ESPARSO TEMPORAL - GRAÇA FONTIS POEMA/PINTURA




Ocultos perfis às fugacidades
Pendem da haste frêmita da vida
Ao medo suscintador que enlaça
Com aproximação de aviltantes mistérios
Presença diáfana da irrealidade
Sentida em revigor na parda intimidade
A cada nova-aurora irreconhecível
São cordas, grilhões transmultantes
Armadilhas crepusculares sem vozes altissonantes
A dispersarem-se ao de mais assustador
Emaranham, incrustam, fere e assombra
O dorso débil, trêmulo trazendo à tona
Das entranhas toda ardência, isolamento
No arfar descompassado do fluir-refluir
Como borboletas prestes à dissecação
No breve vôo rumo ao desconhecido
De dentro laceram os gritos e vertidos
Às ignobilidades artificializadas
Indeléveis na obscuridade superficial
Dos vestígios de sinais rasteiros
Provocadores "rupirantes"
Emissários das coisas maléficas
Interditam quaisquer ajuizar racionante
Dos sentidos corpóreos já entenebrecidos
E os fautos olhos antes luzentes
Tangidos n'alma, sobrancelhados em si
Na própria veia exilam-se
Ciente e condicionado às aves no ninho da morte
Atados a medos e carências que o mundo produz
A moral que o futuro crucificou
Nos trilhos cujo tempo não liquidificou.
Dos últimos sonhos remanescentes
Farto... deixou para o vento levar
Às falsas areias pousarem
Ou...
A aridez do chão frio acolher
Esse corpo estéril, inerte sem mais dia
Sem noite e sem veredas.
Se testemunhado?
Esparsos temporários de alguns vivos
Sob a mornidade da luz e seus olhos retardatários
Na correnteza veloz do tempo
Onde muitos na fragilidade
As lágrimas desaguam
Porquantos outros ignoram.

GRAÇA FONTIS
Rio de Janeiro, 15/08/2019


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