*ECHARPE DE NONADAS* GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA



Neste fim de tarde,
Não existem letras, não existem sílabas,
Não existem palavras,
Os olhos miram pálidas sombras.
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Este instante é uma melancolia única, nostalgia dupla,
tristezas triplas, angústias e vazios múltiplos,
pensamentos devaneando por abismos da ausência,
ideias circunvagando os espaços e constelações de algodão,
Tecendo o crochet da coberta de fios das verdades íntimas
A cobrir-lhes do inverno imenso da sabedoria,
Olhando as cores do arco-íris brilhando intenso,
Envelados, camuflados, encapuzados em silêncio;
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Momento de coisas terminadas
Como se cada corpo, de carne e ossos,
Desfeito em cinzas seculares, poeiras milenares
Repousasse na vigília da decomposição, no sono de cinzas
O exílio se reconhece
Nesta desesperança de brancas páginas vazias,
Nesta angústia de folhas empoeiradas,
Imóveis e esbranquiçadas, imóveis e cinzentas,
Entre as estrelas e a ausência de fôlego,
Entre a lua e o suspiro,
A vida não tem pre-fundas, a morte não tem fundo
O que antes da vida? O que depois da morte?
Perduram, perenizam-se, eternizam-se
Como a bolha de sabão
Que a boca sopra e o fragmento explode.
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Neste segundo à luz do tempo,
Neste instante à mercê de nonadas,
Todo horizonte em ação´
É de nulo sentido
Todo uni-verso em movimento
É de nítida significação dúbia a prerrogativa do silêncio,
E a perspectiva do exílio se revela inda mais,
Este tempo trans-mudado em echarpes cinzas,
Lenços azuis,
Expira exalando o perfume de lembranças,
Fenece respirando o ar de recordações,
Na pronúncia afônica de vernáculos,
Na voz rouca da palavra,
Na inutilidade da matéria na distância.
#riodejaneiro#, 30 de agosto de 2019#

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