#DEPENANDO AS EGRÉGIAS FRANGUINHAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA



Bons dias!
Se não fosse mentira, invencionice de minha parte, os leitores ficariam estupidificados, estupefatos mesmo como andam as coisas no métier dos parlamentares, deve-se ficar de boca fechada, qualquer mínimo deslize nela podem entrar mosquitos e formigas, nada mais se pode dizer. Mas é mentira, isto porque me encontro sem assunto nesta manhã de frio intenso, pingüim procuraria uma caverna para se aquecer, os ossos das pernas estão congelados de por baixo da minha mesa empresarial, não haverá qualquer problema de as conseqüências serem difíceis para mim. Ninguém vai contestar a verdade, soltar as pulgas, carrapatos e bernes todos em mim, e alguns seus espinhos de porcos, pois que tal atitude lhes deixará numa situação bem delicada, os olhares de esguelha se lhes dirigirão com toda a propriedade, nada mais fizeram que encontrar justificativas e explicações para os ácidos críticos de que foram vítimas.
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Sendo mentira, terão todas as razões e sensos para a contestação, enfim os brios e calafrios devem ser com todas as empáfias defendidos e conservados. Não dirão que cutuquei a cobra com vara curta, pois que ela continua sendo grande, mesmo que resolvam dar-me a resposta, reunindo-se todos para isto, não serão capazes, mesmo que contratem excelentíssimos homens de letras para lhes ajudar na confecção do texto-resposta, dirão eles que a tarefa será em vão, não têm palavras que possam atingir-me; os que conheço, que seriam capazes de pegar-me pelo suspensório, há muito estão nas tardes do paraíso celestial passeando com os amigos, dando continuidade às suas idéias e utopias que foram interrompidas com a morte, mas se algum dia reencarnarem estarão mais desenvolvidas e trabalhadas; mesmo assim, creio, diriam que não iriam escrever, pois nas entre-linhas as verdades estão mais do que transparentes, e como foram louvados como defensores da verdade e dos bons princípios, não servirão da pena, deveriam mesmo pensar nas coisas que estão fazendo, nos interesses espúrios que prejudicam os homens, nas ideologias que alienam as criaturas de Deus, nas leis que só beneficiam a eles próprios, estou com toda a razão, quando morrer, querem dialogar comigo por horas infindáveis.
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Não posso mesmo explicar porque diriam estar eu com razão, pois que mentira é mentira, ninguém tem razão com ela, ninguém dá razão a ela; seria capaz de fazê-lo, se pudesse enfiar-me nas entre-linhas e lê-las com toda perspicácia e destreza, mas isto me é impossível, se eles estão dizendo que a mentira da superfície é a verdade das entre-linhas, o que fiz foi apenas in-verter as coisas.
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Não só os homens se adaptam a tudo, por vezes os animais são obrigados a fazê-lo, casos contrários passam sérias e difíceis dificuldades, correm o risco de morte, de serem extintos.
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Por intermédio do presidente da câmara, fazendeiro conseguiu iluminação elétrica em sua fazenda, amicíssimo do diretor da FAÍSCA BRANCA, e por essa razão recebera sacos e mais sacos de adubo para plantação de mandioca, que de imediato mandou adubar as terras de seu retiro, plantando mandiocas. Por ser grande quantidade de adubo ainda doou para alguns amigos, para pessoas pobres da periferia para plantarem mandioca no quintal. Algumas personalidades e autoridades sugeriram a mudança de nome de nosso município, isto é, Templo da Mandioca, sacolões viviam entupidos de mandioca, os proprietários enriquecendo-se.
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Verdade é que os parlamentares e funcionários da câmara estavam enfastiados do pãozinho francês com manteiga, vez por outra com queijo, café no lanche, entrava e saía mês o mesmo. Devido à safra enorme de mandiocas no sítio do presidente, o menu do lanche foi modificado, mandioca cozida com manteiga ou açúcar, menos o cafezinho que era a sobremesa, comiam mandioca com leite. Os estômagos deram graças e louvaram o presidente por sua generosidade com a mudança do lanche, não se gastava com a compra dos pães na padaria. A quantia foi revertida para a cervejinha com torresmo ou pés de porco no botequim do Cristóvão.
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Depois do segundo mês do menu do lanche, começaram a surgir ratos na câmara, em pouco tempo tornou-se uma comunidade de ratos, e como só encontravam mandioca na cozinha e na despensa foram obrigados a esquecer do bom e delicioso queijo. Não se explica como, dizem que o vereador Cilufer de Paula foi quem levou o gato para a câmara; se a fome não fosse tanta, não conseguindo exterminar com os ratos, diminuiria o número deles. Cilufer de Paula negava isto, o gato apareceu por acaso. O gato colocou moral na comunidade dos ratos, não deixando a coisa descambar, estavam comendo a melhor parte das mandiocas, as melhores, deixando as duras para os parlamentares e funcionários, que já andavam insatisfeitos, mesmo bem cozidas continuavam duras, e alguns tiveram de ir ao dentista para tratarem de dentes quebrados, gastaram uma fortuna dos cofres públicos, escolheram os melhores e mais caros profissionais.
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De vez em quando o gato escolhia um rato bem gordinho, matava, comia, três por dia, desjejum, almoço e janta, ao invés de diminuir o número deles, aumentava ainda mais. Mas o gato não deixava os ratos comerem as boas mandiocas, que se arranjassem com as duras. Os anos foram passando, os ratos aumentando, o gato envelhecendo, até que morreu, e os ratos aproveitaram o ensejo da morte do gato e estabeleceram suas próprias leis, tomaram conta do pedaço, não da mandioca, da alimentação, só comiam as boas, mas como o presidente podia solucionar a problemática com facilidade, mandioca em seu retiro dava mais que chuchu na serra, os funcionários e parlamentares não foram prejudicados no lanche, nem os ratos; alias, puderam engordar mais, ficarem mais “empapuçados”, as gordurinhas de fora. Homens e ratos gordinhos transitavam por todos os cantos e recantos da câmara municipal; os ratos assistiam aos plenários, aos projetos de lei, aos parlamentares escrevendo-os, fossem ratos politizados teriam dado suas contribuições inestimáveis na feitura das leis, mas não eram, seus instintos não eram corruptos, só defendiam o que julgavam ser de direito deles, a porção de mandioca para a sobrevivência, e mesmo porque já eram uma comunidade, não precisavam se unir aos homens, à comunidade dos homens para mostrarem a “civilidade ratazânica”, as leis dos homens não lhes dizem qualquer respeito, aliás são inferiores às deles, para serem cumpridas a rigor, isto mesmo quando dizem respeito à sobrevivência pela mandioca, enfim na câmara municipal tiveram de renunciar à alimentação própria e singular deles, uma violação da natureza e instinto, isto é, o queijo, para sobreviverem de mandioca. Direitos são direitos no mundo dos humanos, sobrevivência é sobrevivência no métier dos ratos.
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Dizem as grandes línguas, e grandes não diz respeito a puxa-sacos, que Cilufer de Paula, em cujo gabinete mais havia trânsito de ratos, eram ratos sobre a mesa, eram ratos correndo pelo chão, eram ratos nas gavetas, eram ratos nas estantes de livros da Constituição Brasileira, eram ratos nos quatro cantos do gabinete, por “increça que parível” até no teto, fora inspirado por eles no sentido de uma lei que auxiliava os proprietários de restaurantes, isto encima da grande produção de mandioca no sítio do presidente da câmara, carne seca com mandioca a preço módico para os clientes de baixa renda isentava de declaração de imposto de renda, o que fez com que os pequenos empresários só servissem às pessoas de todas as índoles, morais e éticas, desde o mais simples às personalidades, desde o mais passível às autoridades, desde o medíocre escritor às celebridades do teatro e do cinema, desde o miserável ao mais magnata, (pedindo desculpas pelo solecismo), a servirem carne seca com mandioca desde a aurora do novo dia até à meia-noite, menos o Bistrô do Biriba que, ao invés de apresentar em seu menu este prato, servia língua de boi com mandioca a milanesa, que eu particularmente sugiro aos clientes, um prato de divina delícia, mas não o isentou da declaração no imposto de renda; também o restaurante Bon Apetit, de meu amigo mui especial, Fábio Loureiro, não entrou nessa de carne seca com mandioca, criou novo prato, coração de jegue com mandioca, a comunidade inteira almoça nestes dois restaurantes, os deuses do menu lanovecur, os turistas amavam, me disseram que até os conchichineses ficaram sabendo dos pratos, até vieram alguns para se deliciarem dos sabores, voltaram para a Cochinchina satisfeitos, levaram algumas mandiocas para plantar, foi o presidente que lhes presenteou com elas.
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Mas os ratos da câmara municipal começaram a ter problemas com isto. Não que estivessem enfarados de comer mandioca dia a dia. É que passou a faltar mandioca para eles, e mesmo os funcionários e parlamentares estavam comendo menos mandioca nos lanches. A safra estava sendo toda revertida para os restaurantes, sacolões, mercearias. Ademais, a gestão do presidente estava terminando, e os candidatos estavam pensando mesmo em acabar com a mandioca na câmara municipal, ainda não tinham pensado que novo menu seria servido no lanche, o mais indicado para assumir a presidência pelos parlamentares defendia a idéia de servir costelinha de rato com jiló cru.
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E não é que este parlamentar se tornou presidente, e a sua idéia do menu foi plenamente aceite por todos. Mas em ano e oito meses acabaram-se os ratos. Parlamentares e funcionários não se contentavam com o lanche, tinham de levar ratos para casa, economizariam um pouco no vale do açougue. Óbvio, a comunidade dos ratos não era tão grande como a safra de mandioca de Cilufer de Paula. Não me contaram é se o velho menu, pãozinho francês com manteiga, voltou à cena do lanche parlamentar.
#RIO DE JANEIRO, 28 DE MARÇO DE 2020, 15:17 p.m.#

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