**CALDEIRÃO DE CHAMAS** - Manoel Ferreira


As minhas verdades não são as verdades do outro. O outro pode com percuciência provar que são in-verdades, mentiras, estratégias para a defesa de todas as mazelas, viperinidades. Não é o fim do mundo, se tenho consciência das estratégias, tripúdios. É simplesmente o início: mostro o "caroço de mim" entrelaçado às críticas e considerações intempestivas. É preciso ter coragem para ficar nu diante de todas as coisas, quando isto não é acinte ao pudor, esconde alguma intenção escusa. Assim, como dizia Sartre com toda a supremacia dos valores: "O inferno são os outros", "L´infer c´est les autres". Sejam os outros o inferno, sou o caldeirão de chamas onde irão dançar a polka com todas as performances.
Dostoiévski dizia que "Tudo é permitido neste mundo". A grande e inestimável permissividade no mundo é a concorrência das verdades, dos valores, das virtudes. Se demonstro que a História se repete não com os meus fatos, surge alguém dizendo não se tratarem de fatos, isto são cositas do pretérito, hoje são situações, circunstâncias, a História não se repete porque as situações e circunstâncias não são as mesmas, revestiu-se de outras características. É a última palavra, quem o disse suprassumiu-me, superou-me, sentou-se a cavalo na cadeira do Olimpo. É de se questionar, indagar, perquirir, perguntar se está ele de fato e direito interessado em retirar a História do prático-inerte, dar-lhe movimentos, fazê-la re-criar-se, inventar-se, refazer-se ao longo das necessidades humanas no tempo, se a verborréia intelectual não passa apenas de um desejo de desbancar-me, ser objeto de faíscas luminantes e luminosas nos olhos do outro, o outro assinar com letra gótica o seu sucesso, fama, poder em relação a mim. Mas a História, digam o que disserem em contrário, em contra-partida, é justa e implacável: diz que as minhas verdades são húmus para outros questionamentos, para outras buscas, porque considerei a História um "círculo", relógio cujo ponteiro das horas começa no 12 e volta ao 12, e não quem quer transcender o tempo sem ter o ponteiro que o marque, sem ter a bússola que mostre os pontos cardeais.
Você que está lendo estas palavras deve estar rindo aos quiçás, diante de tantas ironias, sarcasmos, cinismos, mas pense com os seus botões do "blaser", o poder é temporal, a fama é efêmera, o que move a História não são concorrências e fissuras de importância, e sim o pensá-la com os dados da busca e dos desejos das mudanças e transformações, com a dialética da verdade e da in-verdade. Guimarães Rosa jamais concorreu com Machado de Assis, Graciliano Ramos nunca concorreu com Jorge Amado, não estavam interessados em poder, fama, sucesso, mas no questionamento do destino dos homens e da humanidade.



Manoel Ferreira Neto.
(Rio de Janeiro, 12 de julho de 2016)


Comentários