**DESABAFO RELEVANTE E INDIGNAÇÃO REPUDIAM DISCREPÂNCIA/ARBITRARIEDADES QUANTO POLITICAGEM EDITORIAL** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/CRÔNICA: Manoel Ferreira Neto


Cuba-libre... Bebida deliciosa, se produzida no ponto com os seus ingredientes. Conheço também a palavra como exclamação: quando algo ultrapassa os limites do bom senso, o mesmo que dizer "Meu Deus... O que é isto! Não acredito!" Ou simplesmente: "Putz!..." Não me é dado saber se a embriagues desta bebida é tão absurda assim em nível alguém destrambelhar-se tanto.
Não há criatura de Deus quem não possua a ciência das arbitrariedades e gratuidades de Editoras com poetas e escritores desde a recusa de Edição de obras, e obras de grandes valores literários, como, por exemplo, Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa, que fora recusada por Editora - algumas, hoje, são obras-primas da humanidade, universais -, aos Direitos Autorais, inúmeros foram lesados. Outro exemplo em dimensão diferente: Dostoiévski contactara com Editora, prometendo um romance, O Jogador,e por ele recebeu adiantado certa quantia. O editor "pegou no pé" de Dostoiévski com data marcada. Se não entregasse a obra naquele tempo, ficaria com todos os direitos da obra publicada e a sê-lo. Impossível. O prazo era pouco. Felizmente conhecera estenógrafa, Maria Grigorievna, quem trabalhou com ele na estenografia até a entrega do livro. Apaixonaram-se. Casaram-se. Dostoiévski enfim encontrou a paz para escrever seus livros, fora muito feliz com a esposa. Os direitos autorais envolvidos estão neste episódio.
O grande, imensurável sonho do escritor é ver sua obra editada, veiculada, divulgada. Mais que sonho, é a sua vida. E o que era a vida torna-se com simplicidade a morte. E nada se pode fazer ao contrário a menos que as Leis dos Direitos Autorais sejam revisadas, numa linguagem chinfrim: mais fácil passar um hipopótamo no buraquinho de agulha de fixar botões do que serem respeitados.
Após vinte e um anos alimentando sonho de ver seu livro publicado, estando quase a "entregar as cartas", isto é, deixar de lado o sonho, não mais escrever única palavra, conseguira o escritor uma oportunidade. Mandara para várias Editoras o seu livro, devidamente encadernado em copiadora, o valor desta confecção não é barato, ainda incluindo a postagem em Correio, e a resposta era a mesmíssima: "Não estamos interessados", através de carta comercial. Os cadernos não foram devolvidos. Por intermédio de amigo, tendo-lhe entregue um caderno - e este amigo ouviu o pedido: "Por favor, publicar livro é a minha vida. Ajude-me". Dias depois, a Editora entrou em contato com o amigo, pedindo que o escritor entrasse em contado para uma conversa a respeito da obra. Se o escritor tivesse problema cardíaco, ter-se-ia enfartado tal fora a sua alegria e felicidade. Tentaria de algum modo arrumar o dinheiro para viajar, ir conversar com o editor. Primo não emprestara a quantia, dera-lho.
Quando se diz que este métier é mais sujo que puleiro, só se escutam controvérsias. Quem nele se mete, sabe o que significa. Vende a dignidade, a honra, o caráter, personalidade. O escritor não podia nem em sonho imaginar o que lhe estava aguardando.
Fora muitíssimo bem recebido pelo Editor, sendo-lhe oferecido um Whisky para relaxar, estava tenso, enquanto conversavam.
Sendo ambos conterrâneos, o Editor começara a conversa dizendo: "Veja você! Se houvesse continuado a residir em nossa cidade, hoje estaria com um pratinho de lata à porta da igreja. Sou hoje escritor famoso, empresário, proprietário desta editora." O escritor olhou-o de soslaio, conhecia com perfeição a sua vida pregressa na cidade, ignorante, estúpido, radical, preconceituoso... e outras cositas mais. Ficou naquela sinuca de bico: se não concordasse com a afirmação, jogaria a única oportunidade de ver o sonho realizado, se concordasse, não diria que fosse injusto com a cidade, tinha sérios problemas, mas o que lhe acontecera fora de sua responsabilidade: negligenciava a todos, sentia-se superior. Nada dissera em resposta. "Quem cala consente", eis o provérbio, assim entendido.
Quem me contara esta história não soubera precisar se o livro fora editado. Também não me fora dita a razão de alguns meses após numa matéria jornalística o escritor revelara ipsis litteris o seu encontro com o Editor. Por algumas semanas não se falava em outra coisa senão isto. Algumas pessoas chegaram a dizer que, se o Editor fosse à cidade, ter-se-ia de responder às acusações feitas na matéria jornalística. Verdade é que desde então o editor nunca mais colocou os pés na cidade.
Alguma coisa de muito séria teria acontecido entre o editor e o escritor para que este concedesse matéria em tablóide a respeito. Leva-me a crer que o livro fora publicado, de algum modo fora lesado. Tinha o trunfo em mãos sobre a fala do editor a respeito da cidade. Dera o troco a critério e linhagem.
Algum tempo mais tarde, no restaurante D´Lucas, Edifício Maleta, Belo Horizonte, a minha namorada com quem estava eu acompanhado num jantar, reconheceu o editor. Não dei a menor atenção, não sou deste métier, não me diz respeito. Não demorou segundos após o reconhecimento, o editor fez um escândalo escalafobético por alguém na mesa haver se dirigido à sua mulher de modo indevido, o indevido por sua conta. A pessoa não dissera nada de mais. Verdade é que se levantou da cadeira, disse dúzias de palavrões, puxara o forro da mesa, jogando pratos, garrafas de whisky no chão. Um escândalo. Chamou o garçom, mandou acertar a conta incluindo os prejuízos. Assinou o cheque como se nada houvesse acontecido. Foi embora com a mulher. Ninguém chamou a polícia, o que era devido, mas se tratava de escritor famoso, proprietário de Editora.
Não existe aquela realidade de numa entrevista o entrevistador dizer ao entrevistado: "Qual seria o seu conselho para os novos escritores que estão começando a sua carreira?" Se conselho fosse bom, dizem as boas e más línguas, não seria dado, mas vendido. Pois bem... O conselho que eu daria a quem sonha ser escritor é que jamais abandone as letras, escreva, escreva, escreva... escreva sempre. Não há problema se não vir um livro publicado, no futuro esta obra será valorizada e publicada, e quando isto acontecer, quiçá os Direitos Autorais sejam plenamente respeitados.



(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE JANEIRO DE 2017)


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