#ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA Ana Júlia Machado COMENTA A PROSA #TRESANDADA DESOLADA II PARTE



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Mas este Quinzinho de Parafusos a Menos saiu cá um belo malandro, astuto, erudito, e sabe cada passo das pessoas que o rodeia. Desde amigos, governo, docentes e até de Guimarães Rosa...ah, grande Quinzinho- aplaudo de pé sua criatividade e inteligência. Com esperteza dá a sua opinião às podridões da era em que se vive e opina sobre seus amigos mais chegados.
Ana Júlia Machado
RESPOSTA AO COMENTÁRIO SUPRA
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Sim, Aninha Júlia... Quinzinho de Parafusos a Menos chegou sorrateiro e num piscar de olhos com a sua malandragem erudita sentou na cadeira do Olimpo e rouba as cenas dos sátiros. Impressionante!...
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Beijos nossos a você e à nossa amada e querida netinha Aninha Ricardo.
Manoel Ferreira Neto
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#TRESANDADA DESOLADA II PARTE#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Quinzinho de Parafusos a Menos: PROSA
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Brás Cubas
mexe-se e remexe-se na sepultura, irritadíssimo, os carros de propagandas comerciais, som no último volume, que passam à porta do Campo Santo estão lhe tirando a atenção na escritura de seu memorial póstumo.
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Macunaíma,
deitado na rede, com sua eterna preguiça, ouve na emissora de rádio "Eu não sou cachorro não", com Waldick Soriano, olhando disperso para o casal de maritacas na galha do abacateiro, quietinho, quietinho.
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Reitor da Faculdade de Administração,
na sua Biblioteca particular, prato com restos de comida à frente, ao lado de um livro de Contabilidade Comercial, gira e gira o revólver no dedo indicador da mão direita. Abre uma gaveta, tira uma bala, coloca no revólver, dá um tiro em direção à porta. Cruza os braços sobre a mesa, esconde a cabeça neles.
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Cinderela,
no tanque de lavar roupas, enche um balde com água, põe sabão em pó, mergulha seu vestido longo branco, ouve as galinhas alvoroçadas no galinheiro, o galo está desvairado. Sai de perto do tanque, senta-se na rampa, fica olhando os garotos jogando bola na rua.
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Professor de Física Quântica,
na hora do recreio dos alunos, está em pé no meio do pátio, caneta nos lábios, perscrutando na mente uma fórmula de Gravitação Universal. Einstein na sala de pesquisas da universidade toma um suco de maracujá sem açúcar, disperso no quatro-negro entupigaitado de cálculos. Há um erro crasso num dos cálculos que ele não identifica, perdido que está com o sabor do suco de maracujá.
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Presidente da República,
em sua cela presidiária, lê um gibi de piadas picantes, vertendo lágrimas de tanto rir, a garrafa de whisky escocês está pela metade, só há dois pedaços de frango à passarinha no prato. Sairá da cadeia, seus bens restituídos, rirá na cara do povão. A justiça política é digna e honrada.
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O vendedor de fumo de rolo,
com sua banquinha frente à igreja, cotovelos sobre o joelho, pernas abertas, gira o chapéu de feltro puro, lembrando-se da pescaria com os amigos no final de semana, comeram carne assada e beberam conhaque, regados a causos de adultério, falências empresariais.
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Aposentados,
sentados na porta do cine-teatro, conversam alegres e saltitantes sobre as mazelas e pitis humanos, a humanidade está no fim do abismo. Trabalharam honestamente, adquiriram seus bens, a família está criada, podem morrer tranquilos e serenos.
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A jovem estudante,
acompanhada de seus amigos na lanchonete frente à prefeitura, toma sorvete de chocolate. Com a boca cheia, responde a pergunta da amiga, cuspindo chocolate. As mochilas de livros e cadernos debaixo da mesa, sobre as cadeiras.
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Simão Bacamarte,
na sala de estar da Casa Verde, nega peremptoriamente todas as suas teorias sobre a alienação, ouvindo no aparelho de som As Quatro Estações do Legião Urbana. Perscruta silenciosamente um quadro de Van Gogh, o par de botinas velhas, suspenso na parede.
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Graça Fontis,
na sua mesa de artes, lê Santo Agostinho, Luís Costa Lima, Clarice Lispector, fecha um livro, abre o outro, toma da caneta começa de registrar uns pensamentos que se revelaram na mente, será um texto, e depois iniciará uma nova pintura, a madrugada está repleta de afazeres.
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Ana Júlia Machado,
à janela de seu leito, tem um ovo na mão estendida à noite, lua minguante, estrelas incidindo, deste ovo
ela artificiará os pelos para o novo poema, clara e gema serão as palavras nuas e cruas - seria que os leitores perceberiam o inter-dito dos pelos de ovo?
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Padre Cavalhaes,
na sua sesta do almoço, bem à vontade na cama, de cueca, lê Elogio à Loucura, lembrando-se de Padre Argel sendo levado em camisa-de-força para o manicômio. A fiel, Amélia dos Santos, totalmente pudica, com ela se preocupava, no confessionário disse-lhe que ainda usava cinto de castidade, seria enterrada com ele. Outro fiel, Pedro Quatro Olhos, confessou-lhe que em treze anos de casado, nunca tocou um dedo em sua mulher. Não compreende como pôde ter tantos filhos, e a mulher está grávida. Deixa o livro sobre o criado-mundo, vira-se para o canto, dorme.
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Sonia Gonçalves Son
grava música no CD, embrulha numa folha de caderno, no sentido de transferir os sons para os interstícios da página, assim sarrasbicando o poema inspirado nessa fantasia, os leitores ao começarem a ler ouvem o som, ficam alucinados, varridos de pedra, de onde vem a música? - alegre, satisfeita , dando saltinhos e dançando com seu sapato novo de salto de agulha - que dádiva dos deuses esta idéia! Breve, mui breve deixará Tresandada ainda mais alucinada.
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Maria Isabel Cunha
tranquila, serena, suave lê OS SIMPLES, de Guerra Junqueiro, sentado num dos banquinhos de mármore da praia; após cada poema da imortal e fantástica obra, olha à distância o mar, pensando nas glórias lusitanas de antanho, conquistas, descobertas, dá um risinho amareliçado e volta à página do livro, começando outro poema.
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A primeira dama de Tresandada,
conhecida como "A Bonequinha", por se vestir elegantemente, está com os braços cheios de sacolas, voltando para a cobertura do Edifício Pioneiro, o mais suntuoso de Tresandada, após uma tarde de compras, o vereador, Ratúlio Bustamonte, entregou-lhe em mão o cartão sem limites, comprasse até a loja se quisesse. Vai passar um mês na Suíça com o marido.
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E o professor de Literatura Brasileira
con-templa na página do livro de Guimarães Rosa uma frase: "O que tem de ser, tem muita força". A filha de nove anos, deitada na poltrona, lê Ilusões Perdidas, de Stendhal. A esposa prepara os pães de queijo do lanche da tarde, ouvindo 'Coração de estudante", de Milton Nascimento.
@RIO DE JANEIRO, 13 DE MARÇO DE 2020@

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