Entendido como manifestação das amarguras profundas trazidas no peito, o que estava doendo muito, necessitando ser expulsa para que outra vez pudesse sorrir, sentir-se bem.


Fora o único responsável por as haver armazenado, devido às atitudes impensadas, estas que fazem verter lágrimas por as conseqüências serem árduas, bater com a cabeça na parede, quando os resultados são trágicos, horroríveis, para enfatizar, e as que cometera só podiam resultar em solidão. Se tivesse pensado antes, teria evitado sofrimentos. Haveria de assumir, uma experiência importante, de outra vez não faria mais. Não há aquele adágio: “Há males que vêm para bem”.


Não eram amarguras que armazenara no peito, as atitudes não foram impensadas, sabia o que fizera, nem mais nem menos do que havia dito, era necessário. No que tange à solidão, antes mesmo de dizer as coisas que ninguém em sã consciência desejaria ouvir, tinha relações com poucos, somente os íntimos. Não precisava de amigos. Tinha-os já – sem intimidade, não se pode dizer de amigos, no mínimo companheiro, no mínimo conhecido ou colega, no mínimo "aquilo lá".


Fora instigado a fazê-lo: caso contrário, teria ficado calado. Não importava isso. Por que delongas na explicação de o que sentia no peito não era amargura, tristeza?... – vale ressaltar, no que concerne às atitudes de dizer o sentimento e o pensamento. Seria amargura, se visto noutro ponto de vista.


Aí sim: estava ciente de este ser o estado de alma.
Ademais, as observações datavam de muito antes das atitudes. Acumulara-as. Desejava expressar de modo e estilo vivido, experienciado, tentara de inúmeras maneiras, não conseguindo, faltava algo a ser expresso, e só naquele momento havia sido possível, estava feliz com o resultado.


Considerando que há momento para tudo, tudo deve acontecer no seu devido lugar, a expressão do que sentia profundo fora feliz. Embora haja algo estranho nisto: tomando em consideração a visão tradicional da coisa, o destino do homem fora pré-determinado, como as coisas aconteceriam no seu devido lugar? O fato da pré-determinação remove o porvir de lugar. E em tomando a visão moderna como gancho: se o destino é construído pelo homem mesmo, ele é que deveria construir o momento das coisas acontecerem. Era isso o que desejava. Tantos sonhos, e por motivos vários não sendo realizados, por interferência de alguns, e não poucos como se é levado a crer, mas de uma grande maioria, chega o instante em que a bomba do tempo explode, não ficando pedra sobre pedra.


O que justificaria, explicaria, as águas que descem as serras num lugar de seu percurso se tornar esgoto da cidade, deveriam ser límpidas por todo o percurso, havendo preocupações de toda a população. A presença das águas é uma graça inimaginável, contribui para os espíritos se harmonizarem, sentirem-se livres. Quando de uma angústia ou tristeza, suficiente seria sentar-se à beira do rio, olhar as águas correndo, seguindo o seu destino, para que o estado de alegria, felicidade fosse recuperado, resgatado.


Nada poderia justificar. Não se tratava unicamente das águas. Havia muitas outras coisas a serem consideradas juntas. E a realização havia sido feliz, considerou-as em uníssono. Se estava errado, assumia o erro no tangente aos sonhos.


Ninguém era culpado ou responsável por não seguirem as trilhas da realização. Faltava-lhe lutar, persistir, insistir. Nada é fácil de ser alcançado. Transferira as dores e sofrimentos para os outros, responsabilizara-os, culpara-os. Interferiram.


Sentia-se cansado, fatigado. Por mais lutasse, contemplasse as coisas com cuidado e esclarecimento, não conseguia sentir-se realizado, havia aprendido a valorizar-se, conhecia as capacidades, dons que lhe habitavam no íntimo, tinha noção e consciência de seus valores, de suas virtudes.


Se mencionara as águas que nascem límpidas na fonte, começam a descer as serras límpidas, referia-se com categoria ao nascimento dos sonhos, o tempo que os desejos e vontades vão se anunciando, revelando-se, as dores e sofrimentos devido a outras situações e circunstâncias, são eles que as redimem, tornam possíveis a alegria, e, de repente, o fato de num lugar devido deixarem de ser límpidas, se misturarem aos dejectos da população, significava unicamente os acontecimentos indecorosos que impedem de os sonhos serem realizados.


Era isso o que dissera, sendo entendido como amarguras que havia armazenado no peito, em consequência das atitudes impensadas. Não eram amarguras de quem se sente sozinho, as pessoas haverem se afastado. Eram as dores que lhe habitavam profundamente por não conseguir ver com clareza as coisas realizadas.


Nada mais. Respeitava essa opinião, ponto de vista, talvez estivesse com razão, não sendo quem desejava assumir – comum encontrar justificações e explicações para o que não se deseja assumir, não tem consciência de sua presença. Se um outro interpretasse, analisasse, não pensaria desse modo, não veria amarguras armazenadas por consequência de atitudes impensadas. Veria, por exemplo, uma declaração profunda de sentimentos de amor verdadeiros, o desejo de assistir de camarote o bem, a felicidade, a alegria sendo revelações de vida. As palavras não significavam outra coisa senão a confissão de amor, declaração de carinho.


Ah, até algo incompreensível esse nível de discussão, pois que cada pessoa iria interpretar de modos diferentes, não deixando de terem razão em alguns níveis, de terem sido imbecis e idiotas em se tratando de certos dizeres e considerações.


O importante mesmo é que estavam ditos os sentimentos e pensamentos. Sentia-se pronto para outras coisas, vivências, observações. Desejara ser polêmico, disso não haja dúvida. Desejara rasgar os verbos, não importando se estaria sendo agressivo. A agressividade não houvera sido mencionada, não fora clara, se houvera de algum modo, se houvesse, entraria no jogo das considerações.
Entendido como amarguras, dores, sofrimentos. Dissera-lhe alguém há muitos anos, quase vinte e cinco anos, que, se alguém não quer ser contraditado, nada lhe resta senão manter-se em silêncio, não pronunciar uma única palavra. Estava ali a confirmação do ouvido.


Dissera. Agora, a interpretações seriam inúmeras. Algo podia dizer com categoria e sapiência: sentia-se outro após, estava alegre, satisfeito. Aliás, muito bom mesmo o dito ser discutido por todos, quantos mais se unissem para a discussão, apontando esse e aquele detalhe, pormenor, se sentiria mais realizado. Dissera algo capaz de suscitar divergências, polêmicas: um modo e estilo de repensar as atitudes e ações, de buscar outros horizontes, conhecer outras realidades.


#RIODEJANEIRO#, 19 DE MAIO DE 2019#

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