COMENTÁRIO DA AMIGA ANA SOFIA CARVALHO AO TEXTO //**BÁRATRO DA ALTIVEZ**//


Poderia referir-me a este texto como "A filosofia da Palavra" mas talvez seja mais acertado falar de "exegese da filosofia da palavra", uma espécie de relato do Big Bang da linguística pensada e escrita (não tanto, penso, falada) que nos transporta numa espe´cie de viagem temporal e espacial de desenvolvimento do ser da palavra até à sua materialização como tal.
Ademais, a destreza quase crua do texto - como me parece ser a nota singular do autor - não abdica dos aspetos estético-literários, mediante a utilização fértil de metáforas e figuras de estilo de enorme beleza.
Uma última nota: conheço e admiro dois grandes escritóres que me parecem partilhar consigo uma outra característica muito sui generis: a capacidade de reinventar a língua, ou melhor, o léxico, criando novas palavras: falo de Saramago e Mia Couto, cada um à sua maneira, e no caso do Nobel já desaparecido, a criatividade não tanto do léxico, mas semântica ( através de uma reinvenção da prosa, recorrendo a uma nova caligrafia e pontuação frásica, sem recurso a vírgulas, pontos aspas ou travessões - tema que daria pano para mangas...).
Neste ensejo, cae-me apenas reforçar o enorme prazer que retiro da leitura da sua prosa, quando o meu intelecto se vê ainda dotado de capacidade cognitiva para tanto. Bem haja por partilhar!



Ana Sofia Carvalho.



**BARÁTRO DA ALTIVEZ**
Manoel Ferreira Neto/Ana Júlia Machado



Epígrafe:



Os caminhos das Letras só as letras conhecem.



Místicas semânticas de versos lavrando pontes partidas de sentidos, significados, à busca do outro lado da alma que perscruta o finito-in atrás do absoluto, elecubra o verso-uni do nada metafísico isento de qualquer dimensão abstrata, abertura plena para a con-templação dos verbos do espírito que dimensionam a visualização do ser, para a visualização das éresis do tempo, seiva dos sonhos que concebem os desejos retrógrados do nada seduzindo o vir-a-ser do efêmero, núpcia de êxtases, conluio de prazeres, síntese que projecta sentimentos e emoções breves, náuseas do vazio.
Há instantes em que as palavras fluem livremente, jorram à revelia, surpresa, espanto, ad-miração; há instantes outros palavra alguma se a-nuncia, revela, desespero, agonia, angústia. Criatividade em que recanto da sensibilidade se esconde? Nada de res-posta.
Silêncio.
Solidão.



Místicas e míticas perspectivas do porvir no chão de giz, na estrada de poeiras, na sarjeta de imundícies.
Quem me dera agora miríades de cintilâncias estrelares a iluminarem as ausências de vernáculos que re-versam as ipseidades ipisis do verbo eterno dizendo os pretéritos do nada, no instante-limite da náusea que vomita as entranhas do inaudito silêncio da vida, os lapsos de memória que in-versam as deidades litteris das regências ad-verbiais e nominas que habitam as vacuidades professando os confins dos adnominais adjuntos do infinitivo em plena deificação do perpétuo, quando os demônios fenecam os dogmas e preceitos da má-fé, as falhas de idéias e pensamentos que revelam o logus do tempo e das infinit-itudes do uni-verso e horizonte perpassando, pervagando, vagueando de pers em pers, de iríadas em iríadas nas arribas do abismo, de éresis em éresis nos confins da colina banhada com as águas oceânicas, enquanto sibilam os ventos ansiosos por girarem o catavento no alto da montanha de lobos da estepe, enquanto a origem das cinzas que gerou o estar-no-mundo nihiliza as cinzas pósteras postergando a postumidade ao léu onde judas perdeu as sandálias judaicas e judias. E Jeová dança o candomblé da morte efêmera plen-ificada de orvalhos notívagos do sempre-eterno que se des-fazem com os primeiros raios de sol do alvorecer. E Allah erotiza as performances dos rituais de macumba, completa orgia.
Deus lhe pague! Por este nada que abisma o tudo na fonte originária do inferno metafísico do sábado de preceitos. Por estas pontes partidas que, apesar das estratégias para a travessia, levam às oliveiras do vento o que a vida ao léu levou , trans-elevam as sendas de a humanidade desertar-se nos oásis da má-fé, os homens caminham no re-verso, ad-verso, trans-verso à espiritualidade do sonho de ser o ser, engolfando-se perpetuamente no vazio nada da náusea perpétua.



Fantasiar os modelos,
Avigorar
De ex- celsitude e fé
De achar-se a cada momento de meditação
Ou de manumissão da sensibilidade e comoções,
Ambicionando a harmonia revérbero do autêntico,
Mas um revérbero denunciador,
“O autêntico domínio de contemplar de frontispício,
Enxergando factos que geralmente não avista”
Autónomo considerar ilimitado,
Autónomo – alvitre da pulcritude incomum
Num único feitiço,
Num só reflexo ou iluminar das sensações,
De suas grandezas de sentir e percepção,
Num somente pasmo das sensibilidades
E sensibilidades que desabotoam os hábitos de quem reside na solidão
Ser, os outorgamentos reais do Não – ser,
Profundez da fatuidade desajuizada,
Báratro da altivez imponderada, disparate,
Superficialidade do orgulho descaracterizado,
Ostentação de ser, de suceder,
De passar a adorar no decorrido e trajectória
Da existência
O esplendor da castidade intelectual,
... Inteirar o saber sensitivo ao
Saber lógico para abolir o raciocínio
Presente, alteando a uma causa
Não unicamente da cabeça, mas do Ente por completo”.
Espertando em mim as energias fecundantes da existência,
As extensões dos anseios de desafaimar a avidez de erudição,
As querenças das veras e da ciência
Perspicaz e infectadas de distintos eternos a serem avassalados,
Executo a minha consciência âmago,
A natureza da existência, recôndito.


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