ITINERÁRIO QUE O RIO CRIA E RECRIA NO CURSO DAS ÁGUAS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




“Re-colher do rio sem margens, sem pressa, o espírito das águas passando de por baixo das pontes” – as palavras que nascem sob o signo dos desejos da verdade e espiritualidade, em seus inter-ditos, além-ditos, ditos a nu e despido, a incólume presença do trans-cendente que lhes habita o ser, a sensibilidade do sonho do verbo, comungadas a intuição e percepção das recônditas fantasias do espiritual e imanente, onde a numinosidade dos ideais se a-nunciam, onde os raios de sol se projetam e incidem-se além dos infinitos horizontes do uni-verso, onde a transparência e nitidez do brilho da Estrelar Polar se projeta aos longínquos espaços do mundo, aquém da finitude das imagens e panoramas da natureza, cá e acolá das simples idéias do quotidiano e suas nuanças dos fatos e acontecimentos, dialéticas e contradições, aqui e ali das relações com as coisas, objetos, a-nunciam dos versos e verbos o não-baldio no terreno, no itinerário que o rio cria e re-cria no curso de suas águas, no projeto de suas percursancias de águas que seguem o ritmo do tempo, na segura margem na grama suave dos versos em que fico, das estrofes e musicalidades em que permaneço, das rimas em des-equilíbrio em que me assento, nem temo o influxo inúmero futuro dos tempos e do olvido; que a mente, quando, fixa, em si con-templa os re-flexos do mundo, à arte o mundo cria, à linguagem e estilo a vida re-cria, que não a mente. Gotas de orvalho no nascer do dia pousa a grama suave e serenamente, olhando e observando percucientemente à distância o espetáculo das águas, sob a influência do vento de início de inverno, “o inverno chegou lindo e esplendoroso”, deslumbra os verbos de suas sementes, tolda a lírica de seus esplendores e magnificências, turva a vista de seus símbolos e sentidos, mas as chamas ardentes dos desejos de expressão das sementes do verbo concebam a pureza e divindade do ser que ilumina e inspira a língua a movimentar-se no silvestre dos campos, a luz do ser perene se faça presente, os raios do espírito iluminem as cavernas espalhadas nas montanhas e serras, os diálogos em reticências e cortados por inseguranças e medos, as conversas em fluxos dos medos e relutâncias, a vida se mostre em todas as suas dimensões de verdade nas palavras, sentimentos e emoções, consciência e espírito, no corpo de carne e ossos, na memória secular e milenar das querências não da verdade absoluta, o que é absoluto trava os movimentos, mas da verdade que prossiga e continue os seus passos ao longo do rio sem margens, ideais, sonhos e utopias sendo traçados de gotas nas linhas do ser em plena andança rumo ao broto que as sementes do verbo se fizeram reais e verdadeiras.


“Re-criar as caminhancias desde o passado, na roda-vida do presente, no cata-vento dos milênios e séculos, com as águas que vão se limpando, transparecendo-se, sendo límpidas, ao longo da jornada de gotas a gotas das continuidades” – não há intenções quaisquer de, re-criando as caminhancias desde o passado, o passado ser in totum olvidado, seja nada por sempre, isto é realmente impossível, mas conhecer com transparência os vestígios das realidades vividas, uma in-vestigação detalhada, mergulho profundo no inconsciente dos problemas enfrentados, angústias e tristezas, dores e sofrimentos, ser outro, olhar-me em quem sou, con-templar o verbo do “ser-eu”, o sou do “eu” de ser verbo. Tudo quanto os homens vivemos, vive o instante em que vivemos, melhor vida é a vida que dura na re-criação do passado, é a vida que se movimenta no presente, projetando-se no futuro, deixando à só memória um branco som de desejos, nuvem azul de vontades, branca de buscas, de conhecimentos que transformam a realidade, que id-ent-ifiquem as verdades – não ec-siste um eu, mas vários eus que me habitam, não ec-siste uma verdade de mim, do meu eu, mas inúmeras verdades que me residem intimamente, o grande desafio é torná-las conscientes, recriá-las e projetá-las, fazer delas alicerce para a transcendência, a caminho da liberdade e autenticidade – que me fazem e des-fazem na continuidade da vida. Por mais que a re-criação das caminhancias desde o passado inda estejam bem obscuras à luz da sensibilidade e da razão, quem sabe sejam as palavras que não se comungam com as idéias, estão bem longe de expressá-las, se isto não é verdade, acredito que não, impiamente até, é a agilidade com elas que me falta, há uma ausência bem presente de como dizer, de como expressar, de como re-velar o que nos recônditos da alma vai, mas posso afiançar que em mim habita os desejos extasiantes de conseguir, através das vivências e experiências elucidar e esclarecer a essência das razões in-versas nas estrofes dos versos da semente do verbo, na musicalidade da lírica no amor de sonhar a plen-itude, o pleno, o eterno e a eternidade, o finito e a finitude, a morte na semente do verbo, no verbo da semente, e o verbo da semente dá luz à VIDA, a semente da VIDA dá luz ao Verbo eterno do Ser, Espiritualidade concebe as sementes da Verdade.


#RIODEJANEIRO#, 20 DE MAIO DE 2019#

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