**MACUNAÍMAS PAULICÉIAS DA HIPOCRISIA** - Manoel Ferreira


Epígrafe:

"A Poesia escolhe os poetas. As Artes escolhem os artistas." (Manoel Ferreira Neto)

Macunaímas paulicéias pre-figuram de nonadas
Precipícios solsticiados de orvalhos e garoas
Além dos horizontes, que re-velam outros limiares
Do in-finito, in-auditas dimensões que fogem à percepção
Sente-se-lhes, imagina-se-lhes, elucubra-se-lhes
A fissura por lhes a-nunciar pres-ent-ifica-se pungente
Inter-ditos claudicados, inter-ditos deficientes
Inter-ditos iludindo, mascarando, falsificando
Eid-éticas do Tempo e do Ser, núcleos do Ser e do Vento,
Eteriza-se a linguística,
Evola-se a semântica
Esvaece-se a metafísica
Orações garatujadas achando-se literatura, poesia
Períodos escrachados nas linhas desejando ser filosofia
Garatujadores e escrachantes vislumbrando-se
Na superfície lisa do espelho, deusas e deuses
Bebem vinho suave na taça de cristal,
Sorrindo, olhos brilhantes, o peito arfando de supremo prazer,
Jubilando-se, glorificando-se,
Enaltecidos até a consumação dos tempos,
As páginas que foram brancas, lívidas
Inspiram-se no vazio, esvaziam as letras, palavras, sons,
Vão-se embora para Pasárgada,
Seguem solitárias nas asas do vento,
Nalgum in-fin-itivo espaço de ante-mãos e revezes
Encontrarão palavras, letras
Que revelam a verdade, que pres-ent-ificam a ética, estética
As falsidades, mentiras, farsas, hipocrisias
Arrastando-se pelas sarjetas
O vinho que era suave azedou-se
A taça de cristal que era divina estilhaçou-se
A vanglória, o júbilo, as vaidades escafederam-se
Nada restou
A cripta de mármore eternamente sem qualquer identificação
Ossos, cinzas
A solidão que fora a semente das hipocrisias
Inda mais presente sob a terra.



Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 28 de outubro de 2016)


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