ENSAIO CRÍTICO LITERÁRIO E FILOSÓFICO DA POETISA E ESCRITOR ANA JÚLIA MACHADO ENSAIA O TEXTO /**VAZIO DO NADA - III PARTE**/



EPÍGRAFE:




"O sinal de constrição reedita de forma abrandada a resistência de angústia sentida originariamente numa situação de receio constante de suceder alguma coisa., o que possibilita desencadear manobras de justificações." (Ana Júlia Machado)




Mais outro texto filosófico do escritor Manoel Ferreira, em que está patente a angústia, a angústia da morte, do que é efémero.
Vou tentar dizer algo, que não sei se corresponderá às expectativas do grande escritor…mas se não estiver correta sei que me dirá, e eu mais aprenderei.
A ciência que analisa o involuntário do ser, seus devaneios, para assim, conseguir deslindar a decifração de seus conflitos íntimos e um superior acto de desnudar-se para si próprio, repudiando até mesmo as inerentes concepções. Indício de constrição é a manifestação usada por Freud para nomear um mecanismo lógico que o ego coloca em execução diante de uma condição de risco, para acautelar ser subjugado pelas exaltações rebarbativas. O sinal de constrição reedita de forma abrandada a resistência de angústia sentida originariamente numa situação de receio constante de suceder alguma coisa., o que possibilita desencadear manobras de justificações. Freud igualmente discursa sobre a angústia instintiva que é o contravapor do ser sempre que se acha sem preparação e sujeito a uma condição traumática, isto é, subjugado a uma afluência de exaltações, de proveniência exterior ou interior, em que é inabilitado de avassalar. Para Freud, a angústia instintiva contrapõe-se ao sinal de angústia que é a manipulação racional para acautelar a constrição instintiva.
Para Heidegger, é o nada que nos transporta a angústia. Pois, o nada é a completa contestação da totalidade do ente. O nada se patenteia na angústia, mas não enquanto ente. O nada nos fiscaliza simultaneamente com a evasão do ente em sua plenitude. Na angústia se patenteia um recuar, esse recuar arrecada seu ímpeto inicial do nada. A nadificação não é nem uma aniquilação do ente, nem se ocasiona de uma desmentida. O inerente nada nadifica. É a prática do nada, não mental, mas emotiva, que concebe o sentimento de angústia - anuência da inerente finitude.
A anuência da inerente finitude é relevante para todos nós. Cristo cruza pelo ensaio da angústia e adopta sua finitude como indivíduo. Por isso é essencial possuir um rumo para existência. O fenecimento é, em si, uma sem expectativa para todos, até mesmo para os bichos, e aparenta só não sê-lo para os que habitam a existência com invulgar elevação e na claridade de uma enorme crença. Esta crença, intitule-se a benefício da realidade, não carece ser devota ou transcendental, com a qual se crê e exerce claramente a Divo e a vida de uma existência pós-morte.
E como dizia(Viktor E. Frankl). A existência está atestada de ocasiões para provê-la de sentido. A existência humana possui sentido constantemente e em todas as condições, e esse infindo sentido da vida igualmente abarca padecimento, morte e angústia. … nossa contenda, nossos empenhos não desperdiçam seu sentido e seriedade.
Ana Júlia Machado




Tecer um ensaio crítico tomando em mãos o paralelo entre três idéias, pensamentos, Freud, Heidegger e Viktor E. Frankl) é talento e dom nessa árdua tarefa de crítico literário e filosófico, pois que as perspectivas são de excelência diferentes, prismas outros de estruturas e eidos.
Que me era consciente a presença de Heidegger e Viktor E. Frankl neste texto filosófico /**VAZIO DO NADA - III PARTE**/ não há duvidar, mas nem imaginariamente pensava em Freud. A presença de Freud advinda da sensibilidade, percepção, intuição da crítica literária, poetisa e escritora Ana Júlia Machado, vem esclarecer e fundamentar com primor a estrutura e a intenção do texto. O ensaio da crítica amadurece o texto, dá-lhe os toques necessários e fundamentais para a compreensão da Vida.
Parabéns por esta obra-prima da crítica literária e filosófica, Ana Júlia Machado.




**VAZIO DO NADA - III PARTE**




Vazio de nada. Nada supremo, nada absoluto, nada omnipresente, nada omnisciente, nada perpétuo, nada sublime, nada de psicanálise do inferno, nada do inferno de psicanálise, nada de insolências meigas da metafísica, meiga metafísica das insolências.




Nada de vazio
Nada vazio
Nonsenses, náuseas
Duas paralelas
Só se encontram no in-finito.
Seno, co-seno,
Tangente, co-tangente.
O vazio re-colhe, a-colhe o múltiplo, momento inesquecível, inaudível de re-nascimento, sentir presente o outro que era o mistério atrás do "eu", enigma atrás dos solipsismos e alteridade do não-ser, até mesmo lenda atrás das ipseidades das in-verdades, o outro na estrada de novas contradições, dialécticas, nonsenses, saltitando de ansiedades, desesperos com a presença do efêmero, sempre na expectativa de que irá esvaecer-se, irá ser esvaecido a qualquer instante, o vazio é gozador, adora brincadeira, pois re-vela o outro para esvaecer logo, ficando a sensação de mentira no intimo, a hipocrisia tem leito de flores no recôndito, regaço da alma, tudo não passou de falsidade, farsa, aparência, e o efêmero continua tranquilo na sua trajetória para o nada.
Nada prepotente. Nada orgulhoso. Nada pomposo. O vazio esvaece-se, o outro que nele re-nasce esvaece na continuidade do efêmero, morre no encontro imprevisto com os desejos e vontades da perfeição. De outro em outro, outro dentro do outro, dentro do outro, dentro do outro, na continuidade do tempo, experiências e vivências, a perfeição se a-nuncia, re-vela-se, caminha nos campos silvestres, o verbo do perfeito regencia o eidos da plen-itude. Vácuo das esperanças, sonhos, utopias, ilusões, fantasias, quimeras, sorrelfas. Só o nada é a esperança do ser, mas depende do efêmero efemerizar o não-ser da con-ting-ência, manque-d´êtres e mauvaises-foi, carências, forclusions, mostrar a solidão plena, nada nasce, nada morre por mim, nada do mundo tem qualquer sentido, não me preenche os lapsos, a ruminância do silêncio, instante e momento de pro-jetar o nada, pro-jetar-me na estrada de pós e poeiras das buscas, o inferno da metafísica presente nas curvas, aclives, declives, mata-burros e pontes partidas. A psicanálise da metafísica nas dobras dos momentos de insegurança, indecisão, quando não se sabe se o nada está nadificando o efêmero, se o efêmero está efemerizando o nada, o vir-a-ser se tornou o ser-do não-vir, suspenso na ipsiedade do tempo, o vento passando bem distante - quiça tocasse e levasse para bem longe. Ou se se entrega ao nada, tenha fé e esperança na sua trajetória e itinerário para as sarapalhas do tempo ou se se entrega à morte do verbo, nada de nada, nada do nada.
Buraco negro. Espaço a-poético da verdade. Só nadificando o nada do Ser, o Ser se revela nada do Verbo, no nada do verbo "nada" a origem, o princípio das etern-itudes, as efemeridades iluminando e numinando a poiética elísia da vida, os efêmeros cintilando e brilhando a poiésis paradisíaca do Ser-para os caminhos do além.




Manoel Ferreira Neto
(Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2016)


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