NADA DE ALMA NA TERRA BRASILIS# Manoel Ferreira Neto: DESENHO E POEMA GRAÇA FONTIS: PINTURA ----


Nada de alma na terra brasilis,

nos becos sem saídas do abismo

entre o tempo e o vento,

entre o vazio e os pingos de chuva batendo

no vidro da janela de venezianas,

e no Bosque das Estrelas a neblina

cobrindo a natureza, a terra-mãe,

do saber, da virtude, logra fazer,

logra artificiar em prêmio dos trabalhos,

um manto de retalhos

colcha de bugalhos

cobrindo as pedras da Burgalhau.

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Musa, deponde a lira,

Ninfa, silenciai a gaita,

Querubim, ponde a cítara entre as pernas,

Canções de amor, cânticos de glória olvide,

Poesias românticas, sons de vaidade refute

Que a consciência universal ilude!

Nada de baldio entre os éritos e o vir-a-ser,

há-de ser,

porvir do nada que posterga os finitos

em nome do ente que se prolonga nos campos

líricos e destituídos, elísios e vagabundos,

desprovidos de sementes,

húmus para a eidética poiética da poiésis

do pleno que con-templa a plen-itude do nada,

o efêmero solavanca prelúdios vazios da travessia,

a bem-aventurança, sob o nome de felicidade,

não pode ser em absoluto alcançada neste mundo,

e constitui, por essa razão,

somente um objeto de esperança.

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Galgando a Musa minha aos céus não fosse,

a Sereia minha aos mares, ondas não fosse,

e se a nauseabunda epístola brotasse

dentre o lameiro das ideias, em regras,

em normas, em leis e cláusulas, emendas

que são mais ou que são menos

do que exigem do metro as leis d'Apolo,

da sonoridade dos versos os princípios de Dionísio.

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E enquanto o intelecto burila

Uma filosofia, pensamento que pensa

O pão de cada dia

A saciar-nos a fome de saber, sabedoria,

A mão a labutar granjeia

E acha no suor da labuta

O prêmio eterno,

Na lousa das utopias e quimeras

O olhar circunspecto e ardente de outros horizontes

Perscruta as quimeras a sentir, realizar.

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Vazio do nada. Nada, que, na contra-dança do efêmero, re-vestido de éritos do perene perpétuo, baila nas sinuosidades dos caminhos desérticos, nas curvas entre a montanha e o abismo, ínterins das sombras e claridades, performance das estesias e êxtases, baile platônico do sensível sonhando o espírito estético do verbo regente das nad-itudes da imperfeição perfeita, perfeição imperfeita de cujos úteros nascem a fé con-ting-ente no espírito do verbo.

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Vazio irremediável. Silêncio pleno da vida.

Olhos perdidos,

Frios

Nos universos das con-ting-ências.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 15 DE OUTUBRO DE 2020, 05:50 a.m.#

 

 

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