SETA FURTIVA MARGINA O LIMIAR GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




Nada desperta serena e esplendorosa emoção que vestígios de vida isolada, sem disfarce, consigo misturar às ações e comportamentos, sentindo-me contente.


A luta vale. Consolo-me nas dificuldades presentes com a idéia de aperfeiçoar-me na arte de “deixar-me-ouvir-ser”. Angústias, tristeza, sentindo-me incapaz de dar passo à frente, são passado. As dificuldades não se relacionavam com o isolamento e solidão. Aprendi a amá-los, construir vida espiritual e humana cumprindo deveres de homem consciente.


O homem é sempre o homem. Solitário, exilado, badalando o sino de vitórias, experiências, louvores, pelas esquinas, carregando saco às costas, miséria absoluta.


Creio ser esforço vão mostrar ao homem, quem se enchafurdou no canto, não ser feito para a solidão, isolamento; ao contrário, no meio dos homens, coisas, objetos, está a alegria. Depende de que homens a referência esteja sendo indicada, pois que, desencadeadas as paixões, vêem-se acuados nos extremos da humanidade.


A parcela de inteligência que possa ter raras vezes conta, sentindo o mundo é trabalho, sobrevivência, sustentar saúde física e espiritual. Quando idéias e pensamentos atingem a espinha dorsal, mostrando aos outros emoção pela natureza, tanto delicia aos puros e inocentes, transformando em paraíso o mundo, tornam-se tormento, fantasma que o tortura.


Solitário, isolado, vejo-me cercado de montanhas. Diante, abrem-se abismos onde se precipitam torrentes formadas pelas tempestades. Desde as montanhas inacessíveis, para além do deserto pé humano algum calcou, até a extremidade do oceano desconhecido, sopra o espírito de quem cria, e rejubila-se a cada átomo de pó vivificado graças à palavra.


Há quem diga pensar, sozinho no quarto, encontro palavras para saciar a sede de conhecimento, fome de Vida. Não sei se são verdadeiras. Sei que, enchafurdado no canto, sou livre para atingir os liames do espírito e alma, tecendo sentidos e símbolos para o retorno à paz, felicidade. Do alto da lucidez, abrangendo com o olhar, para além do riacho, desde os vales férteis até as colinas, ao longe, vejo tudo germinar e frondescer.


Houvera tempo em que podia andar nu pela casa inteira. Não havia felicidade com a solidão escolhida, não significando que, inconsciente, estava a reivindicar a humanidade colada em mim, é certo; tornava-se difícil encontrar boa idéia e pensamento, não fossem dignos de transformação, mas sem sal e tempero, para se ajustarem, com perfeição, à sublimidade. O que acontecera com as idéias e pensamentos abertos à criação, à busca do mais sublime?


Às vezes o esplendor ilumina a mente do homem. Acontece a quase todos; a todos, seria inacreditável. Pode-se sentir crescendo ou se preparando, estopim ardendo em direção da dinamite, bomba. O começo desse esplendor tem a sensação de bocejo espreguiçado, logo a manhã se mostra pelo vidro da janela; relampeja no cérebro e o mundo brilha diante dos olhos.


Um homem pode ter levado a existência na sombra, treva. Os acontecimentos passam insípidos e esmaecidos. E depois, o esplendor, a tal ponto que o canto de grilo é doce aos ouvidos, relincho de cavalo, música para o coração, luz salpicada sob árvore abençoa-lhe os olhos.


Creio a importância do homem pode ser avaliada pela qualidade e quantidade de solidões, esplendores. É algo solitário, mas nos relaciona com o mundo. É a mãe de toda a criatividade e distingue cada homem de todos os outros.


A espécie humana é a única criativa e possui apenas um instrumento criativo, a mente individual e o espírito. Nada jamais foi criado por dois homens. A mente livre e inquisitiva do ser humano individual é coisa valiosa. Tenho consciência e convicção de que luto pela liberdade da mente de seguir direção que desejar, sem bússola.


Amigo, não me resta tempo para continuar a conversarmos sobre isto da solidão, do exílio que escolhi, e neles consegui fruto precioso, a liberdade de expressão. É possível ter visto palácios suntuosos, igreja coberta de ouro, bordéis desagradáveis e insustentáveis. Na verdade, se alguém se postasse sob a janela, enquanto a mulher de seus prazeres fuma e olha o ventilador a girar lentamente, e escutasse vozes baixas e decorosas, poderia confundir as identidades da sombra e luz.


Vida é espelho de paixões e coisas íntimas, instrução e educação, crítica.


Não o fosse, não acredito estaria sendo capaz de lhe escrever, dizendo de solidão, exílio, com sentimentos iluminados, grávidos de amor, compaixão. De sentir a mais sublime das emoções, o amor sincero e humilde pelo homem.


#RIODEJANEIRO#, 18 DE MAIO DE 2019#

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