgar elevação e na claridade de uma enorme crença. Esta crença, intitule-se a benefício da realidade, não carece ser devota ou transcendental, com a qual se crê e exerce claramente a Divo e a vida de uma existência pós-morte.
E como dizia(Viktor E. Frankl). A existência está atestada de ocasiões para provê-la de sentido. A existência humana possui sentido constantemente e em todas as condições, e esse infindo sentido da vida igualmente abarca padecimento, morte e angústia. … nossa contenda, nossos empenhos não desperdiçam seu sentido e seriedade".



Transcrevemos ipsis a análise, interpretação da crítica literária, para que o leitor perceba os três pilares em que o escritor se inspira, o psicológico, a estética heideggeriana, a consciência-estética, a existência estar atestada de ocasiões para provê-la de sentido, sentido inclusive fundamentado no da vida de uma existência pós-morte. Assim, conforme as sinuosidades da linguagem e estilo, percebe-se que o escritor teme a morte sem sentido, aceita-a, con-sente-a na criação de um sentido pós-morte, só a eternidade da arte, da literatura, da poesia conferirá este sentido.
Descrever a verdade existencial do Nada, eis a questão.
No Nada, o Ser é o Tudo que com-preende a razão da existência
De acordo com o caráter existencial de Sartre, o escritor busca elucidar o Nada, descrevendo-o, a partir do questionamento do Ser.
Durante a narrativa poética, a descrição do Nada sobre todos os aspectos vão se abrindo à luz de que o Nada é tão parte integrante da existência humana, quanto a própria existência do infinito do SER.
“Nada solitário, nada silencioso, nada introspectivo, nada circunspecto. Nada que se projecta além da ponte partida, além do mata-burro, além do abismo, além das águas do rio, trans-cender as con-ting-ências, trans-cender...”
Com isso, o escritor assume o Nada como o trajeto e o porto, sempre em movimento à existência do universo. Daí, o Nada ser a Liberdade da existência:
“”Sendo a liberdade o ser da consciência, a consciência tem que existir como consciência de liberdade.” (J.P.Sartre-1941).
Segundo, Sartre, o homem chega à consciência de sua liberdade pela angústia que o homem se percebe como o Ser da liberdade...
Em Sartre, o nada aparece ao homem quando este, numa atitude interrogativa junto ao ser, entra em relação com o mundo. Deste modo, Sartre investiga a interrogação como conduta primeira porque, segundo ele, ela é “uma atitude dotada de significação” (SARTRE, 2001, p. 44).
Assim, o escritor nos mostra em seu texto:
“Por que percorreria as con-ting-ências do não-ser não fosse o projeto de re-nascimento, re-fazimento?”
E o escritor deixa clara essa convicção Sartreana ao longo do texto:
“Quanto mais o nada e a vida entrelaçam as mãos na jornada verbo-do-ser-adentro mais evangelizam as sendas silvestres da esperança do "Ser", essa dimensão trans-cendental que inscreve a ec-sistência no TABERNÁCULO DO ETERNO.”
Nada, no mundo terreno, é a Verdade que não a transcendência do Ser.
Não há tempo cronológico... Somente o Tempo, senhor que rege o Ser, no Tudo e no Nada; no Etéreo, na plenitude da solidão...
A “realidade” do escritor no agora está nessa transição catártica ao Infinito. O Tudo está no Nada do vazio transcendental.
Apercebe-se do Mal, numa citação a Mefistófeles, o cão negro que se transforma em nuvens negras (Fausto, de Goethe), revelando o demônio que assombra a humanidade, induzindo-a aos pecados da existência.
E, desse voo, resulta o autoconhecimento: retorna ao mundo, agora, despido das falsas verdades , falsos valores morais, éticos, religiosos, etc, elaboradas à escravização do homem pelo homem...
Enfim, a arte literária, o texto poético revelam uma perspectiva do fluir inexorável do tempo e do Eu, desencantado e recolhido em si mesmo: o sujeito decadente e em crise diante do Tempo.
Elabora o tecer poético, valendo-se de elementos simbolistas, fragmentando-o, o imagismo e o interseccionismo, beirando ao surrealismo de Paul Verlaine e Camilo Pessanha.
Conclusão: "Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia" (Willian Shakespeare (In Hamlet)
Lá no alto da colina passam ventos, caem orvalhos, sarapalham neblinas, o catavento dos im-pretéritos gira às in-versas da verdade, em cujas bordas os solstícios do crepúsculo pre-figuram e con-figuram de efígies o sacrário das ilusões da redenção e ressurreição. Lá no alto da colina as luzes rarefeitas de brilho e cintilância incidem no vazio do nada, perspectivando as imagens etéreas do éden re-presentado pelas sin-estesias do ab-surdo, pres-ent-ficado pelas semânticas e linguísticas da alma penada de pecados e pecadilhos do livre-arbítrio.
E Mefistófeles debulha o terço do milagre capital à soleira do Monte das Oliveiras.
Travessias de pectivas e pers do eterno ao efêmero. sede e fome de conhecer Deus, desde o Gênese até o Novo Testamento, plenitude de mistérios na continuidade da vida, imagem do amor, sublimidade da verdade e dogmas teológicos, iluminar as estradas com cuidado e amor amplia a sublimidade da vida e da con-ting-{ência}, desde a eternidade ao crepúsculo, ao través de lutas ad-jacentes e peculiares. Na passagem secreta de alameda a outra, vela ao vento, o abismo é in-imaginável, o buraco-negro, in-descritível, o solipsismo do poder e do patrimônio, in-inteligível. A res extensa do parasitismo in-concebível, in-om-inável, a res cogitans do roubo e exploração, in-dizível. Ser o que habita a essência do ser, raízes abstratas do que há de se a-nunciar, espertar para a busca de esclarecer mistérios e esperanças. O sentido da vida se eleve, alçando vôos profundos no tempo, passagens de pers e pectivas do nada ao vazio.
O escritor está sempre se referindo em seus poemas e textos à mochila nas costas, re-versando e in-versando a jornada à busca da eternidade, do eterno. Seu caráter destemido, implacável, persistente, insistente, determinação, força sem limites diante dos projetos, sonhador revela a sua mochila de utopias, esclarecer mistérios e esperanças, ser as raízes abstratas do que há de se a-nunciar, os seus questionamentos e indagações da existência.



Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 17 de outubro de 2016)


Comentários