PINTORA ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA Graça Fontis AZVIA ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO LITERÁRIA E FILOSÓFICA DO POEMA #ABECEDÁRIO METAFÍSICO DO VAZIO E DO NADA#, DE Manoel Ferreira Neto @@@

 


#AZ-VIANDO" CAMINHOS#

GRAÇA FONTIS: POEMA CRÍTICO

***

A

Amanhece,

Na palma da manhã

No leito da instantânea saudade, posso sentir

Sonoridades de cristais na taça volátil do pensar

Prospectivo engendra resfolegante, sagaz

Rangem ao tangenciarem

Revérboros na formatação

Elástica de minhas ideias

Interativadas aos devaneios marítimos, símbolos da vida

Atando-me estritamente

Aos fragmentos de peculiares sonhos

Fantasias estranhas, vezes fugazes

A tornarem_se grande fator de intensidade

No equilíbrio das emoções e sensações

Nessa lépida travessia

Ao encontro de sucedâneos correspondentes às minhas vontades.

***

B

Breves murmúrios na insegurança dos ventos,

Nos extremos de outros desejos, de outras solidões

Na distância diluíram-se

Em mim, outro "Universo dilata-se

Espigado em rebeldias,

Renteado ao nada

Vadios da mente circulante ao próprio labiríntico

Entregue ao princípio

Integra-se às imagens floreadas

Plantadas nas terras de único dono

Região inda abstrata de perfumes e essências

A tornarem-se pólen à intuição

Na superfície macia da beatitude

Trazendo sutilezas ao ato criador

Novas sementes e novo modo de plantá-las!

***

C

Cumplicente às poeiras do tempo

Isto é, deslizando nas loucuras desse mundo

Que nos agarra no transcurso curioso

De cogitações as possibilidades

Simplificadas do pensar

Ao tangenciar prata e ouro

Na simplicidade da grama fofa a consubstanciarem

O que julgo, peso e decanto

Das imagens vívidas e seus enigmas

Na busca intermitente, lúcido e flexível

Às belas formas a comporem o corpo da vida

Reversando meu imaginário fecundo

No retorno do semblante em exaltação

A minha excelsa forma de sonhar!

***

D

De outro ângulo, sonorizacões diáfanas

Transpassa meus úmidos apelos

Canto baixo de contestação

Porquanto meus passos urgentes

Ressoam ritmizados as pedras sem respostas

Na quente paisagem das horas em lentidão

A espera, com as dúvidas distanciadas

A razão possa despir-se

E preencha lacunas e vazios precedentes

As luzes perspicazes que hoje me acalentam.

***

E

Entusiasta sim, na dinâmica contraditória e os olhos felinos

Que meu Ser hospeda

Aguçando-me o reerguer enxadrista

Dentro do jogo impuro das difusas causalidades

Lúdicos no reverso das vontades.

Digo não ao prisioneiro de mim

Às insuficiências, à fragilidade limitadora

E aos múltiplos perfis exteriores

Circulantes ilimitados da desfaçatez nebulosa

Então... sobejante e empoderado sou nadante

Do mar e sol que cada manhã tudo restitui

Sou "Rio", sou-risos!

***

F

Frenesis no expresso dos arquétipos

Solertes tecem seu próprio planetário

De veraz pouco a dizer no convexo das vozes

Atiradas ao esmo em compulsão

Amaneiram-se a formas mais rápidas

Seguem viagem para algum lugar de êxtases

Comendo tudo com fome de viajantes

Arrastam nas veias a intensidade do ego

No tempo luzente que a muitos confundem.

Então liberto, adentrado as "logias" que outros não caminharam

Penso...

No que pensam os poderosos

Quando acordam assustados

Às horas passaram

O dia e o freio rangente do trem

Na última estação já chegou!

***

G

Gestos não exalam a dimensão das fuligens

No tempo que estes viram sopas

As plantações crescem

E o rebanho engorda.

Na erupção dos delitos corrompidores

Como os castelos de areias no mar das ilusões

Talvez no amanhã não mais existam

Nesse tempo de mentes chamuscadas

E enegrecidas fumaças

Vagam pela cotidianidade

A nortearem os novos costumes

Estes... São ventos, passam.

***

H

Há um triste canto de melancolias

Em meu silêncio, audíveis e rumorosos

Transpõem frestas e frinchas

De encontro a rostos abrasados

Sintomas reprimidos da indignação

Sem sublevação, soluços são tragados

No refúgio d'alma

Para que sôfregas perscrutações

Disfarcem o desgarro da voragem longa de pesadelos

E novos semblantes ergam-se no sossego

De outros caminhos até a eternidade

Antes que seus passos arrastem

Repulsões e ascos desse mundo

No repasse trazendo danos a almas divergentes

Aos pasmos de sombras assumidas na cara

De todos que brindam verão antecipado.

Aí que meu olhar se perde lá, bem à frente

Na história ainda suspensa nos opostos

Das razões abstracionadas

No requinte das minhas palavras prudentes...

Afinal, ... ainda não sabem

À frente tudo pode acontecer e...

Nele, o (Verão), o Sol para todos brilhará?

***

I

Insisto em abstrair, sorver o húmus da noite

Noites insones, sonhos dispersos

De sorrisos passageiros

... Jogar-me as perscrutacões... porquê?

Do lá além das montanhas

Prados e vales com densa vegetação

Os delírios poéticos são mais iluminados

Ah... os corpos transitam deslumbrantes

No repente das vozes

No hálito indiscreto a bafarejarem

Risos neblinados tão efêmeros

Quanto sustenidos melódicos pouco inteligíveis

Pelas Campinas vazias

De asseverado coral ardiloso.

Pausa-me o "Logus" febril sob fraca luz

À hora... do nada, resplendecem

E a ira de inquietude, cala-se

No sumidouro manipulador de sonhos, abandono-a.

Quieto, ausente da civilização

Eu sou Eu

Brincando com o que n'alma arde

Salvo das inúmeras interrogações

Silencio-me na verdade da linguagem sentida

Que minhas paredes internas entendem.

***

J

Julgar-me-ia louco se meu sofístico-poético

Da boca não fosse liberto,

Se meus dedos travassem

Quando desce a noite

Se meus olhos, chuvas e luzes

Arredios...não mais vislumbrassem

E se o pêndulo mental

Que meu crânio abriga

Não emoldurasse bandeiras

Aos monumentos póstumos que edifiquei

Dentro de horas e tempo não dissociados

Contidos em meu instinto de perpetuidade

Emergentes das águas a desaguarem

Na nudez dos símbolos e emoções

Orbitados as mãos cumplicentes

Das palavras a circundarem

Ideais, saudades, verdades e buscas...

Absurdas belezas dessa "Vida"

Incabível num só "POEMA".

***

K

Kant-andarei no rastro da interna chama

Guia de meus instintos Mesclados às sensibilidades

No espaço por onde a esperança caminha

E o Sol fecunda instantes de vislumbres

Ao ímpeto que o medo não acorrenta

O olhar auspicioso, das paisagens prazenteiras

Não se furta

Por outra, outros roteiros nas dobras do 'Tempo'

Exílio sem luz, horas de lamentos

Perpassos sombrios anterior a risos

Por conta dos sons que eu,

O dia e a noite colhemos.

Pó de constelação sobre caracteres audíveis

A transcenderem o limite do vazio

Que esse chão sem prévia

Esculpiu.

***

L

Lastros imanentes encontram-se

No chão desta nação, meu corpo

Também vácuos num mundo desconhecido

Excêntrico entre a bela-forma

E a informidade macabra

Ora manifesta, ora oculta

Levando-me por onde a esperança também caminha

No impulso aerodinâmico ao encontro dos sentidos

De modo que, mais jeitados

Quis meus olhos ao acaso

Dentre razões abstratas

Viver a vida, tem sentido

Pode à penas valer.

Solto, leve, grave

Ou... selvagentemente apaziguado...

Dando recibo sem desta sair

Carimbo e selo a realidade

Com essa/esta,' MINHA' feliz cara de déjà-vu

Para estátuas e heróis

Alçaram vôos as estrelas

Não puderam alcançá-las!

***

M

Movimentos em ordenanças

Tacitez a volubilidade mental

Hora rebolinsana ao que difere

Imagens da semelhança

Abstratos do concreto que a vida nos torna.

Não reterei lembranças

Deixo-as fruirem

O que fora, já não é

Deixou de ser nesse distante voo interior

Desta minha falsa inocência

No sumidouro por onde os dilemas se desenrolam

Deste, meus próprios enigmas e...

Crenças ilusórias não transparecerão

No caminho com que meus pés marcam

Substancialmente o ritmo tácito do meu esquecimento

Ao não valha a pena lembrar... foi-se!

Extemporâneas fugiram

Para onde nascem, morrem

No meu bocejar engole lua Ahhhh... quê sono!

***

N

Novas imolacões surgem, o perspectivismo ascende

Na onisciência do caminho às vias finitas

Da realidade dobrada no declínio

Desânimo atenta angústias

Assolam-me

Como das buscas não fosse digno

Ou destas um embusteiro

Dentro do próprio tempo eclipsado?

Ignorá-lo-ei!

Quero ver, sentir e conservar

As colossais reservas de prazeres

Aqui, contidas a espera do desdobramento

Dos céus relampejantes nesse mundo escuro

Trazendo algo mais convincente

Aos meus constelados anseios

Porquando tristeza aperta

E um abraço temporiza

As imulacões enfáticas dos pensamentos

Homogeneizados as tendensidades

Às linhas d'um natural horizonte

De total ambiguidade e o meu silêncio já não cabe

Diluiu-se.

Afinal.. é só isso?... "Vida" e morte?

***

O

Ou seja; escusativarei o pensar

Executores de meus temores roxo e negro

No vago aberto da noite

Por onde malogro, carências, tristezas, entram

E elevam-me aos artífices do inexplicável

Oxalá explicável a voz perdida

De espreita a circunspecção

D'entre lâminas das dúvidas

Para acordes requeridores

De outra força inda inaudita

Como um rio engrossado por sementes

Gerrminadoras de esperanças

Sem incorrer-me em desrespeito

Aos poderosos mistérios vindos do céu

Sussurros ampliadores da pouca visão

E à paleta de prata e ouro a colorir renovos

Já distados dos conflitos

Empoeirados e mal-cheirosos

Esquecidos, lixos n'um canto mental

Que lá, na mais alta torre de catedral, deixei

Inócuos, tornam-se gases

Muito aquém dos cochichos

Sonorizantes e sugestionavél às elevações

Ao erguer-se antes do sol E... badalo gritante do sino

Acorda, o dia seguinte já chegou

Coma os frutos, saboreie o manjar

O cardápio é suculento na roda em que giram os homens, mas...

Seria de excelência?

***

P

Parecem in memoriam prospectivacões

Empoladas, do nada emergem

Prendas a oferecer não há

A quem bebe da própria lucidez

E com risos, seus presentidos sonhos

Tais como os ventos

Diferentes e mutantes

Intermitentes na terra que não pára

Em todas direções intrépidos avançam

Como os estranhos costumes

E alguns viajantes estranhos

Também como a terra não param.

Então que a vida não acaba

Nesse vento tanto ventando

Que desta ventania, apenas nunca mais

A minha identidade visareira

Vicejante no tilintar das taças

De fundo suspiro

Ao palmilhar brancas linhas

Enleado ao trilho lúdico

Dos amores e desejâncias

D'um personagem tipado de fábulas e fantasias

Ao recompor cantatas em versos e reversos

A revivescerem felicidades

A alguém o amor ressuscite.

Inflexível recomeço da estrada

Alinhado a tepidez do tempo

Dos elementos de compor arte...composição

A mão conclui:...

O gosto do que faço

Fazendo o que gosto

Aventurando-me...

Resistindo para não me render

Aos problemas e fantasias

Por ironias ou sapiência

O corpo dos sonhos geram!

***

Q

Quisera esqueça tamanha fidelidade

As vontades em vãs solércias

Destas, esquiva-me ante derradeira vitória

Mesmo inda ocultos estejam seus vestígios

Sincronizados às horas de erosão

Entre as paredes internas e facticiosas da memória

Lugar de sombras e indecisão

Em que outra parte de mim vagueia

De modo infalível as declinações

Até às fibras ressentidas da alma.

Requerendo em afãs, Os portões abertos dessa inteligência

Indiferentes aos corais ardilosos

Pueris a lógica quanto variantes perspectivas

D'um horizonte luminoso

Recortado bizarramente de arvoredos

Estremecedores de góticos relevos

Com seus arrepios de doces aragens.

Defronte o requinte dessa veracidade... Extasio-me!

***

R

Réquiem nostálgico ulterior em mim ressoa

Faceta profundas transformações

Sobejantes a pureza das inspirações

Capítulos vivenciados e preterizam-se

Revificantes deslizam em volteirantes

Os adensados símbolos inda indecifráveis

A espera de acesse as luzes pendentes

A se acenderem sobre esta vitalidade

Não calada no sopro ardente

Deste testemunho temporário

Que ama, desama, uiva, sofre e ri

Na fome e na procura desse imaginário

Excedente sob a cortina da madrugada e do mundo

Umedecido pelas absurdas gotas vernaculares

A pingarem sem reticências

Às dezenas de pernas do leito PENSANTE

De tudo sorve e propele

Suor, aromas, algo de cheiro novo no ar

E na cara o brilhantismo noctívago estampa

Espelhando-se nas águas límpidas

Interpostas entre um e outros

Para o emplaque de tudo refletido

Do abismo as alturas

Todo o ser... Apenas em "SER".

***

S

Situando-me entre metas e o físico deambulante

Malsinto o emergido do coro ululante

De vozes ativas e passivas

Gestos comunicativos a desembocarem

Dentre os vivos, salvo os mortos que nada registram

Em cada orvalho matutino de composto marítimo

E das evocativas imagens

Chegadas a esse tipo liberto

Um seleto terrestre em seu cotidiano

Sob o sol a roer instantes no tudo mais de nada novo

Em unção ao princípio da própria linguagem

Versionada de simpleza modificadora

Das regências verbáticas

E substratos de felicidades, lutas, direitos

E flagelos "Apocalípticos" que rondam a humanidade.

Onde devo chegar?...

Como um repensante perpetuarei

A retenção do presente de unidade assegurada

Em longo meus primitivos instintos

Subjulgado as sensações variantes

De inexistência e horas de existência

Quiçá um Silfo de maluquice musical

Trespassado sequaz de aspirações

A compelirem doravante as horas de friúras circulantes

Regulamentadoras do silêncio

E desta memória amaneirada

Na renovação das línguas

Disso, elas vivem.

***

T

Toadas melódicas amainam

Regimentam passagem a ponte de turva areia

Sobre águas rasas murmurantes

A frente, ramas e tramas entrelaçam-se

E o mar relevante as tintas contingenciais

Tonalizam e tematizam seu toar marulhante

Aquarela audível

A linguagem invernal nunca dita

Entre formas dicotômicas há malemolêcia

Entre marolas e cantos algo de melódico

Encanta, lembra e referência

Um agir normativo de remexer baú, relógio e letras

Forma engendrada de quem tem muito a dizer

Com mãos abancadas na parafita

Outras perspectivas ascendem

Dos trâmites éticos-lingüístico

Opondo-se aos dionisíacos,

Reverência criatividades e a vida plena

Logo que atraído pelo canto dos canários

Aleatórios a este expor pleno de alguns entendimento

E outros inexplicáveis.

Como entender a vida com seus amalgamos enigmas?

Pergunto a esse que corre horizontes

Atrás de outros horizontes: "Como"?

***

U

Universo plangenciam seus remotos sons

Mistérios cristalizam-se na placidez da lua

Aí o tangenciar pelos extremos deste imaginário

Porfiando vazios e esse mundo ansiolizado.

Assim, aleatoriamente e enleado

A corpos enrubescidos de breves sentires

Sem que a finitude preceda ou...

Seja pressentida!

Confluente a largueza do mar aberto

E aos simples invejantes pescadores

A sondarem distâncias em buscas do soldo de vários dias.

Tal-qual cinzelo com flexibilidade

Sem que minha visão alcance estranheza aos acasos

Premissas das palavras a ferro e fogo

"Consciente ", identifico-me na coragem impressa sem temor

Nestas... de vida própria

Ao banir o desespero

Acorde a humanidade e formate um coração pulsante

Quiçá a alguém!

***

V

Vês e sentes?

A admissibilidade volve-me os sentidos

Libido de amplos significados

Hipostasia-se nas forças anímicas

Até o estalar os ossos ao revolver-me o prosaico

Das tragicidades aos de comedianidades

Neste meu jeitado molejar de careta facetada

Porquantos seja audível essa musicalidade poética

Itinerantes dentro dos mais medíocres reinos...

Então, só!... Instalarei meu castelo.

"Never",... um engessador da própria vida

Como apáticos à constância dos dias repetitivos

Mas... vislumbrarei o poema não desesperado

Que alcem-me às emoções

E me acorde da bocejante sobriedade

Sendo mais um excitante no dia-a-dia

No "Modo de Vida" deste eterno rebelde

Ao equilibrar-se no simples/natural às dificuldades

A impedirem traços da expressão

Horas de lágrimas seriam,

Tornam-se de risos

Sido instado pelos sonhos sofianos

De "Amor e Liberdade"

***

X

Xistos laminados, vertiginosos e incertos

Projetam pálido foco, demarcam

Subjacenteiam a aridez desta superfície

E a lógica insubmissa na sombra das perquirições

A quantas reminiscências, criatividades às concepções

Porfiam os ecos na solidão

Com ares de imediata remissão

Sem constrição, do espesso às sutilezas

Cresce-se, cria e o irrevelável se revela

N'uma canção silenciosa

Certificadora da luz-da-vida

A uns/outros escondidos no próprio labirinto

... ouçam!

Assim, aquando abstraciono-me

De acesse à "Alegria bethoviana"

E esta imaginação não se detém

Rompe as limitações da descrença

Unifica-se em concílio as ações

Espontâneas e normatizantes

Dos meus êxtases ilimitados

Motivadores desta singularidade em florescimento

Como tonificantes ao incomum, nada banal

Nessa escalada de íngreme caminho

Cujo pisar fundo de brio

Com certo brilho no olhar

O vencedor!

Chegando ao largo patamar

De ampla visão do castelo sorridente a me esperar.

Descer... pior que subir!

Falseio nas questões intrínsecas, subjetivadas

Escorrego e agarro-me ao próprio susto

Mas... a morte só ocorre

A quem está vivo!

E a "Águia", essa, nunca despenca do abismo!

***

Y

Yang's... habitat mais provável de meus devaneios

Por onde meu coração pulsa, cursa

Alongam meus sentimentos

Irrestritos aquém e além

Das presentes curvas sinuosas

Que somem na noite

Enquanto cabeceio o sono

E afugento lembranças além da muralha, fictícia?

Por onde visiono o vale

O outro que lá existiu!

Pois que não se pode viajar

A outros por-vires de outras primaveras

Sem que sentado na grande muralha do tempo

Ao longe os olhos se ergam.

Para só então, oxalá possa conhecer

Outro mundo na frequência do meio-dia

E muitas outras ideias aplaude

Às vésperas de tão poucas ideias

Enquanto minh'alma cura no varal da existência

E a arte me balbucie seus segredos!

***

Z

Zéfiros sibilantes revestem,

debruçam

Sobre a instantaneidade das nuvens ameaçantes,

Por cima do sertão,

Do mar ás coxilhas desérticas.

Vindos da graçalidade etérea

Para que esta visão não sofra de embaçamentos

A hora de interpretar as flores, que florescidas

Na mesma gravidade simples desse mundo

Sorriem

Ante o vagar deste olhar

Como se de tudo, nada visse

Atrás dos homens porquanto mordo os lábios

Sofrido, mas, mais decisivo em meus fortes gestos

Perceptíveis a primeira estrela da manhã

Pulverizadora de dúvidas, arrependimentos

E as lembranças d'um futuro inda pequeno e o silêncio de engasgar

As palavras esmagadoras da minha grande solidão.

Instante do ontem, foi!

Com seu beijo tácito de muitas bocas

Imperativo a pungir o medo de ser

Que o tempo de vazios abonou.

Distanciei-me desse algoz

E do algoz de mim mesmo

Estou distante

Pelo que mais pesa em mim

Que minha linguagem incompreendida

Aquando lavro meu papelar nas orlas

Por onde anônimos passam, passam

Voltam e as palavras não vêem.

Tão pouco meu recomeço

Emerger-se

Do subterrâneo às alegrias

Sinalizado pela tarde de azul crepuscular

Distintas de tudo por onde caminha o silêncio

Encontro o caminho aberto

Às falas para esse neblinado horizonte

Alinhadas as árvores e aos homens

De enigmas e sentimentos.

Como um extrativista deste ilhéu de anonimato

E meus passos inalterados

Vagam pelas areias com meu distinto sorriso...

Palavras... assim extraio-as!

Graça Fontis

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#ABECEDÁRIO METAFÍSICO DO VAZIO E DO NADA#

GRAÇA FONTIS: PINTURA

Manoel Ferreira Neto: POEMA

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A

Aquele desejo inominável, inaudito

A criatividade acender a vela de algo inédito,

Ninguém jamais o haja ao menos imaginado inconsciente,

Não havido inda por longo tempo

De realizá-lo, creio ser o instante-limite,

Aquela vontade indescritível o engenho, arte acompanhem-me.

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B

Bem-aventurada a liberdade sobre as coisas

Que os ideais exigem,

Existe o que me silencia a voz

Se pretéritos de dúvidas e incertezas,

Penso os infinitos dos verbos

Que concebem, geram, concedem a vida...

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C

Casa-do-ser onde sentir-me confortável, desfrutando

De todas as condições de perscrutar a vida que me habita,

A existência que precede a essência,

Saber-me no mundo, pisoteando poeiras, cascalhos, pedras,

Palmilhando campos, chapadão...

Perscrutar os subterrâneos da alma, arrancar-lhes o perdido.

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D

Deduzir posso de palavras, pensamentos, idéias,

O que estranho demais seja por não admitir este verbo,

Não falo daquilo que coloca acima de todas as coisas,

De toda ciência, de toda religião,

Da verdade re-velada e da eterna salvação da alma,

O que são a jóia, orgulho, entretenimento, garantia da vida.

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E

Ergo as mãos à soleira da montanha,

Etiquetas, princípios, à esquerda de ideais,

Às re-versas, in-versas imagens, perspectivas, contra-luzes

Da liberdade, escravidão, alienação, loucura mansa,

Consumam preceitos, dogmas, idôneos cogitos,

À mercê de jogos estrambóticos arrancando calafrios.

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F

Fazer o quê? - seria percuciente a perquirição

Falácias escorreitas deslizam dos becos,

Facécias ilustres arrastam-se nas sarjetas,

Bohêmios dedilham cordas de agonias, desesperos,

Idílios fecundam obséquios obtusos, que recompensas

Esplendorosas por tanta finesse concedida,

Quimeras febundam a liberdade dos sonhos.

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G

Grunhem os porcos nas madrugadas de lua cheia,

Desespero zera de vírgulas, interrogações

Sobre o que explica o porco ser um animal tão sujo,

A sujeira é a sua identidade,

Nas tabernas, cantinas, bares e botequins, quiosques

Tessituras a erupirem imagens corrompendo visões...

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H

Húmus de terços dispersados de compadecidos

De sorrisos passageiros, tristezas contínuas,

Retalhos de seda envelam o anoitecer,

Na alforje o que silencia o resto das cogitações,

Para me sentir inteiro, alfim mister sê-lo,

Reverso as razões de afogar mistérios, temores, tremores.

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I

Id, ego, superego,

O som das vozes é plausível de notas e melodias,

A poesia basta, preenche os vazios de nada,

Esvaecem-se forclusions e manque-d´êtres,

Vazios cobertos de neblinas e garoas,

O sorriso tem um "S" que carece de acertar-lhe o sotaque.

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J

Já-já o ponteiro do relógio a-nunciará outra hora,

A ampulheta acaba de se virar, recomeça a passagem da areia,

As folhas das palmeiras indicam que a chuva está vindo

Do alto mar para a ilha,

Sêmens e vestígios artificiam as tecituras de ventos

Que agitam as águas do mar, redemoinham poeiras.

@@@

K

Kayros... O tédio é aquela insuportável, intolerável

Calmaria da alma, que precede a viagem feliz

E os ventos alegres, alvissareiros,

Tempo oportuno de in-vestigar o "abecedário",

Afugentar o tédio de qualquer modo é vil, viperino,

Tédio tornou-se cultura, para manter a criatividade sob controle.

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L

Lâminas afiadas cortam de sinistros mistérios

Carências, inseguranças, medos,

Há uma mola ceifada em mim dentro, bradando,

Posso mover os olhos, mas não a cabeça,

Dir-se-ia estar ela apenas pousada no pescoço,

Se a giro, deixo-a cair.

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M

Memórias sarapalhadas por todos os cantos e sítios

Reuni-las, comungá-las, aderi-las,

Não desejo, não quero, não intenciono pensar

O que as memórias significam, identificam,

Sou porque não quero pensar as memórias,

Penso que eu... por que... bah!

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N

Nada a espreitar-me de esguelha,

Quiça querendo saber as intropecções, circunspecções,

Talvez mostrar-me estar perquirindo o que me habita,

Arrancar-me as volúpias, êxtases, alfim a alma

Verte lágrimas pujantes por não admitir a morte,

A vida andam de mãos dadas: nasce-se, morre-se sem nada.

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O

Oráculos decifrem-me as culpas, remorsos,

Revelem os meus sacrifícios, minhas penas

Por pecar contra a santidade das dores, sofrimentos,

Abóboras das sorrelfas e desvarios do eterno/eternidade

Nas mãos vazias de sementes, frutos dos inauditos sentimentos

Das sagas originárias das intemperanças e inquietudes.

@@@

P

Pers de pectivas de risíveis amores

Solsticiam de fantasias e imaginações férteis

Prazeres, felicidade, alegria,

Ao invés de alçar voos por picos e colinas,

Apraz-me andar nos dormentes da linha férrea,

Andarilho de tragédias da sabedoria e conhecimento.

@@@

Q

Querenças ambíguas, dúbias do que não existe

A complementar as regências e gerências

Das metafísicas que contingenciam o nada,

Das metáforas que despertam o espírito,

Ascendem o vazio às antípodas da verdade,

E todas as in-verdades esparramadas na mesa.

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R

Reter-me geográfica e animicamente

Numa paisagem vocabular,

Se o lugar realça o ser que nele se encontra,

Este por sua vez atribui ao lugar

Em que se encontra alguma coisa

De sua própria individualidade.

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S

Sonhos abraçam esperanças,

Esperanças acolhem no peito a liberdade em questão,

Os velhos mortos cedam lugar aos novos mortos,

Nihil sub sole novum,

Lácios de erudição latinizam os verbos do efêmero

Os adjetivos do compulsório.

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T

Turvas águas ziguezagueando os caminhos do bosque,

Recuso as ilhas imaginárias,

Deflagro sentimentos metafísicos no sujeito

Que me habita,

As metafísicas tem necessidade de uma cartografia,

Para serem compreendidas plenamente.

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U

Uni-versam intelecto e sensíveis perquirições

Mantras do sublime, aguçando inda mais

As sagácias contidas,

E no ranger de vozes reverbero todos os prazeres

As palavras concedem ao dedicar-lhes amizade,

O acaso imperativo tenta abater os sonhos.

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V

Verto lágrimas por con-templar a chuva que cai no mar

O vento agitando-lhes as águas,

Congruência de pensamentos e emoções

Serpenteia densas nuvens a placidez do olhar

Onde as palavras caem

E do balcão do quiosque a vontade do perpétuo impera.

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X

Xis, eis a questão posta em evidência:

Ser-me-ia possível lidar com a consciência pesada

Do que com a má reputação,

Quanto mais embotado o olhar,

Tanto mais distante é o alcance do bem,

A sensação de haver passado ao reino do bem produz agitação.

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Y

Yalas seduzem ideais eivados de futurais sentimentos,

Bolinam utopias seivadas de cânticos de coruja,

Uivos de lobos nas estepes,

Deveria eu ruminar altissonante as ausências, faltas, falhas,

Desgostoso dos grandes pensadores,

Ligado à melancolia, nostalgia, saudade do inda por vir?

@@@

Z

Zunidos ausculto,

Quiça por as intenções de tornar-me a chuva,

O vento não haverem sido realizadas,

O abecedário metafísico do vazio e nada

Ser o que me fora possível,

Tarde chuvosa à beira-mar...

Manoel Ferreira Neto

#RIO DE JANEIRO(RJ), 06 DE JUNHO DE 2020, 04:39 a.m.#

 

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