**CONJUGADO DE VERBOS DO VENTO** - Manoel Ferreira


Meu coração permanece o mesmo
Minha alma começa a verter lágrimas
A luz branca de sonhos pretéritos incide nos verbos da solidão
Pensamentos introspectivos, circunspectos fluem livres
Habitando-lhes os interstícios recônditos de futurais projetos
Palavras dis-persas, ad-versas, contro-versas
Fantasiando êxtases, volúpias, prazeres de outras fin-itivas
Linguísticas, semânticas, estilísticas, imagísticas
Over and over again
O coração permanece o mesmo
Minha alma começa a verter lágrimas
Clamo o nome de sentimentos inauditos, emoções desconhecidas
Que des-velem, des-vendam a inconsciência do Eros
Eros-trato com singela acuidade as a-nunciações
Do que trans-cende o instante-limite dos éritos,
Con-tingências do que me fora, do que me é
Eros-trato com terna dedicação as re-velações
Do que trans-eleva as facticidades do efêmero
Reivindico a id-{ent}-idade dos idílios ininteligíveis
Nos rituais místicos do eterno que templa de efígies misteriosas
As lâminas de raios numinosos que preconcebem o além
Silencio-me, silencio as regências das idéias
Nada digo, nada expresso, jogo com palavras
O que me falha, o que me falta
Over and over agaian
O coração permanece o mesmo
Minha alma começa a verter lágrimas
Volúveis percepções de múltiplas faces perpassando o âmago
Efêmeras intuições de características subjetivas do absoluto
Que re-flete a in-verdade re-vestida de iríasis pretéritas do eterno
Elencando miríades de esperanças para crochetear o tempo
Com os élans dos solitários verbos defectivos
Fugazes inspirações de imagos espirituais
Solsticiando de sons ritmados, melodiados, os pálidos crepúsculos
De nuvens azuis deslizando no espaço celestial,
Nuvens brancas de imagens inconcebíveis, emolduradas
No in-fin-itivo universal das fin-itudes verbais e mitológicas
Over and over again
O coração permanece o mesmo
Minha alma começa a verter lágrimas
Verte lágrimas subjuntivas de pretéritos solipsistas
Carregados de eros bluéticos que instigam gozos insofismáveis
Verte lágrimas gerundiais de mais-que-perfeitos tabus egocêntricos
Plen-ificados de psicanálise metafísicas das pontes partidas
Sob as águas invernalmente frias e gélidas sarapalhadas
Com leveza de neblina trans-lúdica, lágrimas no vento
Verte lágrimas de particípios que con-vergem angústias e nostalgias
E projetam, sob disfarces, distúrbios psíquicos, tramóias,
Regências e concordâncias do espírito da vida
Que sobrevoa vales, montanhas, mares,
Soleiras de choupanas florestais à busca de eidéticas poiéticas
Que versem, re-versem, in-versem, con-versem, ver-sifiquem,
Re-versifiquem o "se" condicional de
Se isto não é Blues,
Se isto não e música da alma,
Se isto não é ritmo e melodia de pedras angulares
De dores e sofrimentos
Que desejam a perfeição do Ser, conjugado de verbos do Vento...



Manoel Ferreira Neto.
(Rio de Janeiro, 28 de julho de 2016)


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