CAMINHO DE LUZ NAS TREVAS Manoel Ferreira Neto: DISCURSO DE LANÇAMENTO $$$


(Texto enviado para a UNESCO através da Associação Comercial e Industrial de Diamantina, por intermédio do Presidente e Amigo, Juscelino Braziliano Roque)

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Post-Scriptum:

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A VESPERATA DIAMANTINENSE tem a sua História. Mal caráter dirigiu-se ao Cartório registrando-a como de sua autoria, e estava recebendo os seus direitos autorais. Wander e Toninho Fernandes se reuniram e escreveram a História da Vesperata nos mínimos detalhes. Assim, este mal caráter perdeu as suas regalias. Muita gente deste Covil de Mal Caráter ficou insatisfeita com os autores e com a obra. A verdade fora mostrada. Deixei no Interdito de meu Discurso a origem da obra, voltaram-se contra mim. Pensaram que iria baixar a cabeça. Ao contrário, intensifiquei as críticas à sociedade diamantinense em todos os níveis. História para eles significa apenas viver dela, servir-se dela para os interesses espúrios.

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De início, primeira linha, correspondendo à Apresentação, surge num instantâneo, após o título, a dedicatória... Encontramos uma imagem, que é a bússola de leitura, inspirando-nos este Caminho de Luz nas Trevas, desta obra que então se torna outro capítulo de nosso acervo. Encontramos esta imagem “na movediça fronteira da lembrança e do esquecimento”.

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É-se observados nitidamente pormenores de quem está iniciando a ler, esperando, no percurso da escrita, intuitivamente, descobrir o sentido de os autores e nós havermos encetado com esta imagem, pensando que à falta de um título para esta lembrança de egrégio lançamento, escolhemos este. O título talvez estranhe alguns, pois que fora lançado no programa da Rádio Cidade, Páginas de um Sonho, patrocinado pela Associação Comercial e Industrial de Diamantina, Roque Car, sempre incentivando a Cultura e as Artes em Diamantina.

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A intenção é de revelar a idéia de Responsabilidade do historiador. A faca própria e particular de descarnar um osso de pescoço, muitíssimo afiada, pontiaguda, por se tornar necessária a habilidade de contornar cada agulha do osso, desejando que não recorte a carne, não a pique, o osso saía branquinho e a carne uma manta. Não é tarefa fácil descarnar um osso.

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Com a imagem da “faca”, podemos, com engenhosidade e arte, compreender o que é isto, a responsabilidade do historiador. Súbito, sente-se viva e forte a sensação de se estar nas trevas, aquela necessidade de detalhes e pormenores, às vezes perdidos, tornando inda mais necessário investigar, buscar a luz nas trevas, os contornos e estratégias, as perspicácias de intuição e observação, as destrezas de compreensão e entendimento. A responsabilidade de tecer a rede, deixando os vazios, que são os objetivos do peixe. O “tecimento” com espírito de busca da verdade, de seriedade e consciência. Nesta trama de informações e dados estão a proximidade e o encontro dos homens, da humanidade; estão a resposta e a indagação de uma dificuldade, de uma esperança, de um sonho, da busca do verbo amar. Empreendimento difícil, não apenas no colher de informações, dados, pormenores e detalhes, mas escrever, tecer as idéias com coerência, harmonia, o encontro da obra e o processo histórico. Neste sentido, para nós, que não somos historiador, não há diferença de dificuldades.

Heidegger, filósofo alemão, diz que o Ser foi sendo perdido na história do pensamento filosófico, desde Sócrates, e que é tarefa da filosofia o resgate do Ser. Interesses, ideologias, irresponsabilidades trabalharam, e quase mui perfeitamente, para que a História dos Homens e da Humanidade fosse sendo perdida no decurso do processo histórico. O que não sabemos ainda de nossa História é imenso!...

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A Idéia de uma informação, um ínfimo detalhe haverem sido perdidos! Pensamos nestes interesses e ideologias ilegítimos, que fizeram perdê-los, nestes “salauds” que, por mazelas e pitis de burgueses, representam o esquecimento. O que dizer a estes insignes senhores a respeito de suas atitudes, ações, que lhes faça ouvir com todas as letras e lhes faça entender, compreender o Homem sem História nada significar, tornar-se idiota, imbecil, tolo, o nada, em verdade? Infelizmente, esta palavra ninguém a disse. Haverá quem o faça!

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Imaginem os senhores o que fora andar daqui para ali, ouvindo, colhendo dados, havendo quem não fora sincero, havendo quem se recusara a contribuir. Imaginaram. Pensem haver dados a suscitarem investigação, questões desconhecidas, outras que necessitam de reconhecimento.

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Há o que fora perdido. Desejo pensarem que os interesses e ideologias ilícitas, mazelas e achaques singulares trabalharam para se perderem. Fácil pensar a humanidade sem História.

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A imagem, que escolhemos como tema e temática, é mui interessante, pois que revela estarmos na fronteira da lembrança e do esquecimento, de imediato surge a idéia da Dialética da “lembrança e do esquecimento”, sendo a imagem da História, o que suscita na leitura de investigação, de busca da verdade, só se revelando na tensão de ambos, nas estratégias de consciência e inconsciência coletiva, individual, universal, nos espirais em que cada espira identifica outro caminho a ser seguido, no caminhar pensativo do lugar que se vai ocupar. Ah!... Esta fronteira da lembrança e do esquecimento, este sonho de rompimento, entrar em sintonia e harmonia com a construção, com a identidade histórica!...

Se esta tensão entre lembrança e esquecimento já é difícil, complexa de mergulho, imaginem o que se torna esta dialética, após o choque instantâneo dos interesses e ideologias injurídicos, que visam com todo o deleite que isto possa significar, no fritar dos ovos, tão simplesmente as trevas, sendo a responsabilidade dos historiadores romper o silêncio, mergulhando fundo nos caminhos espiralados das trevas, tendo de arrancar de dentro com as duas mãos, sujando-as de sangue, às vezes, a fim de revelar a Luz.

Pensamos numa consideração ainda mais séria, e pensamos fazê-la, rogando obter dos senhores atenção possível acerca, um convite para levarem para casa, juntamente com a obra, sendo esta a bússola do pensamento e a consciência.

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Imaginem o nosso acervo cultural, artístico, histórico, que Diamantina significa, sendo Patrimônio Histórico da Humanidade; pensem o que é isto de informações, dados, detalhes, pormenores deste acervo sendo perdidos ao longo do tempo e do processo histórico, o que significa a nossa responsabilidade e espírito sério de mantê-lo intacto, abrindo possibilidades de mais importantes e fundamentais conhecimentos se revelarem, identificando-nos com a História.

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Não nos dirigimos a ninguém inconsciente desta responsabilidade, sabendo de antemão e revezes que a conhecem e bem. Dizemos, senhores, haver cidade que sonha com uma História como a nossa, tendo apenas uma local, gado e cavalos no pasto, sem qualquer acervo cultural e artístico, e não terá jamais uma História como a nossa diamantinense. Convidamos todos a serem responsáveis com nosso Patrimônio, é o nosso Orgulho, é a nossa Verdade, é a nossa Esperança. Aconteça o que acontecer, temos de articular as preocupações de nossa querida e amada Diamantina como um todo e não nos afastar dela. Ninguém pode negar isto, mesmo que alguns pensem estarmos a dizer que se sintam culpados - não precisaríamos de o fazer, está bem dito por um filósofo da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin, “Somos culpados de nosso passado”.

Terminamos, cumprimentando os escritores-amigos, Antônio Carlos Fernandes, Wander José da Conceição, por este empreendimento, por esta nobre investigação, La Mezza Notte Lugar social do músico diamantinense e as origens da Vesperata 1751 - 1895 – 1997.



#RIO DE JANEIRO(RJ), 05 DE OUTUBRO DE 2020, 11:53 a.m#

 

 


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