DO NADA TRAVESSIA À SURPRESA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Epígrafe:
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O tédio da solidão é para quem não sabe contemplar o sentido efêmero do silêncio.(Graça Fontis)
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A madrugada é um abismo, vácuo de risos e dores, gargalhadas e angústias, exílio de reflexões, re-fazimentos
de circunstâncias íntimas, situações dúbias e princípios de escusos pensamentos, idéias múltiplas dos ângulos e perspectivas por... nada em tudo segue cantarolando a sua balada de outros horizontes além de todos princípios, origens, compreensões, entendimentos, a balada do sublime que o ouvido, auscultando e escutando ventos de silêncios, perpassando as íntimas quimeras do sublime, a imagem do espelho refletida com-pondo de si-mesma a alma livre, obstinada, escolheu (a liberdade) para os enigmas e magias que ascendem princípios, renova e matiza, apenas um modo impuro de atingir o porto propício... - inclinar aflito a razão sem razão, a alma predestinada à aventura de existir.
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Trago a fumaça à revelia do que me trans-cende dos sentimentos de tempo e verbo de ser, expilo-a ao deus-dará de todas as con-tingências, recupero o lince de meus olhares à distância que vêem miríades de imagens a ensaiarem as perspectivas da plen-itude branca da vida, a pena branca das aves que sobrevoam o espaço de todos os lugares, os ângulos onde as cores da paisagem do infinito se sintetizam, iluminando-a de desejos e vontades do verdadeiro verso do espírito do eterno.
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Efemérides seduzidas, efemer-itudes des-compassadas. Sorrelfas compactas de idílios, quimeras reduzidas de utopias. Fantasias simplificadas de sonhos, sonhos envelados de neblina. Sintonias, sincronias, harmonias, à luz as trevas, às trevas a luz.
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Alguém, à janela de suas verdades insofismáveis, sabe a minha linguagem final, a que aflora num susto a aparição do silêncio, a que flana suave e serena por sobre as águas do oceano, a que sagra e a-nuncia os fachos de enigma, a que abençoa as frinchas e frestas do nada. Nada vivente é Uno, é sempre, ao contrário, um Muitos.
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Nada de nada na madrugada, razões reticentes, certezas dispersas, alheias, indiferentes.
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Estou aqui onde me crio, re-crio, onde me invento, faço-me. De tinta são os meus traços, caracteres. Com palavras sistemas se criam. Na palavra se crê com fé profunda, das palavras um iota não se tira. Nascer e morrer,
eterno oceano, alternando a trama, a vida uma chama, e sentado ao tear vibrante do Tempo teço à divindade o seu manto vivo. A folha é de papel, linhas, margens, as letras são cursivas, in-cursivas, des-cursivas. Esboço um sentimento que retiro de mim dentro, garatujo uma emoção que me perpassa o íntimo, delineio uma idéia que se me a-nuncia, burilo um pensamento que se me re-vela: ainda não são os originais, não é a verdade minha... Re-crio-lhes as bordas e ad-jacências, recomponho-lhes a imagem, re-faço a face, re-estruturo o perfil. Evoco o abstrato, invoco o transcendente, faço das perspectivas a minha raiz, faço dos ângulos o meu ser, das linhas a alma, das entre-linhas o espírito.
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Farto de mim, distancio-me, fico à espreita, constato: na vida ou na arte, em carne, osso, caneta ou lápis onde estou-sendo não é quem sou, onde sou não é quem estou sendo, onde estou não é sempre, não é eterno, não é absoluto, não é efêmero, não é nítido, não é nulo, onde sou não é para sempre, o que sou é por um lince do olhar, por um lince do olhar sou o que é.
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Águas re-fletindo imagens sob raios numinosos do sol, lírios brancos à mercê de vento suave, belga pousado no arame farpado da cerca, trinando seu canto, nuvens brancas deslizando no azul celeste, pétala perdida de rosa vermelha sendo levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada, flores do flamboyant amarelo cobrindo a rampa, o quintal da casa.
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Sentimentos leves perpassando o íntimo, carinho, ternura, afeição, ouço o pulsar do coração, extasiado de emoção, no que em mim há, as volúpias da alma transcendem as elegias do instante de sonho, em mim sentindo íntimo, a alegria conjuga versos, a felicidade recita de rimas as fantasias do amor correspondido, do amor sentido profundo, do amor saboreado, do amor entre-laçado de corpos à busca do clímax absoluto e pleno. No que em mim deseja de Verdades as regências verbais tecem de erudição a estética do estilo sensível, espiritual, as metáforas conjugam de imagens a linguística do eterno, as regências nominais desenham no horizonte as perspectivas da linguagem do Ser e Tempo; e a contradição, quando perfeita, para sábios e tolos é mistério, é velha e nova, meu amigo, a arte nos interstícios da alma de verbos alucinados, desvairados... ligeiras são as quimeras que se vão, nada de nada em tudo...
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Esperanças delineiam-se de perspectivas, cânticos solenes em uni-versos líricos, plen-itude de êxtases compõem de estesias alhures de sentimentos à busca de subjetivas verdades, algures de desejos de felicidade à busca do espírito de con-templar o absoluto sentido efêmero, sentido volátil, sentido nítido nulo, sentido estrela cadente, sentido vazio, do belo, as metafísicas do fogo que ilumina os recônditos da alma e de onde a cor-agem da entrega se esplende a todas as dimensões, beleza de re-fazendas conjugam imagens e intuições, perspectivas e inspirações, criatividade e percepções, re-criando da memória o movimento, literalizando da recordação os instantes, no poema do espírito a presença viva do eterno feito amor, do efêmero feito desejo, do há-de ser feito querência, do simples feito grandeza...,
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O amanhecer é surpresa. "..." do nada feito travessia para o além...


#riodejaneiro#, 23 de agosto de 2019#

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