**CINZAS DE NADA PURO** - Manoel Ferreira


Pós de esias esparramados no chão
De metáforas destituídas de sons, sentidos
Jogados na sarjeta de palavretas
Desprovidas de perspectivas, luzes e imagens
Nonsense...
Ser não é mostrar-se e mostrar-se não é ser
Descompassadas nas trilhas dos inter-ditos,
Além-ditos,
Palavras mudas, palavras cegas, palavras surdas
Desconectadas dos precipícios onde se embevecem
De sensibilidade, contingências, trans-cendências
Todo ente nasce sem razão
Prolonga-se por fraqueza
Morre por encontro im-pre-visto
Nada,
Nonadas
E os olhos se extasiam com o resplendor
Do inaudito, ininteligível, imaginário das transgressões
Do inóspito, insolências da meiguice, meiguices insolentes,



Amaria das prefundas de minh´alma escrever uma escrita escriturária, torna-se-me, contudo, quase impossível de fazê-lo no que tange ao fato inconteste de que cometeria uma série de gafes, não é bom para a minha imagem, por não estar familiarizado com a linguagem de "escrita escriturária", nada sei sobre ela, ademais estou sobremodo sem assunto, melhor dizendo, des-assuntado, as gafes seriam inevitáveis, o bom senso aconselha-me a não me utilizar de gafes.
Então, restam-me:



As imaginações férteis que viajam
Anacronias da ternura seduzindo as maledicências da alma
Anaestesias da carícia e toques bolinando os boduns
Dos instintos primevos do eterno, efêmero.



As estrelas velam
O ossuário dos ideais,
Contra-luz das utopias e dialética da iluminação.
Nada...
Nada puro...
Nada sublime...
Nada divino...
Nada supremo...
Nada: Ser ou Espírito?



Cinzas de esias cobrindo matagais, mangues
Cogito ergo non sum
Con-templar é matar a sede de conhecimentos
Cinzas lembram ossos, após alguns anos
De por baixo da terra, tornam-se cinzas
Recordam o limite inevitável da vida, a morte
Cinzas de nada...
Cinzas de nada puro...
Cinzas de nada sublime...
Cinzas de nada divino...
Cinzas de nada supremo...
Cinzas: Reais ou frutos da imaginação fértil
Aliada à inspiração, percepção, intuição, intenção?



Des-assuntado em nível tão elevado em que me encontro, a "escrita escriturária" que amaria sobremodo re-velá-la à larga das con-tingências e trans-cendências, mas, pelo simples fato do medo de cometer gafes em série com a linguagem, com ela não estou familiarizado, restando-me o estilo que poderia ser hilário, seria facilimo realizá-lo, mas o des-assunto deixou estes versos e estrofes que não possuem claro, escuro, são palavras chapadas, o real.
Onde - as gafes?
As gafes - onde?
Gafes - onde?



Manoel Ferreira Neto
(*RIO DE JANEIRO*, 29 de outubro de 2016)


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