CRÍTICA LITERÁRIA POETISA E ESCRITORA Ana Júlia Machado ANALISA E INTERPRETA A SÁTIRA #QUE HÁ HÁ#, DE QUINZINHO DE PARAFUSOS A MENOS




Na sátira do escritor Manoel ferreira Neto -#QUE HÁ HÁ!# e que apresenta um texto de um malandro aristocrático que verbaliza não ser de Heidegger e Sartre e sua sátira humana é baseada nas ideias de Voltaire…lá no fundo aparece algo de Sartre, que sabemos que é ateu e Quinzinho não se vê como tal. Mas sem dúvida é mais virado para Voltaire quando tento analisar o texto que realça a utilidade da sátira do retórico Grego, no entendimento das Luminosidades, em particular quiçá nos textos de Voltaire. Ao mesmo tempo, ele procura satirizar a míngua de humor na filosofia de nossa era, a partir de um estudo comparativo da prosa iluminista com o verbo enigmático das correntes filosóficas irracionalistas, em particular as de Martin Heidegger e de seus discípulos. Não deixando de parte o sentido ao seu ser, às suas actuações, ao seu mundo e à sua existência. Diante do que foi exposto, encaro, nesse caso, que seja exequível considerar a escolha em Sartre (embora segundo sei, ele nada terá a ver com Sartre nem Heidegger), no término, como espontâneo significado.
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Como a democracia, a sátira abrange discordâncias, e nisto habita a sua excelência. Além das sátiras de Voltaire, (na qual se revê o Aristocrata malandro), Melodia vocal contrapôntica-ou seja, Polifonia é uma palavra que vem do grego e que significa de muitas vozes, na essência, O sobrinho de Rameau, a partir de duas vozes, expõe o coro composto dos doutos e insensatos de seu tempo, de sempre. Não é acaso, se o fio dirigente que texto reside na refutação, em ato, das teorias cartesianas ou pitagóricas do tio Rameau sobre o físico harmônico, o político coerente etc. Assim igualmente, como nota Jean Starobinski, as Cartas iranianas são administradas pela "multiplicidade das consciências, pela diversidade dos pontos de vista e das convicções" (Exílio, sátira, despotismo em Le remède dans le mal). Com este talento, manifestou-se o caminho para a independência hodierna de pensamento, abjurando-se o anseio milenário, arreigado nas almas tirânicas, de enganchar o unissonante em todos os assuntos humanos. Entre o protótipo do concanto (contanto, não com sentido condicional, mas com valor concessivo, afagado por Santo Agostinho, e os bandos que solfejaram cânticos sobre um país acima de tudo, possuímos um interregno melodioso, abominado pelo transacto e pelo porvir, no século XVIII. Esta é o contraponto da razão. As pujanças anacrónicas juntaram-se contra ela, as labaredas nazistas revezaram as farsa da crença. Hoje reconquista-se a saudade da uniformidade.
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A quimera de Kant e de Saint-Pierre, a famigerada união europeia, revela-se mais do que dúbia. Nela, os desiguais são importunados e afastados. A concórdia, a equidade, a independência são exclusivas dos brancos, indígenas, criadores europeus. Enquanto isto, berra o rancor à desigualdade no Oriente Médio. Os conjuntos, possantes ou delicados, propendem a fundamentar-se nos prejuízos e na crendice. As Luminosidades, mais do que nunca, convertem-se cruciais explícitas de quem ainda não desbaratou o juízo. Suportar a publicidade genocida- Pessoa que praticou genocídio; criatura que pensadamente dispôs a extinção de um grande algarismo de criaturas, de todo um grupo pagão ou devoto, de uma população, uma cultura ou civilização... Não é empreitada popular, mas covardia pejada e tonta. Divulgar o irracionalismo, a cautela óbice a ciência e a técnica, esta denotar conservar a segmentação mundial entre os abastados e os fadados a amargar seu desígnio, sem absolvição. Massas incultas elegem o solo fecundo dos sofistas e impostores (Filósofo verboso, na Grécia antiga: Sócrates pelejava os sofistas). Quando sujeitos da classe média creem que proferir muitas vezes o verbo dinheiro lhes conduz o apto, o delito deve ser dividido entre eles e o finório, adepto glossólogo ou semelhantes, que, realmente, enche as asnáticas e danificadas as páginas e pantalhas das Mídias. Mas os universitários, sábios, autores que silenciam-se por receio ou separado arcam uma responsabilidade bem mais relevante nesta encenação sem inteligência. Sábios, duendes, florais de Bach, todo este enciclopédico antigo da demência humana associa-se impecavelmente com o computador, com o telefone celular, com o fetiche tecnológico. Falha causa para compreender que estes utensílios podem aumentar a alma, ou comprimi-lo ao regulamento das amibas pensadoras.
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O receio do menosprezo adiciona-se à hipocrisia e temos o adulterado pejo dos filósofos. O verbo habilidosamente honesto deixa que sofra o castigo a prosápia mais depravada. As mentes racionais, em grande parte, são cúmplices com as novas calúnias. Não se reprova, nos âmbitos pensadores, os milagreiros cujas larachas causariam os deleites de Luciano, Rabelais, Erasmo, Voltaire, Diderot. Em plena São Paulo hodierna já estão sendo negociados, nos rendosos gabinetes das facções, afastamentos celestiais. O seu valor aumenta se eles residirem contíguos à casa de Jesus Cristo. As soluções são cedidas pelos pegureiros com probidade, depois da conta paga... Esta narração, como a de Luciano, é real. Como é permanente a agnosia no país. Aqui, as universidades são sufocadas culposamente pelos ministérios e magos orientam os intelectos toscos. No Brasil, quem não crê em portento desperdiça opções. Exige depurar a religião pública e reproduzir os iluministas franceses. Previamente a enegrecer as mentes dos discípulos com o esperto irracionalista, coloque-se defronte de seus olhos a salutar profanação das Luzes, o raciocínio satírico que enfraquece a demência austera da intolerância.
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Não é muito fácil analisar esta personagem- acho que tem muitas nuances de vários eruditos, sim porque ele é um douto revolucionário, que não deixa seja o que for por verbalizar, mesmo que tenha-lhe custado caro tal postura…
Ana Júlia Machado
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#QUE HÁ HÁ!#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA
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Há "Malandro" nobre, senhor lídimo das correntezas hipócritas da sociedade, perfeito sociólogo, borrifando ácidos por todas as dimensões sociais, levando o mundo ao caos de todos os princípios e valores.
Há lucidez nas trevas de pretéritas magias
Há vertentes do nada ampliando luzes efêmeras
Há velas no castiçal de prata, cujas chamas balançam-se ao sabor dos ventos
Há conceitos metafísicos desovando o eu livre nas profundezas do abismo
Há Nada percorrendo o incógnito do bosque nas trilhas ziguezagueantes rumo à praia onde banhistas assistem ao crepúsculo.
Há estranhas idéias e ideais copulando fúteis horizontes da verdade
Há tempos perdidos nas sinuosidades das estradas que levam as utopias além da razão, próximo à consciência do sentido de sonhar as coisas que elevam a espiritualidade
Há "reflexões tormentosas a retalharem-se pelo meu intelecto num sofrimento penetrante, num repleto suplício"
Há águas vivas espraiando-se na areia, enquanto gaivotas se alimentam das dádivas do mar
Há verbos faccionados conjugando e regenciando os eidos extasiados, o imago de uma quimera inflexível
Há sentimentos da verdade mergulhados no abismo re-fazendo a intencionalidade das atitudes e ações
Há revoltas e rebeldias assolando as mentes
Há línguas vorazes rasgando os verbos das injustiças, desrespeitos, indiferenças com os valores inestimáveis da existência
Há vozes silenciosas atravessando as conjunturas da história dos homens, deixando o mundo carente de sua identidade
Há solidões re-constituindo, re-artificiando os interstícios da alma, eivando-lhe de outras visões do Ser
Há silêncio na orla marítima, o brilho da lua cheia incide nas águas num espetáculo de imagem indescritível
Há um "semblante sem cara e físico sem silhueta"
Há uma luz nos subterrâneos do espírito, dostoievskiando os âmbitos do abismo da verdade.
#RIO DE JANEIRO, 15 DE MARÇO DE 2020#

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