ABERTO ESTÁ O MAR AO IMENSURÁVEL AZUL# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




Oh, eternidade! À busca de outros abismos de onde sibilos de vento componham cânticos em cuja lírica resplandeça verbos acordando no tempo as magias da verdade, não sendo elas ouvidas como preces, preces profundas sobre o porvir, e nem repetidas com pujança e ardor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem povoado de sentimentos os mais fervorosos, inundados de dimensões da liberdade e da entrega, isto porque parte de mim é o que ouço, mas a outra parte é o que silencio; acordando no espaço algumas coisas secretas com a inebriante imensidão.


A tensão que me corrói por dentro, tensão entre o efêmero e o eterno, seja um dia re-compensada, transformando-se na tranquilidade e na calma que mereço. Parte de mim é o que penso, mas a outra parte é um vulcão em erupção, não me sendo dada a percuciência de compreender e entender o que me reside no âmago.


Oh, eternidade! O medo da solidão me aflige, a ausência de mim, e explico isto dizendo o sonho da eternidade era a salvação de minha existência, alfim não me tornaria eterno caso não criasse o meu "eu", caso não o engajasse numa utopia, estivesse disposto a morrer por ela. Este medo da solidão se afastou de mim, o convívio comigo tornou-se suportável.


Imagino-me daqui a alguns anos, mesmo diante das contingências do vazio e do nada, olhando-me, o espelho reflita em meu rosto o que me perpassara na alma aquando traçava estas linhas, agora só reconheço tensão, tensão da fidelidade e lealdade com a síntese do pensado e sentido. Parte de mim é lembrança do que fui, enganos, erros, equívocos, remorsos, culpas, prazer, alegria, satisfação, a alma em estado de contentamento, a outra metade não tenho a mínima noção, de nada sei.


Oh, eternidade! O querer essencial que me habita os interstícios além da alma é a coisa mais primeira porque é fonte de outras concepções do ser e do tempo, é fonte de outras germinações do bem e da verdade - imaginei sempre beber água fresca na nascente, ouvindo os ecos de mim, e o meu instante de vida ser deambular por entre os canteiros de um jardim sazonado de perfumes inebriantes. Parte de mim é o que capta e sente as coisas, a outra parte é o sonho de tocar os sentimentos da vida, a vida dos sentimentos.


Aberto está o mar ao imensurável azul.


A vida indique-me uma resposta a todas as perquirições, questionamentos, mesmo que ela não saiba, não haja quem tente complicá-la. Parte de mim é platéia, assisto ao espetáculo circense, a todos os seus quadros, atenciosamente, até me imaginando a figurar no elenco dos artistas, a outra parte é balada.


Oh, eternidade! A minha loucura seja compreendida, seja perdoada, a loucura dos re-versos, in-versos, avessos... assim fora-me possível con-templar a vida, elencar pensamentos e idéias, alumbrar sonhos e esperanças. Quero seguir, continuar seguindo as trilhas que me levam a colina do ser, de onde lançarei o uivo altissonante a todos os lugares do mundo. Confio em mim e em minha sorte.


#RIODEJANEIRO#, 24 DE MAIO DE 2019#

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