GRAÇA FONTIS CRÍTICA LITERÁRIA ESCRITORA E PINTORA COMENTA A PROSA #VENIAIS VERTENTES DO SUBLIME#




É o que digo: o gênio sempre está além ou aquém à hora da inspiração, cabendo-nos, no presente, o reconhecimento e a constatação impactante causal da leitura, graças à genialidade inconteste do autor, e aqui com este genial texto VENIAIS VERTENTES DO SUBLIME Manoel Ferreira Neto não deixa dúvidas à veracidade de meu dito - bem assim, né, meu querido escritor?
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Das loucuras lunares às suas inspiradas loucuras saudáveis e belas, certamente tomado pela rica fertilidade mental em total sintonização com o que lhe apraz o coração em êxtase durante este ato criativo, videnciando-se ambientemente por insondáveis situações, para todos nós seriam despercebidas ou ignoradas, quando para si se apresentam claras e nuas, sem chances de fuga da idéia objetivada, levando-o ao êxito pleno desta proposta e outras possíveis realidades a partir de seus íntimos sussurros a princípio enigmáticos, mas vão chegando e o chama para a vida que canta e dança transfigurada verbalmente até onde as palavras possam alcançar neste espaço infinitivado onde o relógio se torna o relator das metáforas e paradoxos dentro deste êxodo silente e solitudiário ao ritmo das dúvidas alternadas a um falso desequilíbrio surreal em que suas mãos equilibradíssimas, ambidestras e concisas aos seus excelentes pensares rompidores da rota cortina que por detrás se esconde o mundo de rotina fadada a patentear verdades insanas pelas vertentes perenes da quotidianidade.
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E foi por aí seu passeio vertiginoso munido de loucura Zen dentro de si na totalidade dos contrários, exorbitando caos, músicas e silêncio no sentir prodigioso e profuso de sua imaginação, quando expressada em seus escritos, não posso deixar de frisar o quanto é grande o esforço, meu e de muitos, para entendê-lo, além do capaz, creio, pois sempre os revestem de sentidos misteriosos a serem decifrados, parecem feitos às criaturas que lutam pelas causas desprezadas dentro deste mundo.
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Será que entendi, mestre? Parabéns veniais para si! Beijos!


Graça Fontis
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#VENIAIS AS VERTENTES DO SUBLIME#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA


Idéia louca de ser lua cheia. Ou crescente. Ou não ser lua. Ou não ser nada. Apenas uma coisa de alguém. Que esquece em casa. Deixa na gaveta. Junto com as camisas cheirosas. Sem ser dada ou tomada. Basta que de vez em quando abra a gaveta. Olhe-me. Olhemo-nos.
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Súbito, a frieza da solidão nos ossos. Na posse do apelo mudo. Na negligência da morte. Plana, rica. Imunda. De modo que o próprio desequilíbrio teria esquecimento daí. Ocorre-me que recuperaria o rosto e a expressão de inocente hipocrisia, ingênua aparência. Se o impalpável brilho da areia esguinchasse o sono. Ansioso. Lamento. Clamor. A alternância egoísta reluz aos olhos estremunhados do peito. E ronda, no fim da noite, a estranha mão de fogo. Sonoridade de asas de pano. Entranhas chacoalham o vazio.
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Meto outro cigarro na boca. Palavras borbulham quentes. Debatem-se sobre tábuas ásperas. O móvel oscila um pouco. Enérgica distância do que há-de ser apagado em silêncios, em solidões. Inútil, a incompreensão excitada.
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Ilusões imergem.
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Desvario passageiro, entre as mãos, reduzido ao destino que precede mal ao pescoço que o puxa sempre mais para baixo. Esgares sem palavras, vernáculos. Recorrem com um zelo arrebatado a carniça dialética e a vontade dos carrascos.
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O eco significa bastante. Indica que a humanidade se renega e os homens não podem sair nem atingir os limites. O sussurro fornica todos os dons para cacarejar liberdades.
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Olho um papel amassado no chão. Estou bem só, sozinho da Silva no bosque silvestre sob as luzes do entardecer. Virado para o futuro. Não dou por mim que enxugo mal os sonos no ouvido. Enxergo mal ao longe. Miopia. Às portas das tabacarias, não sou nada, não quero ser nada. Atiro navalhas aos fingimentos. Se me sentisse apenas feliz até ao absurdo e aos viscosos. Dúvidas. A descrença cobrir-me-ia de vergonha.
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O excesso do louco reside no meu prazer. Mãos ecoam no movimento de dedos. Traço linhas gerais. Facas cortam o osso temporal. Espalham cinzas ao comprido de ausências. Impregnado entendimento de sonhos esgotados.
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Irrisórias in-verdades de instantes-limites do verbo de tempos pretéritos - angústias, tristezas, acompanhadas de insônia, medos, inseguranças do porvir. O que era sonho tornou-se pesadelo, originando desespero, era outro e nem imaginava, quaisquer noções. Ad-verso aos preceitos, dogmas, princípios. Andar solitário por entre os homens, sem os lenços, documentos quotidianos, triviais de con-sentimento das idéias, pensamentos, valores e virtudes mundanos, à busca de quê, desejando o quê, esperança em quê.
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Feto, aeiou. Feto, aeiou. Feto. Féretro. Falta-me afeto. Falta-me redescobri-lo. Descentralizá-lo. Distribuí-lo. Entregá-lo.
Estou um feto. Molhado por dentro e por fora. De dentro para fora. Esse branco.
Esse sol.
Esse reflexo.
Esse eu.
Essa liberdade.
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Misturo. Tudo. Faço nada. Sensação. Portão. Plutão. Platão.
Este muro já devia ter caído. Todos caem. Esse entre nós. Entre eu e eu.
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A noite cerra as pálpebras com um olhar morto. A interminável madrugada instaura-se – reconheço a sedução do pecado nominal, anômalo, regular e irregular, veniais as vertentes do sublime, capitais os vestígios do perene. Só e nu. Por dentro, o cancro da indiferença a comer-me. Sentar-me à beira da vida é o suicídio mais covarde, por manter a aparência de desejar existir, ser sensível.
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Só... O manto verde e amarelo vem e corta-me pelo limite do grito. O sobretudo branco e azul some e resgata-me pelo absurdo da audição. Arde-me no corpo a angústia do exílio, queima-me. No sangue, a vertigem. Ser inteiro na consciência. Igual a mim e tão abandonado. A serpente da tarde ergue-se, insanamente, do fosso.
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Ah, se pudesse ser, nas mãos, só o símbolo do amor e da harmonia. O vento ermo no campo traz a inteligência no bolso.


#riodejaneiro#, 18 de agosto de 2019#

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