CARTA ABERTA À MINHA "SECRETÁRIA-POETISA" ANINHA JÚLIA MACHADO - Manoel Ferreira


Bom dia!



Estive há poucos minutos lendo de sua autoria o texto "Reflexão", admirando-me sobremodo como a minha obra, que tão bem você conhece, comenta esplendorosamente, tem sido objeto de suas reflexões e meditações profundas, estar contribuindo para mudanças e metamorfoses em todos os níveis con-tingentes e transcendentes, embora um pouco já soubesse disso.
Clarice Lispector diz que o importante não é entender as coisas, sim vivê-las intensamente. Literatura, Poesia não são objetos de deleite, passatempo, diversão, são objetos profundos para a vida desde que con-sintamos desaprender o já aprendido e aprender novas lições, crescer, amadurecer, ser quem somos. Toda a obra escrita e produzida por mim é profunda, leva mesmo o leitor aos questionamentos da vida, comportamentos, atitudes, ações, condutas éticas e morais, postura diante do estar-sendo no mundo, a responsabilidade com a busca do Ser, com os homens. Interpretá-la, analisá-la percucientemente ajuda sobremodo nas reflexões individuais, traçar o destino próprio, tecer a vida com o que advém, mas viver os próprios questionamentos é condição sine qua non, criar e inventar o novo homem, a nova pessoa. Mas também é necessário que a pessoa tenha o bom-senso de saber questionar, buscar soluções para os seus problemas, porque, caso contrário, perder-se-á com facilidade, devido ao nível que a minha obra apresenta.
No inter-dito de seu texto "Reflexão" tudo isso que estou dizendo está nítido e transparente, nele a obra está presente, presentifica-se. Mergulhar no dito de seu texto significa mergulhar nos mais profundos questionamentos de minha obra, nossas obras se entre-cruzam, se completam, se comungam e se confundem, e não há como nos separar, afastar-me de você, afastá-la de mim. É um texto para constantes reflexões, deixando a obra nos perpassar em todos os níveis, mexer conosco.
Diante de todo o texto, escolho apenas uma passagem para este comentário, para esta missiva estou a enviar-lhe - daria uma tese, fosse comentá-lo ipsis litteris, levaria alguns anos. Mas o que escolho é a pedra de toque, diria a chave mestra de leitura, qual seja: "Apreendi que os vocábulos só possuem força se forem proferidos com sentir e possuir sensibilidade do distinto para os decifrar". Escrever não é registrar palavras numa página branca de papel, criar frases e palavras, produzir uma estrutura - num texto técnico, nível científico sim -, mostrar-nos, identificarmo-nos, revelarmo-nos, a-nunciarmo-nos. Para isto, o mergulho na alma, arrancarmo-nos de lá se faz mister. Significa que devemos nos consentir as nossas verdades sejam quais forem, significa escrevermos com a alma, diria consentirmos que a alma nos escreva. Sem isto não há literatura, não há poesia, não há a arte da palavra. Apenas garatuja sem qualquer valor. Alguém até comentou o seu texto no post, dizendo que sentiu intensamente as suas palavras.
Se neste texto "Reflexões" o inter-dito são as reflexões que apresento na minha obra - aliás, você mesma diz que veio a lume após comentar um texto meu -, significa que, escrevendo com a alma, consentindo a alma escrever-me, ficou-lhe na memória, no seu ser, os questionamentos, abriu os seus, abriu a sua inconsciência, abriu os cofres de seu ser, transcendendo, trans-elevando, levando você a buscar profundamente a sua vida, o seu ser. São questionamentos para a vida inteira, a cada passo se a-nunciarão respostas, se a-nunciarão soluções, mas devendo ser objeto de investigação a todo instante, não permitindo cristalizações.
Comungamo-nos, unimo-nos na nossa obra, portanto seguimos a nossa jornada juntos, os leitores tendo de nos ler com percuciência e saberem questionar, desejar novos horizontes de suas vidas, o ser novo. Somos hoje Uno e Verso, após quase um ano de nossas relações de amigos e de intelectuais, escritores e poetas.
Isto é tudo o que o escritor deseja, espera de seus leitores: questionem, reflitam a partir de sua obra. Fiquei muito feliz com o seu texto, com a obra haver despertado em você tantos questionamentos profundos, e sendo você uma pessoa sensível demais, com efeito, tais questionamentos irão transformar sua vida, você tornar-se outra mulher, uma mulher nova, inovada, renovada, renascida.
Estar com você, estar em você, estar ao seu lado, para mim, é uma dádiva, pois que vou aprendendo novas lições, vou refazendo a vida, vou nascendo, vou crescendo, vou amadurecendo.
Muito obrigado por tudo.



Um grande abraço.



Manoel Ferreira
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REFLEXÃO...
(Ana Júlia Machado)



Granjeei que para ser bem-aventurada não chega ambicionar...
Enxerguei que o tempo afinal não é terapêutico….
Que a dor não vence…só vence o pesar fugaz
Que o embuste não derruba, mas corrói
Que o hodiernamente não é imagem de outrora...
Apreendi que logramos prantear sem expelir pingos, o que dói a dobrar
Que os autênticos dilectos não ficam, muitos são roubados pela injustiça…há quem chame justiça…eu designo, roubo….
Que o sofrimento não fortifica, revolta….
Que triunfar nem sempre eleva...porque o mundo não é dos humildes vitoriosos
Percebi que idealizar é mascarar,….porque quem alcança o que pretende, não carece fantasiar…..
Que a pulcritude não acha-se no que contemplamos mas naquilo que experimentamos ao avistarmos…,o que me interessa contemplar uma flor, se não gostar da natureza….
Que a estima não acha-se quando se pretende...mas sim na expugnação do quotidiano
Apreendi que os vocábulos só possuem força se forem proferidos com sentir e possuir sensibilidade do distinto para os decifrar
Que executar é superior ao dizer…palavras leva-as o vento
Que o olhar não engana, os olhos são o caleidoscópio da nossa alma
Que existir é instruir-se com os equívocos...quem não erra passa a vida a ser um pateta….um imbecil para a sociedade…mas, que igualmente existe os que erram propositadamente para lesar o próximo…
Percebi que nem tudo depende da vontade...porque a lei da selvajaria existe…



Ana Júlia Machado


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