**TEXTUAL LOQUACIDADE SOMATIZA TEMORES, ÂNSIAS, ANGÚSTIAS E DECEPÇÕES DO ESPÍRITO** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto


Foi-se o embrião, naquele tempo em que se não distingue Laplace de uma tartaruga, se não discerne a Filosofia das vantagens de disputar a comida aos cães, porque a disposição dos contendores é a mesma, e leva o osso o que for mais forte. A fome é eterna, como a vida e como a morte.
As estrelas velam o ossuário da terra. A terra, encolhida no seu canto, dorme intranqüila na calçada fria e íngreme, sob os galhos e folhas da árvore. O mundo carcomido pelos cancros da civilidade arrasta-se no chão e lamenta os infortúnios, dissabores, desolação, solidão. Alguma esperança perdida nalgum tempo da vida? Algum sonho esquecido nas dobras da necessidade de sobrevivência; a vivência, quando? Alguma querência no tempo en-velada
de circunstâncias e inconsciência das buscas de verdade e eternidade? Alguma utopia escondida no punho das desilusões, fracassos, frustrações, medos? Em que tempo, curto, eterno? Alguma noite, longos dias, longas noites, dias solitários, noites distantes, madrugadas eivadas de lágrimas no deserto das inseguranças e medos. A vida se re-velará, mesmo com as razões in-versas, os sonhos re-versos de outrora, enganos, erros, medos, culpas, pecados, responsabilidades? Algum dia, e tudo será uma lembrança íntima, tudo serão recordações de crepúsculos, auroras, nos rios das esperanças sem margens, sem pressa, que seguem o itinerário do tempo, de que tive a oportunidade de dar bom-dia ao dia que se a-nunciava, aos novos desejos que se re-velavam nos sibilos de ventos perpassando vales, abismos, chapadas nos claros-escuros das pedras, sombras de luzes e da lua, de transeuntes solitários, homens que alimentam suas esperanças de felicidades, paz, alegrias, indivíduos que desejam encontros de amor e paz no futuro; deslizam suaves, fazem cócegas no olhar, o vazio e angústia, tristeza, desolação, tecem a dor de retinas que assistem, no velar da alma e espírito, às tristezas, melancolias e nostalgias, romantismo e metáforas da poiésis, simbolismo e neoparnasianismo do soneto, poesia, do verso e estrofes de palavras vazias, de versos plenos, de estrofes in-completas; crocheteiam o sofrimento de pupilas, em cujos reflexos das imagens e das coisas, entoando cânticos, ritmando melodia; no peito, retinam desilusões, medos e fracassos.
Risos e prantos se confundem nos delírios da paixão, na insanidade dos sentimentos, emoções, nos in-vernos de re-versos in-versos das utopias, sonhos, desejos, vontades, esperanças tudo será possível, cabe apenas a força de vontade, as luzes de verdades da vida conquistada na dificuldade, angústias, tristezas, preconceitos, discriminações. Tudo será realizado na fé.
Meu Deus, o que é isto? O desespero, agonia de tantos despautérios, vicissitudes, de tantas virtudes misturados, perfeito angu de caroço, foram tantos que me alimentei de tanta hóstia sagrada, tanta hóstia sagrada, que fiquei hostiado, e até rei da Redenção. A hóstia sagrada tem a virtude de fazer reis. O mesmo acontece quando se come tártaro, acaba-se rei dos Tártaros, e o tártaro tem a virtude de fazer Tártaros.
E me sinto na “roda-viva” dos sentimentos nítidos e nulos. E me sinto na “dança” de luzes da lua e estrelas um ser opaco, e me sinto nos “re-versos inversos” da vida em êxtase de agonias e ansiedades.
As palavras não exprimem as idéias, o pensamento condiciona a emoção, futuro é outro presente na esguelha de olhos noturnos, nos soslaios dos olhares vespertinos, nas esguelhas das visões nupciais do alvorecer, das visões matutinas às revezes do crepúsculo, presente serão ontens esquecidos e latentes, sentimento de busca e sublimidade, da sublimidade ao sentimento de busca dos esplendores e desejos de pássaros que cruzam o céu, entoam suas líricas nas grimpas de árvores frondosas e folhas viçosas, expressam em seus instintos diversos, habitam as silveirinhas dos lamentos e silêncios. Ontens serão subterrâneos do espírito em cujas veredas, culpas de desatinos, e os desatinos de culpas e pecados, as ansiedades clamam por outros uni-versos, em cujas trilhas, a-núncios e revelações se espelham, outroras serão do espírito, em cujas profundidades, as angústias de sonhos e decepções, as luzes que iluminarão os caminhos.
Se vós me concedêsseis mínimo de prosa nos dedos que, em câmara lenta, insinuam dígitos que são sentimentos nas almas brancas de páginas passadas, nas páginas brancas passadas a esmo as letras ipsis do vi-a-ser! Se vós me consentísseis a destreza das penas, com quem sobrevoais mares, lagos e desertos, florestas e abismos! Longos dias, longas noites, em busca da luz plena e absoluta, contemplando a lua em todas as suas manifestações, as estrelas em todas as suas revelações. Se vós me désseis o privilégio de um só segundo de anunciação divina, eterna e verdadeira, de saborear o gosto da água que sacia a sede da eternidade, imortalidade, os dígitos teriam sido apenas modo de imprimir os sentimentos e emoções que me habitam; do vôo, mostro-lhe as nuanças, detalhes não digo, são efêmeros, perpassam fios de outono nos anéis da medula, pormenores tão menos, são cobras que se auto-devoram pelo rabo, nuanças de dores e sofrimentos adentro longas noites de insônia, vigília de letras e sons, de vozes que ecoam nos lamentos os cânticos de melancolias, nuances de verdades e vazios que se entrecruzam. de desejos que refletem nos espelhos os ritmos de nostalgias pormenores de fantasias e angústias que se distanciam nas curvas dos tempos e relógios, nalgum instante a esperança se me extasia os delírios.
Habita a volúpia do eterno neste instante em que as criaturas sentem os raios do sol, os homens iniciam, na labuta, esperança de águias sobrevoando florestas, estradas de poeira sem fim, a vida na luta contínua e desmedida sonha...
Girassóis à soleira de casas, casebres, ao relento, alegram da vida o húmus de todas as sementes, saudades, ausências, carências. dois corpos que se amam comungam no sono ventos de tão puros sentimentos perpassam-lhes.
Na noite escura, no orvalho acompanhado de vento singelo, o céu no silêncio abana as últimas gotas da chuva. Sim... O verde de teus tesouros ilumina a escuridão? Não os vejo, meu amor, para mim abrem horizontes. Mergulho em teus raios, no brilho de teus olhos. o que sinto, o que me trans-cende uni-versos traçam na carne os êxtases, alegrias, prazeres, vestígios de miríades,
entre-laçando nos ossos, corpos de angústia, tristeza, dor e sofrimento. horizontes tecem no sangue os ímpetos, fantasias, quimeras, sonhos, costurando no espírito, utopias de esperanças e fé, de confiança e con-(s-)-ciência de olhares profundos na vida e seus dons e talentos.
Não me escutas! As águas de fontes cósmicas só enchem os canais humanos à medida que estes se esvaziarem. Ausência absoluta de palavras, sentidos e metáforas, nos lábios, sorriso sublime de amor, representado nas flores secas que são sementes de origens... Representado nas rosas vivas e viçosas que são raízes de crepúsculos e auroras, e no ínterim de contemplações, finge compreensão, finge recolhido e acolhe no peito o carinho desdobrado, na mente a ternura re-presentada na manhã da vida, dos desejos e vontades de felicidade, paz, amor; ouçam, escutem, sintam dores, sofrimentos, desesperanças, os homens se queixam de suas desditas, lamentam suas sendas perdidas. Só tu, tu podes com simples roçagar a pele esquecida nos sonhos que parecem únicos, retirar-lhes das angústias a suavidade da fé, das tristezas a sublimidade das esperanças.Oh, sudário de origens e raízes, em cujos nós, linhas e perspectivas, a face verdadeira, pura, de águas límpidas refletem a continuidade da vida. a lua sobe solitária, a memória se esvaece, suspiram pela morte solene em dias ensimesmados, pela vida plena em noites escuras, pela preguiça sublime, o sol forte, calor intenso. Suspiro o tempo em que as palavras não atendiam rápidas aos pérfidos afagos dos dedos as mãos feitas concha.
O ruim é comível - e, dizendo isto, surpreendi-me com o meu cachorro de estimação comendo a graminha que nascera à beira do passeio da vendinha de secos e molhados: "Layla, o que é isto - você comendo capim?! -, resta saber se é mais digno do homem disputá-lo, por virtude de uma necessidade natural, ou preferi-lo, para obedecer a uma exaltação religiosa.



(**RIO DE JANEIRO**, 15 DE JANEIRO DE 2017)


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