**COMO PRÊMIO: COQUINHOS** GRAÇA FONTIS: PINTURA Quinzinho de Parafusos a Menos: SÁTIRA POÉTICA

Não há vencedor que acredite no acaso,

mas há vencidos que acreditam

o acaso lhes trará a vitória.

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Desde que Machado de Assis dissera

"Aos vencedores, as batatas",

achei a atitude,

a fala sobremodo injusta,

arbitrária e gratuita.

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O vencedor não merece batatas,

alguém lhas enviar,

porque a vitória custou-lhe

bem caro, muita labuta.

A vitória não aconteceu por acaso,

se é que haja alguma frincha

para o acaso na vitória,

ela mesma sonha com o ocaso,

espera o ocaso, tem fé no

caso,

sem crer no acaso

de causos.

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Ao invés de serem enviadas

batatas aos vencedores,

conforme os merecimentos,

deveriam ser enviados

coquinhos sauditas.

O máximo do reconhecimento, consideração,

amizade, carinho, afeição, afeto.

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Recebidos os coquinhos sauditas,

mais que louváveis as vaidades todas,

dançar, sapatear, saltitar,

cantar a plenos pulmões,

mesmo que desafinado: sucesso, fama estão sim

confirmados e endossados.

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Esqueceu-me dizer que o vencedor,

a partir desse reconhecimento absoluto,

receber coquinhos sauditas,

tem toda a razão de andar com um cofrezinho

de maribondos dependurado no pescoço,

os vencidos tem forte atração por se

aproximarem dos vencedores,

andar com os vencedores

é também ser vencedor.

Justamente por acreditarem no acaso,

a vitória não é possível aos vencidos.

Só abrir a porta do cofre, "adeus, vencidos",

a corrida até depois do inferno é garantida.

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Tantos amigos depois da vitória,

tratado a feijão branco,

reverências e mais reverências,

e depois dos coquinhos sauditas

os amigos triplicarem,

não é por acaso,

a razão é a vitória.

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Nestas circunstâncias, Héracles torna-se

amigo íntimo e pessoal de Cérbero.

A vitória dos vencedores não foi por acaso.

Mas para os vencidos,

os vencedores apareceram

em suas vidas por acaso,

a grande oportunidade,

a chance máxima,

a dádiva suprema de se tornarem vencedores,

aprenderão com eles os caminhos,

as tramóias, tripúdios,

como meter ambas as mãos na cumbuca.

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Chegará o momento de receberem os coquinhos sauditas.

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Saberão o sabor delicioso da glória, do poder.

A vez deles de dançarem,

sapatearem, saltitarem,

cantarem desafinados.

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Enviei a um vencedor um saco de coquinhos sauditas.

De tão agradecido, tirou foto

com os coquinhos sauditas,

enviou para tablóide da comunidade

publicar em sua Coluna Social.

Laureado e aplaudido por todos os vencedores,

que polidez a minha!

Tornei-me conhecido por todos

como quem enviou

coquinhos sauditas

a este distinto e digníssimo vencedor.

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Custou-me um preço,

preço módico, óbvio:

sempre falar bem dele,

elogiar todos os seus feitos,

debulhar o terço

de sua vida pregressa.

O vencedor reconheceu-me a

capa-{ch}-idade,

e com ela realizei todos os meus sonhos.

@RIO DE JANEIRO, 12 DE MARÇO DE 2020@