**INDIVÍDUO E HUMANIDADE: LIBERDADE** - Manoel Ferreira


Ao longo da História da Filosofia e da Literatura, filósofos e escritores buscaram definir, conceituar a Liberdade. Diante das circunstâncias do tempo nas suas tangências sociais, políticas, religiosas, individuais, conceituaram-lhe com excelência e veemência, são conceitos que nos levam a outros questionamentos, indagações, perguntas, que nos proporcionam buscas mais profundas e abismáticas, serão sempre sementes e húmus para a jornada da Vida e da Existência.
No meu ponto de vista, a Liberdade do Ser é a raiz da castanheira da Vida nas suas situações, circunstâncias, no decurso e percurso da História, na continuidade do Tempo e suas dialéticas. A Liberdade do Ser é a identidade do indivíduo, a sua consciência dos problemas contingenciais, dores e sofrimentos, dúvidas e incertezas, inseguranças e medos, e a busca, esperança de suprassumir-lhes, superar-lhes com a entrega absoluta aos verbos dos desejos, vontades, sonhos da Vida. Caminho árduo e contundente, pois exige sobremaneira e sobremodo o mergulho na nossa inconsciência, assumirmos as nossas condições de limite, de gratuidades, arbitrariedades, má-fé, fugas, faltas, falhas, forclusions, nossa natureza humana plena de negatividades. Não um mergulho de passeio e deleite pela profundidade da alma, seus mistérios e enigmas, mas um mergulho com a verdade dos ideais de compl-etude, a determinação insolente e meiga de outros horizontes e uni-versos, nova prosa e nova poesia. Angustia, deprime, desola quando nos deparamos com as facticidades, dói profundamente as des-cobertas que fazemos, mas é necessário transcender, sonhar com o que trans-eleva as contingências, ter esperanças no que há-de vir, ad-vir, sempre re-criando, criando, inventando outras sendas, outras veredas, outros caminhos do campo. Sermos quem somos, embora as poeiras das estradas, apesar dos limites, fronteiras, obstáculos, assumindo a nossa fragilidade, nossas fraquezas, viver de quem somos.
O olhar do olhos sempre voltados para a consciência de que não nos tornamos quem somos para o nosso deleite, prazer, gozo, climax, não nos tornamos livres para satisfazer o ego, mas para servir ao mundo, aos homens, à humanidade, despertar-lhes para a existência de outro mundo diferente do que se está vivendo. A liberdade é o nós: indivíduo e humanidade.
Há pouco tempo, recebi mensagem do Amigo Pedro M. Araújo pedindo-me que o aceitasse como seu discipulo, ensinar-lhe a escrever como escrevo. O que responder diante de pedido tão proeminente? Não se ensina ninguém a escrever, a escrita advém da consciência das contingências, sonhos e esperanças do Verbo do Ser. Respondi-lhe que vivesse suas circunstâncias, situações, dores e sofrimentos, e procurasse expressar isto na sua escrita, sonhasse a sua Liberdade, a sua Consciência, tivesse esperança de viver a si mesmo, viver de si próprio.
Faltam apenas seis dias para entrar de cabeça na Terceira Idade, sessenta anos. E vivo buscando a Liberdade, o Amor, a Consciência de quem sou, do que represento no mundo. Experiências e vivências adquiri-as ao longo destas seis décadas de existência, cinco décadas e meia de pena na mão, buscando traçar outros horizontes, fazer-me, só o Fazer responde pela vida, Fazer na continuidade do Tempo, das facticidades e das esperanças. Sinto que estou iniciando a minha escrita, agora sei o que fiz de mim, o que faço de mim, o que posso ainda viver e fazer com as letras, com a vida.
A Liberdade é o Verbo do Ser que con-duz aos caminhos do "Nós", indivíduo e humanidade.



Manoel Ferreira Neto.
(12 de julho de 2016)


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