**ENTRE O... E O...** GRAÇA FONTIS: PINTURA MANOEL Ferreira Neto: POEMA



Entre o sonho e o destino,
sombras densas refletidas nos
cantos e recantos do tempo
na passagem das contradições,
dialéticas, nonsenses,
tecendo ad-versas dimensões
do que as circunstâncias e situações
inscrevem de herança,
a carne e os ossos herdam,
a vida revela de todas as travessias,
e a morte inevitável, o reencontro
do nada gélido e puro,
a fissura da liberdade com sêmen
de transformações e mudanças.
Entre os fracassos e as frustrações,
o muito pouco realizado e conquistado,
dores, angústias, tristezas,
culpas, remorsos,
a lídima consciência de nada alterar
o passado,
a única luz é o futuro,
tentar algo que preencha os vazios, lacunas,
o tempo sendo mais exíguo do que sempre fora.
@@@
Entre o ser e o querer,
uma luz.
Entre a esperança e as estrelas,
volos de sentimentos utópicos.
Entre o sonho e o universo,
"causos" de outrora sobre o crepúsculo
seduzindo o abismo.
Entre o eterno e o sibilo dos ventos,
a música romântica dos tempos,
ritmando o vir-a-ser,
melodiando o orvalho do alvorecer
com a garoa do entardecer,
o poeta na varanda de sua choupana
poetizando uma missiva para a amada
de sua imaginação fértil.
Entre a solidão e o prazer,
o olhar con-templando o domus da igrejinha,
a cruz no cimo da montanha,
a águia voando,
as nuvens escuras ao longe.
@@@
Entre o silêncio e a seresta
executando
Desolation Row na praça pública,
o pastor conduzia as ovelhas no serrado,
Rapunzel na sacada de seu quarto
penteava os cabelos olhando o passarinho
sugando o néctar das flores no canteiro do jardim.
Entre a inspiração e a náusea,
versos querendo poema com palavras suaves,
dóceis, o sino de igreja badalando a Hora do Angelus,
vira-latas desfazendo os sacos de lixo,
velhinha atravessando a rua sob
o cuidado de transeunte anônimo,
ao estilo Bete Davis com a mão
no bolso da calça de linho larga
a jovem moçoila conversa com o namorado
na esquina da rua, o professor de filosofia,
desvairado,
corre e grita que Olavo Bilac está
na Cabana dos Insurrectos
tocando harpa com um charuto no canto da boca,
Manoel Bandeira retornou de Pasárgada
Triste, desolado, desconsolado
Nada encontrou lá que preenchesse
Suas dores, vazios, medos, angústias.
@@@
Entre o alvorecer e as utopias no sertão mineiro,
a mulher de camisola azul prepara
os pãezinhos de queijos no fogão de lenha
para o marido e as crianças,
o lenhador põe o machado no ombro e vai trabalhar,
a jovem adolescente abre a janela do quarto,
espreguiça-se,
passa a mão nos olhos,
debruça-se no parapeito e canta Tigreza,
olhando ao longe o nascer do sol,
o escritor dorme as suas horas de sono,
três por noite,
desde as quatro e meia às sete e meia,
sonhando com um churrasco regado a dança gaúcha.
@@@
Entre a vida e a morte,
as fantasias do amor eterno compõem
versos e estrofes da etern-idade plena de carícias,
toques e climaces na intimidade,
as quimeras da glória e do poder
inscrevem com letras góticas
dogmas e preceitos da mauvaise-foi,
sonhando tornarem-se reais e verdadeiras
com o toque das mequetrefias do profeta,
as esperanças e angústias da verdade
rolando à mercê e à luz do tempo
que silencia o ritmo e melodia da música
do ser in-fin-tivo que debulha o terço da fé
revelam aquela miriadizinha da felicidade e alegria
que compõem o espaço poiético e con-ting-ente
do uno-verso do "SEMPRE",
do silêncio que à luz e à mercê do tempo
manuscreve as iríasis e éresis do ser
no pergaminho da entrega e doação plenas
à melancolia do que jamais há-de perecer,
do que já, mais e mais,
são semânticas e linguísticas da busca
da pureza dos sentimentos,
inocência das emoções,
meiguice da sabedoria, simplicidade da gnose...


#RIO DE JANEIRO, 09 DE MARÇO DE 2020@

Comentários