PRECE DO CREPÚSCULO DA EC-SISTÊNCIA, ALVORECER DA MORTE# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Salve-me dos medos do in-audito, inter-dito que me
perpassam os re-cônditos dos sonhos!
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Salve-me das tristezas, desolações que fluem às
pencas neste instante, as primaveras passam indiferentes aos sentimentos e
emoções, esvaecem-se, as flores ec-sistem no imaginário, perdido no tempo!
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Salve-me do nada, do vazio que concebem o olhar
disperso às antípodas do horizonte, panoramas de vales e bosques faltam-me à
visão!
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Salve-me da alegria sensaborona, das volúpias do
eterno, da felicidade que me sussurram nos ouvidos o absoluto plen-ificado de
ideais, esperanças, que me cochicham nos ouvidos a estética da liberdade logo
ao alvorecer de amanhã!
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Salve-me das luzes que iluminam as alamedas e lotes
vagos, que plen-itude haverá em torno de mim, que torrente de amor me arrastará
para baixo - para o mar?!
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Salve-me do silêncio, da solidão, quero precipitar
minhas palavras nos vales, desejo encontrar a minha velha e selvagem sabedoria,
as ilhas bem-aventuradas onde vivem as ninfas, as musas!
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Salve-me da perfeição de rugir com ternura, afeto,
de ruminar com conhecimento e sapiências, de sentir o incólume prazer de
procriar e evolver as imagens do tempo e do devir!
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Salve-me da fé que redime pecados, culpas,
pecadilhos, que assegura a felicidade imortal, a paz plena, o paraíso de só
êxtases, clímax!
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Salve-me do inverno de frio ad-stringente aos
ossos, da primavera de perfumes agradáveis, das flores que des-abrocham ao
alvorecer, do verão de sol escaldante, do outono de folhas caídas!
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Salve-me dos idílios da pureza, das quimeras da
inocência, das fantasias da ingenuidade, da sabedoria dos versos que cantam e
declamam o espírito da verdade solene!
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Salve-me das metafísicas que enovelam pretéritos
das idéias, das psicanálises que conjugam traumas e fracassos, conflitos e
frustrações, medos das imperfeições à luz de sonhos e utopias do "eu"
absoluto!
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Salve-me do pensamento que torna torto tudo o que é
reto e faz girar o prático-inerte, o tempo abolido e as vertigens da mentira!
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Salve-me da ausência de ironias que opõem aos
costumes de rolar o mundo, o mundo, o drama, o corpo, milhões de palavras na
extrema velocidade, rola meu peito, mente, alma, rolam os deuses, rolam as
ninfas e serpentes, rola os querubins e corujas, rola tudo, desintegra,
explode.
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Salve-me das angústias, náuseas que prescrevem o
Evangelho das con-tingências rumo ao além-sagrado!
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Salve-me de mim, mim-mesmo, do eu-poético, da minha
vontade criadora, do meu destino!
#riodejaneiro#, 24 de agosto de 2019#
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