DE ALÉM, INSTANTES E EQUÍVOCOS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



Ao amado e querido Amigo Antônio Nilzo Duarte(Homenagem Póstuma)
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Habitam-me profundo, e feliz me sinto, anunciam-se-me alegrias e prazeres inomináveis, indescritíveis, iriados sonhos de outros sonhos, a fome de ser é contínua, assídua, vários como as feições da natureza, as imagens das serras, o panorama do sertão, na aurora ou no crepúsculo, nesta confusa, perdida agitação da vida. Da eternidade, além de contingentes horizontes e uni-versos, vozes evangélicas, de apóstolos e querubins, sussurram-me as líricas das rosas da existência, dos cânticos da vida, que, às vezes, tantas lágrimas me custam, sensibilizado que fico com os sentimentos que se me re-velam, de amor pelos verbos que desejo pronunciar com euforia e êxtase, verbos de minhas verdades latentes, manifestas, inconscientes, de agradecimento e louvor a Deus quem, gratuitamente, doou-me a esperança e a certeza de que a felicidade, ainda que tardia, iria viver, vivenciarei por todos os dias de minha vida, de alegria por seguir as veredas a mim vocacionadas iluminado pela fé de que a plenitude é a perfeição absoluta, vivê-la só a custa da verdade de quem sou, de quem me faço, com as in-verdades nela habitando, húmus e sementes de outros sonhos.
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Plenitude de sensações e sentimentos, que se anunciam lívidos e suaves, abrindo, de horizontes, crepúsculos do espírito, re-vela desejos de con-templar o ser sendo amor, esperança, sonho de vida, vontades de vislumbrar do sendo o ser que é infinitude, eternitude de fantasias, inspirados em luzes di-versas, arco-íris de cores presentes, fortes, raios de fosforescentes idílios, à luz de veredas vividas, vivenciadas de encontros, des-encontros, alegrias, tristezas, medos inauditos, inolvidáveis, indizíveis – a esperança, fé de mergulho íntimo nas imagens que se a-nunciaram, perderam-se, o vazio se identificou, mostrou-se nítido na nulidade das quimeras e fantasias, e recuperá-las é-se espiritualizar, é-se integrar no todo do uni-verso da alma sedenta de verdade.
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De uni-versos próximos, auroras do ser manifestam a lídima, verdadeira aspiração do homem, amor que trans-cende a vida contingente, dores e sofrimentos, medos e angústias, esperança que eleva o espírito ao divino, à divinidade que habitam a solidão, o deserto de inseguranças, incertezas, dúvidas, sonho de vida que “trans-eleva” – à mão direita de Deus, colocamos, depositamos nossas aspirações de liberdade e espiritualidade – nossas atitudes, ações, gestos e pensamentos.
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Iluminados em instantes de dores e sofrimentos, momentos de tristeza e desolação, quando sentimos haver perdido a vida, haver perdido a esperança, haver perdido o sonho, somos o nada incólume, somos o vazio insofismável, a voz suprema que nos habita o profundo do ser, esperança enviada do transcendente espiritual, ou não, apenas voz desconhecida, não re-conhecida, re-vela-se, espantamo-nos, desejamos sabê-la, ansiamos por conhecê-la, se mostra, identifica-se, cabendo-nos ouvi-la, senti-la, sentir o que nos diz.
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Farto de amor – amo as pétalas das flores, que viçosas e vivas, puras e ingênuas, desabrocham na aurora; amo o canto dos pássaros que, na grimpa das árvores, louva o início de outros desejos de sublimidade, sonhos de completude e utopias do belo e da beleza; amo, no crepúsculo, as nuvens coloridas de vermelho e rosa, símbolo de outros horizontes que ad-virão após a melancolia da noite e madrugada, quando as sendas perdidas se me a-“nunciam” e o peito arfa de desejos do divino e do eterno, quando o espírito diz a si mesmo: “tempo é de tudo sentir real e verdadeiro”; amo o arco-íris que, na tarde, após a chuva, embeleza a serra – e pródigo de vida, ouve-os, meus sublimes e divinos amores, os silvos reclames, desejos e sonhos da humanidade em todos os cantos, recantos, buracos e abismos de mundo, e, por vezes, não entendo as mágoas, ressentimentos, ódios e raivas que os homens alimentam, regam no íntimo de si mesmos, e rogam a Deus compaixão, solidariedade.
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Em minhas noites de sendas perdidas, ah! como as amo de paixão, não faço orações, pedindo a Santíssima Quatrindade, ilumine os homens, perdoe-lhes os pecados e atitudes de não, abençoe-lhes, dê-lhes esperanças e alimente-lhes os sonhos, mas lhes digo n´única emoção: “tenham fé!”. Da alma, remonto-me além dos instantes e equívocos. A alegria nova, que se me a-nuncia, quando a aurora está prestes a ser, modula os meus sinceros e sensíveis suspiros e pêsames pelas fadigas da viagem noite adentro, em busca dos segredos de viver o que me foi vocacionado, são os de todos os homens, são os de toda a humanidade; modela as minhas fantasias e idílios pelas reflexões adentro espírito, em busca de verdades de ser id-ent-idade, de ser dignidade, de ser autenticidade, são as utopias de todos nós, criaturas e filhos de Deus.
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Quem não sentiu no coração o amor interno, a solidão da vida?! Quem não percebeu no espírito a sede de contemplar a beleza do rio de águas cristalinas, e sentiu presente e real Deus onisciente, onipresente? Solto nas asas deste “além instantes e equívocos” as pelejas do pensamento que resvala das longas esperanças o rio de águas cristalinas, dos negros olhos, se se quiser, castanhos, que brotam da fortuna a flor de trigo e mel de que se nutrem, são sonhos, sonhos de profeta, e con-templo o pássaro voando para terras e mundos distantes, longínquos, sobrevoando florestas, mares, picos, abismos, e todos os homens de olhos e espíritos voltados para o pássaro, sentindo profundo outras realidades, novos amores, paz, esperanças.
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Quem me dera salvar os homens de seus pecados, incredulidades, insensibilidades, quem me dera ressurgir-lhes das trevas, mostrar-lhes a luz que ilumina os pomos do horizonte, que desperta os sonhos mais recônditos, quem me dera murmurar uma prece silenciosa, ardente e viva, como a fé que me anima de a vida serem conquistas, realizações, sublimidades e espiritualidade! Talvez, um dia, quando eu passar à misteriosa estância das delícias eternas, quando estiver presente em todos os íntimos, sentindo-lhes de real suas dores e sofrimentos, possa sussurrar-lhes cânticos das margens dos grandes rios que levam troncos ao mar que re-colhi e a-colhi na solidão dos bosques mal fechados, das maviosas brisas a que entreguei inteiros os meus suspiros, das lânguidas brisas no taquaral à noite sussurrando poemas da orquestra universal em cabidas notas, ritmos, melodias, estrofes e versos. Quando eu na terra descansar meus ossos, haverá doce bálsamo no seio da natureza eterna, os dias serão de fortaleza e glória escoados de todo como as águas que não re-tornam jamais.
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Nas minhas noites de sendas perdidas, murmuro uma cantiga, ou penso na eternidade de alentos últimos e derradeiros que habitam o seio humano, e repito baixinho, quase em silêncio, um nome. A sós comigo entre o meu Cristo e as flores colhidas no crepúsculo, que ornamentei o criado-mudo de minha alcova, mergulho nas águas sagradas con-vertidas em felicidades e alegrias, na fresca noite chovendo sobre mim o piedoso orvalho da paz e de todas as auroras sublimes e divinas.
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Tantos sonhos de ouro, tanta esperança, que do gênio a fortuna, suspirando a brisa de lágrimas ardentes, convida à prece solene, cantando dos tempos as vozes e graças da imortal verdade.


#RIO DE JANEIRO, 20 DE MARÇO DE 2020, 07:22 a.m.)


Izabel Cristina Souza Duarte Duarte

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