RESPOSTA À ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA Maria Isabel Cunha ACERCA DA OBRA #NACO DE GLÓRIA#



RESPOSTA AO COMENTÁRIO SUPRA


Em verdade, este texto fora escrito em 2005, quando, aliás, nem imaginava que um dia fosse entrar na Internet, Facebok - tinha urticária na época da Internet. Fora-me enviado um livro através de amigo, livro de poesia. Conhecia eu bem a personalidade, caráter, condutas e posturas do autor, um homem in totum pífio. Disse ao amigo: "Não me interessa este livro. Se quiser, devolva-o ao Édson, dizendo-lhe que não me interessei por ele. Se não, fique com o seu e o meu". Já havia ouvido pessoas em botequins comentarem sobre a obra, até citando versos. O amigo devolveu a obra ao autor, dizendo-lhe que não me interessei. Não mais nos cruzamos na mesma calçada. Anos mais tarde, 2010, Edson morreu. Não fui ao velório e nem ao enterro. Fiquei sabendo dos discursos ao pé da sepultura, tal como dissera no texto cinco anos antes. Inspirei-me no envio para escrever este texto em 2005.
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Entrei na Internet em 2012. Entrei por saber que se publicasse, ficaria a obra para a posteridade. Jamais pensei em ser aceite ou não aceite pelos leitores. Se gostassem da obra, pagar-lhes-ia, aos leitores, a tarefa, caso contrário, pouco se me daria.
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Afianço com a mão direita sobre a minha obra, como fazem os cristãos com a Bíblia nos Tribunais de Justiça no instante de jurar por Deus dizerem a verdade, nada mais que a verdade. Não sou erudito por o desejo ser de ser superior. Entrei na erudição pela porta de trás. Para não ser canalha, viperino, vulgar como a família original, entendi-me de entrar para a erudição. Sou hoje um homem só: não tenho o menor contacto com a família, bloqueei quaisquer meios de contacto comigo há quatro anos. A minha única família hoje são a esposa e companheira das Artes, Graça Fontis, filhos, genros, noras, irmãos, netos. Digo isto no concernente os "eruditos serão estudados nas universidades e a obra será lição para a vida". Isto vem acontecendo com mais intensidade de minha parte desde 2007 devido ao enfarto e os outros subsequentes. Tornei-me erudito para não ser como a família inteira: "VULGAR". Jamais visei interesses com as letras de superioridade ou algo na tangência. A minha função na vida é escrever. Já exerci a outra que era ser professor, aposentei-me por questão de saúde.
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Sou bem incisivo e assertivo com as minhas verdades para não ter de ficar explicando indefinidamente pelas ruas a fora, aceitem as pessoas ou não, noutras instâncias, para não terem dúvidas. Digo o que penso e sinto. No mundo real, somo inestimáveis inimizades por meu caráter e personalidade serem este. Tenho outros valores sensíveis, conhecem-lhes quem merece in totum.
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Encontrei alguns poucos leitores que gostaram e seguem, pago-lhes a tarefa, sou-lhes mui grato. A missão do escritor é escrever, se tem leitores ou não, é com eles. A minha tarefa é esta, escrever e publicar na Internet para a posteridade, já que editoras não publicam a minha obra, a ideologia delas não permite, não tenho condições financeiras de pagar por uma edição. Hoje, não me importa. Sigam todos os caminhos que lhes convierem, sigo os meus. A crítica que faço é ao tempo de hoje, tempo das mediocridades, jamais critiquei abertamente quem quer que seja. A mediocridade de críticas diretas não faz parte de minha índole. Dissera a um jovem de 19 anos que me procurara para ler uma novela sua, em 1983: "Se eu gostar de sua obra, faço comentário por escrito. Se não gostar, não significa que você não tenha valores. Outros com certeza vão encontrar valores nela." Fiz o comentário por escrito. Hoje é escritor, alguns livros publicados, e doutor em Literatura Brasileira. Beijos nossos, querida!
Manoel Ferreira Neto
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Este texto revela um ilustre Homem de Letras revoltado com a mediocridade a que desceu a poesia atual. Sem dúvida que isso acontece, mas não há como obstar a tal avalanche de escritores nascidos nas redes sociais. Serão os hieróglifos deixados para a posteridade e neles colherá as linhas mestras da época. Enquanto isso, distinguem-se os eruditos que serão sempre motivo de estudo e alicerce para o futuro. Atravessamos uma fase difícil, a guerra biológica da Covid 19. Tomemos mão deste tema para relatar em prosa, verso ou qualquer arte para descrever a época da desolação e retrocesso da humanidade. Um grande abraço, escritor e amigo Manoel Ferreira Neto.


Maria Isabel Cunha
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#NACO DE GLÓRIA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Quinzinho de Parafusos a Menos: PROSA SATÍRICA
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“Scire tuum nihil est, nisi te scire hoc sciat alter”
(Pérsio, Sátiras, I, 27)
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Um morto ilustre é um naco de glória que não se perde – dizia-me eu no mais profundo de meu silêncio, silêncio indescritível, inexpressável, jamais o havia vivenciado, para não suspeitarem de meus juízos emocionais e psíquicos, estar ensandecido, no velório de um dos mais medíocres e mesquinhos poetas de nossa comunidade; ilustrificou-se com os seus poemas ridículos, quem não sabe escrever com sabedoria e elevação, escreva mediocridades, nele a corrupção interior bramia em versos, tornou-se o poeta do medíocre, foi louvado ainda em vida, vangloriado por todos, todos sabiam de cor e salteado alguns de seus versos, recitavam pelas ruas da cidade, para os amigos, no banco da praça para si mesmos, em voz alta, enquanto passavam os transeuntes, reverenciações com chapéus de palha, de coco, e todos os demais aconteciam a todo momento – em nossa comunidade uso de chapéu não é moda, é tradição estilística -, quando andava pelas ruas. Na ausência de um poeta profundo e sábio, louva-se o ridículo, mesquinho, medíocre, o que não pode haver é falta de poeta, o que não pode haver é falta de cultura. Mediocridade e mesquinharia não são faltas de cultura? Poemas medíocres e mesquinhos não são faltas de gosto? Outrora eram, mas na modernidade pode-se até afirmar é haver chegado ao cume da cultura, do bom gosto.
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Não podia dizer isto de um morto ilustre é naco de glória que não se perde, pois que as pessoas presentes ao velório sabiam com primor de suas mediocridades em versos e estrofes.
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Alguns se sentiam entristecidos e envergonhados, aborrecidos e humilhados com a situação da cultura em nossa comunidade, pensando e sentindo: “A que ponto chegamos, meu Deus! Em toda a história das letras o belo, a beleza, a estética foram buscados pelos escritores e poetas; em nossa comunidade, aceitamos e consentimos com a mediocridade! Quê vergonha! Quê despautério! O que vão dizer de nós no futuro? Que fomos seres bestializados em todos os níveis, especialmente nas letras e na cultura”; outros, alegres, saltitantes com haver pelo menos um poeta medíocre, quem não tem cão caça com jegue, tendo de agradecer a Deus e não reclamar, em verdade está pegando o boi com chifre e tudo por um medíocre haver se ilustrificado na arte da poesia medíocre, haver iniciado a comunidade nos versos, algum dia surgirá o sábio, o percuciente, o elevado, Deus tarda, mas não falta. Quem sabe até não surja mais nenhum imbecil, medíocre, mesquinho na arte do poema na comunidade, nem mesmo o sábio, o percuciente! Fora o único. Vamos ter que engolir isto por todo o sempre. As pessoas de outras cidades, distritos, de nossa região, caem na gargalhada, tiram sarro por considerarmos este poeta o nosso maior patrimônio: “isso é que é um povo fútil!” E nada podemos dizer, contradizer, soltar os cães, descascar os pepinos, mandar catar coquinho no asfalto, pois que é a verdade insofismável.
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Se eu dissesse isto, com efeito, seria jogado a pontapés para fora do velório, pelos entristecidos; a maioria não estava velando o poeta e suas mediocridades versificadas, velava o homem que era um pobre coitado, espírito mesquinho, uma espécie de solidariedade e compaixão, os outros velavam o fazedor de versos de corrupção interior, com ele aprenderam a corromper a si mesmos, promover e divulgar a corrupção no interior de todas as almas, espíritos e mentes, uma espécie de agradecimento por lhes haver modificado e transformado suas vidas, são outros depois de seus mesquinhos e medíocres poemas.
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A morte não pode haver aparecido a esse mesquinho espírito com aqueles dentes alvos e conservados sem boca e aqueles furos sem olhos, mas com as feições da vida, coroada de graças, flores simples e graves, ela quem esperou por toda a eternidade receber em seus braços abertos um poeta de tamanha estirpe, de tão grandes méritos, ela quem esteve junto dele a todo momento, que lhe sussurrou algumas estrofes, a mesquinharia é o supremo valor humano, a mediocridade, a divina virtude; a morte tanto esperou, tantos séculos e milênios de ansiedade, enfim o grande poeta houve, terão muito o que confabularem no além gastarem a língua com as declamações, ela também tem seus deleites versificados. Outrora aparecia aos grandes poetas, mas angustiada, para todos era um estorvo, para todos non grata, além de que primavam em suas letras pela beleza, belo, estética, quando ela é exatamente o contrário.
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Para Norberto Pífia, a vida nem tinha o defeito da morte, a vida era imperfeita, asquerosa, indecente, eminentemente fútil e nauseabunda, a morte divina, linda, graciosa desde que no mundo o homem vivesse com sinceridade e honra suas canalhices, fosse corrupto e salafrário. Sabe-se que era desejo seu, se houvesse de tornar à terra, ter a mesma existência anterior, escrever mais profundamente até sobre a corrupção interior, mazelas, defeitos de caráter e personalidade, sem alteração de trâmites nem de dias. Corrompeu a grande maioria dos homens de nossa comunidade; não se sentiriam os homens mais pecadores, não precisavam mais pedir perdão a Deus , as culpas deixaram de existir, não receberam críticas apimentadas, tornaram-se felizes e alegres, livres e supremos. Mas a minoria não conseguiu convencer, não aceitaram se corromper, ainda eram tementes a Deus, ainda temiam as chamas do inferno.
Tornando à terra, seria sua luta principal convencer e persuadir os nobres que “a corrupção é divina e divino é o homem que se corrompe; /a canalhice é absoluta e absoluto é o homem que se torna canalha em nome da supremacia do não-ser”.
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Não se pode confessar mais vivamente a bem-aventurança terrestre: “bem-aventurados os corruptos porque jamais serão esquecidos no mundo / seus feitos serão louvados e glorificados / seu busto na praça pública será templo de reverenciações”.
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Um poeta, para igual hipótese, preferiria vir tornando urubu, a ser duas vezes homem, ser homem duas vezes para ele seria acinte à vida, suas letras na vida foram maravilhosas, esplendidas, louvadas e glorificadas por todos, sua vida mesma o maior despautério da natureza. Eu (falemos um pouco de mim), se não fossem as armadilhas, tramóias e sandices próprias do homem e o uso de matar o tempo com as hipocrisias, farsas e falsidades, quero, sonho, desejo tornar à terra um juramentado jegue, orelhas mais que pontiagudas.
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Não faço aqui análises e interpretações, como alguns professores fazem em minha sapataria sobre a vida e obra de Norberto Pífia, nem componho a sua biografia de corrupto, canalha, súcia. As escolas de segundo grau, faculdade de letras, professores, personalidades, o jornalismo mostrou já o que vale este autor de tantos e tão admiráveis versos, falaram de seu estilo incomparável, puro e sólido, filosofia das pré-fundas maléficas, feitos de autenticidade e verdade. Norberto Pífia era mesmo um pífio de mente e espírito. Nada disso me cabe, de nada entendo senão de minha vida, luto por ser homem de valores dignos, apesar de minha natureza espúria. A rigor, devo confessar com o verbo na ponta da língua imaginária, nem me cabe cuidar da morte.
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Pífia morreu. Seus poemas tornaram-se imortais e eternos, será ele lembrado, endeusado, glorificado por todo o sempre, será inspiração para outras almas que habitarão o mundo, será desejo e vontade de negar tudo o que a humanidade aspirou realizar para justificar sua natureza instintiva, será sarcasmo, ironia, cinismo a todos os valores tradicionais e alienáveis.
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Não morri. Continuo a minha missão de consertar os sapatos dos homens, ouvindo-lhes discutir suas opiniões e pontos de vista sobre a modernidade, sobre as idéias e sonhos surrealistas do outro mundo e vida. Não sei quando morrerei, ainda estou na idade da flor, trinta e três anos, há muito que viver ainda, mas sei de antemão às revezes que Norberto Pífia de mim não merece a mínima consideração.
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Sentado ao lado de um de seus maiores, senão o maior, amigo, quem inclusive fundou a Academia de Letras Norberto Pífia, em sua homenagem, e quem sempre patrocinou a publicação de suas obras em editora de renome nacional – o que é ininteligível, mas como as editoras visam somente os lucros, e são as mediocridades que dão lucros exorbitantes, o povo gosta mesmo é de futilidade -, chorava feito criancinha de colo com fome por a mamãe não ter leite e nem dinheiro para comprar um saquinho de um real e oitenta centavos, seu lenço estava encharcado de lágrimas, oferecendo-lhe eu o meu, perguntava-me o que fazia ali, sabendo de antemão que estar num velório de homem ilustre é ser ilustre também, minha presença no velório será citada nalgum livro que for escrito no futuro, o livro de assinatura será testemunha, cachaprei o meu nele, pela ilustricidade do poeta, amanhã mesmo os presentes estarão na imprensa, o livro será lido por algum locutor da Rádio Comunitária Tadeu Ferlucci Gomes. O diretor do tablóide Notícias da Semana foi contratado para tirar a foto do esquife para figurar na Coluna Social – realmente nunca presenciei ninguém tirando foto de cadáver, quando mais para coluna social de tablóide. Este jornaleco já publicou na manchete foto do cadáver de um estuprador; chegou a vez de publicar a foto do cadáver de um poeta na coluna social, da manchete à coluna social o caminho é longo, faz-se mister ler todo o tablóide, alimentar de sensacionalismos e vulgaridades.
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Não escrevo poemas, sou analfa de letras e juízos, e preciso mesmo que aparente ser eu de renome, não morrerei como um Mané juramentado, o melhor é estar presente a um velório de ilustríssimo homem de letras medíocres. Não li qualquer poema de sua autoria, não estudei, aprendi apenas a assinar o nome, e fazer algumas continhas para não levar prejuízo na minha sapataria, mas como os fregueses declamavam os poemas na sapataria conheço a sua mediocridade. Não estou aqui no velório para me despedir do poeta do medíocre, mas por haver sido meu freguês por anos a fio. Nunca foi à minha sapataria. Sempre mandou a sua empregada levar os sapatos para conserto.
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Além disso, de um morto ilustre ser naco de glória que não se perde, é uma ocasião, e, às vezes, única, de superar os contemporâneos. Preciso explicar isto, coisa que não o fiz, durante a hora e meia que estive presente ao velório, os vinte minutos de caminhada da funerária ao cemitério, os coveiros jogando terra sobre o caixão, algumas autoridades municipais e amigos íntimos fazendo seus discursos empolados, com inclusão de alguns versos para ornamentar a prosa empolada.
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Três discursos: do prefeito, presidente da câmara, da amante, e não foi esquecido a palavra “maior”, Norberto Pífia, o maior poeta de nossa comunidade, enfatizado pela mediocridade e mesquinharia: “Agradecemos todos a mediocridade e mesquinharia de nosso maior poeta da corrupção interior. Ensinou-nos com primor que isto é o nosso maior valor humano”. Sem outro, como é possível o maior? São precisos pelo menos dois para se estabelecer a supremacia de um sobre o outro.
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Desculpem-me o deslize, mas penso no futuro, quando houver um segundo, por mais sábio e percuciente, terá que lutar para ser reconhecido. Superar os contemporâneos, se assim digo, é pensando no nosso tempo, em nossa atualidade. Se eu não fosse analfa de letras e juízos, escreveria poemas ou mesmo tentaria a prosa, mas isso me é de todo impossível, o que posso fazer mesmo é estar aqui na minha rede no alpendre de minha residência, pensando nas mediocridades deste poeta, bestificado de todo com isto de um povo haver chegado a um ponto de falta de cultura, de sonhos e utopias, consentindo e aceitando que um poeta desses seja considerado e laureado como o maior de todos os tempos, nossa comunidade está em luto, o que será de nós no futuro, seremos puros papagaios, pelo resto da eternidade estamos condenados a repetir os mesmos versos e estrofes, pois que não haverá outro. Isto é um despautério sem limites.


#RIO DE JANEIRO, 21 DE MARÇO DE 2020, 6:35 a.m.#

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