AFORISMO DO VAZIO DO NADA À SOLIDÃO DO EU# Manoel Ferreira Neto: DESENHO E AFORISMO GRAÇA FONTIS: PINTURA ----

 


À comadre Nívea Maria Matteocci, com os meus cumprimentos e amizade.

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Descer ao vazio do nada para subir à solidão do eu! Eis o paradoxo da espiritualidade, eis o paradoxo da consciência-estética. Descida existencial!...

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Quem desce até seu presente do tempo, até sua própria realidade, até os abismos do inconsciente, até o vazio de seu nada, até a escuridão de suas sombras, até a impotência de seus próprios anseios, até a ignorância mais profunda de suas moléstias, até à carência de afetos e amor, até às imundícies de seus achaques e pitis, quem mergulha, entra em contato com sua condição humana da dor no vazio do nada, este sim está subindo para a Solidão, alcança a solidão verdadeira. Subir até a solidão do Eu, o Eu da solidão, é a meta de todos os caminhos espirituais, saber e sabedoria. A espiritualidade começa na realidade da solidão do Eu, nas suas necessidades, nas suas feridas e chagas, arrependimentos e culpas de troca dos pés pelas mãos nos contratempos do dia-a-dia, de ponta-cabeça para as responsabilidades do destino, reversando e inversando o sentido das coisas do mundo, do pensamento, entregue às futilidades e fugas, e, fazendo-nos descer, ela nos leva a subir para a busca perfeita do Verbo do Espírito. Verbo que regencia e gerencia as quimeras na continuidade do tempo à cata do Ser.

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O descer ao vazio do nada, ao inferno da alma, à tragicomédia das dores e sofrimentos, encontrando a Solidão do Eu e, no subir ao In-finito, o Verbo do Espírito, encontramos o eidos do descer e subir, de vivermos a con-tingência e a transcendência na Solidão do Eu. O vazio está no coração, o inferno do nada está na alma. Com o vazio no coração, com o nada na alma. Os dardos estão lançados. Isto significa entrar em um estado de extrema humildade, de constante metanóia, significa a mudança de nossa prisão no mundo, prisão nas contingências da existência, o romper com o endeusamento do próprio eu, mergulhar na Solidão do Eu.

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A verdadeira solidão tem como um de seus elementos integrantes a satisfação e incerteza, a alegria e dúvida, a cor-agem(agir do coração) e o medo, o contentamento e a insegurança que nos vem, que advém do fato de estarmos frente a frente, em face de uma possibilidade não realizada, podendo sê-lo, suficiente selar a correspondência entre a consciência e a atitude. "Aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, [que nem sou digno de olhá-lo de soslaio no fundo dos olhos], de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo, e em fogo. ... eu não vim chamar justos, mas pecadores, à METANOIA", segundo Mateus 3:11. Não é uma sangria desatada de possibilidades, desvairada de probabilidades - e sim uma humilde aceitação que nos estabiliza em presença de uma enorme realidade, que num determinado sentido, já possuímos, e que, por outro lado, é uma "possibilidade", um objeto(apêndice) de Esperança, Utopias do Ser Sonho, Quimeras do Verbo Ser.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 15 DE OUTUBRO DE 2020, 01:45 a.m.#

 

 

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