ESCRUTÍNIO DE HIPOCRISIAS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA



Até gostaria de apresentar aos eminentíssimos senhores e senhoras as minhas sinceras e puras desculpas, e por que não também o perdão, por estar incomodando sobremaneira as vossas atenções, as inteligências e pontos de vista os mais singelos possíveis, cientistas e intelectuais, a fina casta da humanidade e do indivíduo, mas a intenção é de incentivar a águia a alçar o seu vôo, e assim surgem as dúvidas e desconfianças de que está sendo desumanamente agredido e seduzido por falsas promessas de um estilo de vida que não se adaptaria de modo algum, e sem dúvida seria até um perjúrio à moral que tão sincera e cuidadosamente construiu em sua existência. Surge alguém com umas idéias ultrapassadas e esquisitas, e de repente está enfiando uma faca na sua vida particular e íntima. Muito esquisito isto de alguém conseguir assim entrar na vida e até de improviso, sem mandar uma correspondência qualquer, noticiando sua conduta e postura diante de valores que não se coloca sobre a mesa nem da sala de estar, à vista para todos provarem de suas delícias e venenos.

Se fosse eu me incomodar com tais palavras indecorosas e com as interpretações que se edificam ao longo dos dedos de prosa nalguma taberna de estrada, chão de terra, não teria qualquer sossego, pois que algo não posso deixar em absoluto de citar para um esclarecimento mais sutil e enganoso, apresentando duas faces nítidas aos olhos de quem não deseja ver o que quer que seja, e nenhuma em hipótese alguma verdadeira, se se observar um pouco mais a fundo. Em questão o ritmo, melodia, acorde, musicalidade da palavra só são germinados no som dos sentidos, das inspirações, silêncio dos mistérios do ser e da representação, o rumor do mar nas ruas, nos calçadões, sentimentos que prevalecem do equívoco e tentam a longa jornada de pensar e sentir, as marés revoltosas sarapalhando as gotículas dágua no ar, flanam livres, o sol crepuscular alumiando as gotículas, isso é sentimento sentido no sentir, não simplesmente desaparecem na curva do tempo, abrem o verbo de ser, cresce como fogo, como orvalho entre dedos, destinam, fazem, como o sentir o cheiro da maresia do mar, sonolentas inda, se transformam no nada, no vazio, e são eles o húmus, o verbo da utopia do ser, a-colhem e re-colhem a liberdade e a responsabilidade, a consciência-estética-ética na dialéctica da existência dialética da arte e da ec-sistência, acolhe o múltiplo, a visão-de-mundo se amplia.  

Quem assume este caminho, assume o seu caos, vazio, entregando-se aos instintos primitivos, quando manda às favas toda moral e ética, não desejando eu dizer com isto que dessa maneira, por longo ou curto prazo, encontrará uma moral e ética que atenda de uma vez por todas à humanidade, e isto está mais do que legível e sensível para os humanos; um sistema de vida melhor, mais verdadeiro,  mais elevado. Pode e muito engenhosamente vir a seguir seus instintos sem nenhum freio, pode deixar-se ir ao deus-dará, pode tornar-se um louco ou um gênio. Se me questionam acerca destas palavras que registro nesta folha de papel, digo que não sou eu quem diz, é o escrito. Olham-me e pensam estar eu desejando com todas as forças criar uma polêmica, o autor não saber o que escreveu, isto é um absurdo. Há quem diga que não tenho a coragem de confirmar, e estão bem enganados pois se houvesse algo a ser dito não me serviria de uma folha de papel. Dirigir-me-ia ao eminentíssimo senhor e diria tão simples quanto tomar um suco de uma fruta bem deliciosa, de preferência neste instante suco de graviola, veio-me de imediato e isto é até interessante não deixar passar, mas o suco de maracujá, embora, como nunca disse, amoleço-me inteiro,  a pressão cai, acalma o vulcão em erupção...

A polêmica foi alevantada e há dizeres de todas as culturas e observações, mas com o tempo e diante de circunstâncias outras, se lerem novamente o texto perceberão que a interpretação continua sendo bem ferina e perspicaz.
Apresento também aos professores os cumprimentos bem sensíveis e gentis, mas andam se esquecendo de salientar bem que um texto tem subjetividade, aliás muito mais elevada que a do autor que o criou. Aí a interpretação nunca se deleita à soleira de um casebre aproximando a tarde e a distância que se abre no chão de hipocrisias e canalhices.

Não me referindo especificamente aos professores ainda, mas surgiu à mente algo bem peculiar no que diz respeito à interpretação: é que o melhor é rotular-me um escritor maldito como tantos aí, só me lembrando de dois Nietzsche, Dostoievski. Torno-me assim um escritor maldito e toda as obras serão vistas a partir dessa opinião de baixo calão, mas é assim que os malditos nos tornamos universais, em qualquer tempo seremos lidos e haverá investigações.

Não sei de onde com certeza me vem a crença e a petulância, ingênuas, de que, haja o que houver, o escritor maldito cria situações indecorosas e desagradáveis para si próprio, não ocorrerá o perigo de ser desmascarado por alguém de inteligência muitíssimo perspicaz para entrar vez por todas. Se me levarem a um tribunal por causa de algo dito, suspeitado, insinuado, apenas apresentarei isto, "O texto, meretíssimo, tem sua subjetividade, mas de qualquer modo estou apresentando a todos as críticas que faço a mim próprio; entrar em polêmicas por disses-que-me-disses é atitude de salaud, um indvíduo sem condutas e posturas éticas e morais, desde que não haja ofensa devido a não sei quê moléstia psíquica, aí a serpente exala o seu veneno, erudito e diplomático. Dirijo-me a mim. Se é crime dirigir-se a si próprio, a coisa realmente irá se tornar bem interessante."

Se me questionam tanto assim por causa de títulos carregados de cinismos e sarcasmos, devo apresentar a todos também as verdadeiras escusas, mas nestes textos apresento a entrada dos homens em seus inconscientes como uma auto-entrega e um encontro de desejos e vontades sublimes e espirituais, entrega esta em si melhor do que a fuga destas dimensões do homem e do indivíduo.

Às vezes, tenho a voluptuosidade de rasgar os verbos todos, dizendo que não sei ao certo se o inconsciente não acabara mastigando e engolindo aquele que se entrega ao escrutínio de hipocrisias, a entrega simplesmente será sublime, e não sei também ao certo se quem se entregou a ele será suficientemente intuitivo e perceptivo para sustentar seus pontos de vista e opiniões verdadeiros diante de uma existência e mundo o mais estranho e esquisito possível.
      
 Quem me ouve, tenho a certeza de que não corre ao dicionário e olha o significado da palavra, assim perderia de ouvir o artigo, mas se o fizesse depois, observaria que o significado de escrutínio é “exame atento, minucioso”. Analiso atentamente e minuciosamente como e em que estilo pode-se ser hipócrita com o modo de apresentar as escusas e perdões. Em verdade, o cinismo está bem aí, sou eu o hipócrita, pois estas palavras saem bem do meu interior. E ninguém para apresentar o seu veredicto de que em meus escritos, embora falando de mim próprio, falo de todos os homens e de toda a humanidade. E se houver um ouvido bem atento verá que para conservar o cinismo e a hipocrisia apresento uma visão psicológica do caráter e personalidade.

Se assim não o fosse, com estas explicações que creio absurdas, e são, despeço-me, agradecendo-vos a atenção verdadeira e sincera. Dirigi-me a alguém devido a comentário sendo interpretado como ofensa e desrespeito, declino nomes? Não. Pode mui bien ser criação para sustentar uma idéia, pensamento, fundamentar-lhe. Do lado da montanha, nuvens brancas e azuis maciças avolumam-se, pequenos pontos brancos movem-se no mar, do mar o apelo vem, o apelo às in-vestig-ações, o calçadão infinito vai além do mar? A hipocrisia sarapalhada por todos os sítios, lugares vai além do fogo que a incinera, o sarcasmo? Exame minucioso, atento, perspicaz. A Liberdade do Verbo de Ser, "A hipocrisia  não tem um leito de rosas no regaço de minha alma", lembrando esta fala de Machado de Assis.    

#riodejaneiro#, 29 de maio de 2019#

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