*ÂMAGOS E INTERSTÍCIOS DAS PALAVRAS** - Manoel Ferreira


Silêncio nas abóbadas do In-finito
Nada de sons do uni-verso, de vozes do além
Silêncio nas ad-jacências do tempo
Nada de ventos sibilando e soprando as poeiras de metafísicas
Silêncio nas linguísticas, semânticas, estilísticas das letras
Nada de símbolos, metáforas, signos a iluminarem os inter-ditos
Silêncio nos vales, campos, pampas
Nada de pássaros trinando no alvorecer
Glorificando a perfeição da natureza
Sussurros de agonias
Murmúrios de desesperos
Gemidos de solidão, falhas, carências, faltas
Olhares vazios dirigidos aos confins dos tempos pretéritos
Sentimentos introspectivos buscando recantos onde isolarem-se,
Exilarem-se, recuperarem idílios, fantasias, quimeras da vida
Silêncio de sentidos nos âmagos e interstícios das palavras
Nada de in-verdades, verdades, nada de re-pres-ent-ações
Po-éticas do sublime que orvalha as contingências
De dores, sofrimentos, angústias, tristezas, desolações
De imaginações fertéis da felicidade, alegria, prazer, gozo
Poiéticas da leveza do ser que serena as imperfeições
Po-emáticas de ilusões do eterno e imortal
Que despetalam as flores dos verbos, regenciando volos
Que exalam os perfumes dos sonhos, trans-itivando as travessias
Emoções circunspectas re-criando sensações do efêmero
Silêncio nos auspícios noctívagos da colina
Nada de lobos uivando sob o romantismo da lua e estrelas
A liberdade de projetar às arribas dos horizontes
Sarapalhados e salpicados de constelações
Utopias do destino, utopias da compl-etude, utopias da plen-itude,
Refazendo o espírito das esperanças que re-colhem, a-colhem
Das ondas marítimas que percorrem as águas
As gotículas dos "its" lispectorianos, águas vivas
E na praia das ilhas espalham-se febundando o espaço
Onde as gaivotas saciam a fome antes do vôo por outros sítios
Silêncio do "eu" atrás do outro que precede a verdade do Ser
Nada de travessias de nonadas a prenunciarem as luzes
Esplendidas e res-plendidas, trans-plendidas no eterno do tempo
Nada de pontes partidas de mentiras a pre-moldarem
Emoldurarem o semblante, fisionomia, face, rosto
Do que trans-ludica e trans-erotiza os interstícios da alma
Cogitando, re-fletindo, meditando aclives, declives, curvas
Por onde os efêmeros e efemer-idades do in-audito perpassam
Silêncio de emoções
Silêncio de palavras
Silêncio de sentimentos
Silêncio de utopias
Silêncio de esperanças
Silêncio de sonhos
Silêncio de silêncios
Diante do túmulo de um homem chamado J. G. Vital



Manoel Ferreira Neto
(Rio de Janeiro, 28 de julho de 2016)


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