#GUSTAÇÃO DOCE-AMARGA DA INSPIRAÇÃO E INTUIÇÃO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




Posso amá-las íntimo, profundo, senti-las no verbo de meu ser, na metafísica de meus projectos, na semântica de utopias e fantasias, na linguística de esperanças e medos, nas concordâncias nominais das inseguranças. Amo-as solene, incondicional, ouço-lhes as vozes a sussurrarem entrega, a algazarrarem o aconchego, a murmurarem o afago.


Lâminas de luzes e águas a desenharem no in-fin-itivo da alma a felicidade, as alegrias, desejos e sonhos da plen-itude, da eter-itude que caricatura as fumaças e neves do tempo.
Vozes de silêncio a cochicharem-me a sabedoria do tempo e do vento.


Rouxinóis de símbolos eternos trinam o prazer e o gozo da verdade além con-tingências, além buscas e volos do eterno divino. Saboreio-as em mim dentro, sabor de maçã, sabor de uva, sabor de coquetel de abacate, maracujá que serena as tensões de saber o que liberta e sensibiliza, o que escraviza e insensibiliza, o que aliena e bestifica.


Simplesmente nos teus olhos por instantes mergulhei. Intima, profunda a visão da plen-itude na íris de suas verdades, por vezes in-verdades ornamentadas de estéticas, de beleza, que é mister arrebicar de sonhos e fantasias, de outras formas e metáforas.


Música cessa, as luzes se apagam, lá fora densa cortina de orvalho.


Há tantos grandes pensamentos, ideias, ideais que não obram mais do que um fole: produzem vento e tornam-lhe mais vazio. E o grande segredo, sigilo são a inusitada diferença que enviesa as ipseidades e facticidades, tornando-as outros objetos de con-templ-oração, con-templ-ação.


Habituar-me a determinadas realidades, não exequíveis a sojornar sob inalterável insensibilidade. Não amargar na polpa o tormento dos factos, a gustação doce-amarga da inspiração e intuição, ardência da malagueta das realidades e fantasias do nada. Factos desmesurados. Pretendo a claridade, a chama e sua abrupta ablepsia. Que persista um instante ou a existência integra. Sem me economizar de mim próprio. Sem me aclimatar com a usança. Sem me temporalizar com as pujanças das con-tingências. Sem que a fogosidade seja trivial, impudica, desejada. Arrogada ou mascarada, débil, ilimitada. Elejo a mágoa da alvura na tina.


Decido eleger a pigmentação veemente sem agonia. Nente de hinos furtivos, de des-piedade. A mágoa re-signada do retiro. Que todos vislumbrem que elejo a luminosidade, sob quaisquer prismas da visão e da percepção, quer seja a do lince ou a minha que por momentos apenas remanesce-me eleger. Entre a obscuridade e as trevas. Que me abriga, de mim inerente e dos distintos ausente. Que me estrangula, constringe, alicia. No espaço pardacento, o qual incumbo, exalo ao meio vítreo, cintilante. Esfarrapado de quebranto. Amontoando os fragmentos, ainda intactos, uma realidade somente. Perambulo de indizíveis resplendores, que a lua ocorre aclarar.


Criatura ou facto. Ainda não assimilo.


Plen-itude de um novo re-nascer, re-fazer horizontes e uni-versos, re-construir perspectivas e ângulos até que sinta paixão e ciúmes da etern-itude das palavras, inveja e fissura da efemer-itude das metáforas e metafísicas, elas que são o maior poder da vida, de todas as suas dimensões.


Luzes testemunham o alvorecer, felizes num quase adormecer.


Enlaçamos nossos espíritos, tornamo-nos letras de liberdade, quiçá até de libertinagem. Por que não a libertinagem poética a re-construir versos e estrofes do nada vazio?


Somos verso-uno, somos sons, ritmos, melodias de silêncio.


#RIODEJANEIRO#, 16 DE MAIO DE 2019#

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