#O VAZIO E A ÉTICA DA VISÃO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: FILOSOFIA ----


Olhando de viés para exatamente o que concerne aqui... agora... balada do extraordinário de ouvir o som, o silêncio, maresias nas orlas marítimas nesta aurora de reflexões e meditações em linguagem e estilo mui particular na tentativa de comungar a poesia e a filosofia, o silêncio do vazio na prosa, no nada... exorcizado... belo e pleno e a ética do vazio e o olhar... Porquanto... outros dormem... a mente vagueia nos inter-ditos inexplicáveis da alma... Espírito...!... O sabor, o gosto são, assim como a faculdade de julgar em geral, a disciplina (ou cultivo) do gênio, corta-lhe muito as asas e o torna civilizado e polido.

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Observando ao reverso os linces do olhar as perspectivas das utopias do verbo sonho do pensamento e do mundo, dimensão intelectual fundamentada na continuidade da re-fazenda do ser-sendo, as ideias e ideais comungados, o contínuo re-pensar da origem da arte ser o artista e o artista, a origem da arte.

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A dinâmica da alteridade é como o coração que nos mantém vivos, é como o sangue que precisa chegar e alimentar todo o existir, circular por todo o corpo ininterruptamente, na continuidade dos movimentos. Sentido da vida posto como responsabilidade anterior a qualquer iniciativa livre do sujeito, que diante do Outro recolhe os vestígios do terceiro, do Ele como infinição do olhar-rosto que fala ao eu. Desejo que o desordena em sua egoidade, e expõe o humano para justiça diante do outrem, absolutamente outro. Confronto com a responsabilidade diante da nudez e miséria de Outrem, que clama pela unicidade do um-respondente, tomando-o como refém na incondicional substituição nascente do apelo que surge da eleidade e conclama para a substituição, dar suporte ao que é mais no menos, do infinito na linguagem ética.

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Se a ética hoje traz em si referência importante, mister não estar cego, não perder de vista, a alteridade como dinamismo que lhe lega real fecundidade. Aqui perquirimos o porquê desta idéia. Por nenhum discurso, mesmo o pretensamente ético, substitui o face a face com o próximo, numa relação prática. Não seria mister perquirir nesta instância se a conduta do homem pode ser guiada pela razão? Seria ela capaz de atuar na vontade humana? A razão possui um uso propriamente moral, mas também se baseia na experiência que se encontra na base das exigências do homem bom, na contraposição entre intelecto e instinto, a razão se apresenta como ponto de ligação que equilibra a existência entre a liberdade e decisão, entre as decisões e consequências.

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Nada fácil ao leitor!... Discernir, num átimo, o con-texto verbalizado ... a carga estereotipada, metamorfoseada... sentimentos, sensibilidades e emoções em cada verbo, palavras, frases e pontuações... Ah, sim... ler e reler... viajar dentre linhas assimilando os sentidos com alegria prazerosa por conhecer ou tentar ao máximo uma aproximação do aparentemente indecifrável...

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Assim, tomando em consideração só o vazio pode re-colher, a-colher o múltiplo, é por esta via que entramos realmente na ética, por nos fazer viver o encontro com o/a outro/a. Neste encontro o primeiro passo é nunca desqualificar o crítico, a crítica. A alteridade introduz-nos na crítica quando aceitamos o encontro "eu - tu" mediado pelo diálogo franco, aberto, transparente. Alteridade que reconhece o outro em seu absoluto Dizer. Dizer pronunciável no fluxo do tempo de uma sensibilidade levada para o desinteresse e na entrada do Outrem como encontro anárquico e pela dissemetria, provocando no outro o trauma daquilo que seria a obviedade. Supera-se o esconde-esconde das máscaras para mostrar realmente a nossa cara, quem somos, o que pensamos, sem subterfúgios, sem trafulhas, jogos da mente. Dialogar é colocar-se frente a frente, dizer a sua palavra e não ter medo da diferença. Este encontro com o/a outro/a não é apenas captação de palavras, é muito mais. É o encontro sensível com o/a outro/a, criando espaço para que o outro "seja", "exista", mesmo no diferente, diverso, distinto que é... O diálogo transforma-se em real comunicação.

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Esta ética que fora pensando, in-vestigando, perquirindo, através do diálogo crítico com a poetisa, escritora, crítica literária, Ana Júlia Machado, através de minha obra, alimentado pela sede e fome de re-colher o múltiplo, que contribui para re-fletir a dimensão filosófica do encontro do vazio e o olhar as coisas sob a luz da ética, sendo cada um de nós "agente" e "paciente" ao mesmo tempo, "ninguém" e "todos" nas perspicácias da linguagem.

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"Respeitante ao nada e a Arte - conforme Ana Júlia Machado tecera crítica de uma de nossas obras - apraz-me verbalizar, que estimar letras impõe abnegação, afinal, a literatura não auxilia para nada." Há realidades que despendem finalidade, intenção que dura somente para aformosear a existência, para apontar a susceptibilidade de quem não se satisfaz unicamente com aquilo que é verídico. A arte, em comum, e a literatura, em peculiar, são acções, atitudes, escolhas, a liberdade da criação cuja dimensão habita nessa excelsa “ineficácia”. A "ineficácia" encontra caminhos para se superar e suprassumir por inter-médido do vazio, abrindo espaço até para a afeição do si com o diverso de si.

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Toda alteridade, toda ética anterior ao representar e dominar, tem a característica de economia, de intercâmbio como desejável que se ordena a partir do sensível, daquilo que está ao alcance das mãos e dos olhos, mas que não corresponde com a dominação e comércio frente as relações significativas. O desejo assume a condição por excelência de infinito na seguinte condição: “A idéia de infinito é Desejo. Ela consiste, paradoxalmente, em pensar mais do que aquilo que é pensado e conservá-lo, assim, em seu “desmesuramento” em relação ao pensamento; em entrar em relação com o inapreensível, mas garantindo-lhe seu estatuto de inapreensível", segundo o pensamento de Viktor Frankl.

A literatura é usufruto, é submergir no deleite que os textos conseguem presentear, consegue re-verberar as contingências do existir, da existência. O deleite belo que as letras facultam converte-nos mais concentrados àquilo que é intangível, converte–nos susceptíveis aos padecimentos do planeta. Explica a possibilidade de que o jogo livre entre imaginação e entendimento seja vivenciado também frente a objetos produzidos intencionalmente.

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Nas letras, haverá distintos itens sobre o dom literário, e os componentes que as estabelecem, componentes da estética e da ética da consciência, cláusulas que facultarão a qualquer ser uma viagem do vazio e do nada ao múltiplo, para um cosmos onde só os enormes espíritos conseguem contemplar, sendo a consciência-estética-ética dos múltiplos a pedra fundamental para esta con-templação.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 17 DE OUTUBRO DE 2020, 14:25 p.m.#

 

 

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