ESCRITORA E POETISA Sonia Gonçalves COMENTA A SÁTIRA /**DO PRIMÓRDIO TEMPO... DISSERTAÇÃO IRREVERENTE DE ILUSÕES E MAZELAS**/


Li sim Manu...Li e reli porque li cedo mas não deu pra comentar então reli agora...Nossa, você botou todos os teus ais e os meus também nesse texto.Sinto muito do que disse.O mundo realmente é tudo velho, mas discordo sobre o Sol, o céu, a Lua e toda a natureza, um dia chove noutro venta e faz calor, para mim a cada manhã novo dia, nova oportunidade pra se fazer mais Feliz, claro que têm dias e dias né?Tem dia que me sinto um Matusalém noutros me sinto um neném engatinhando isso também faz parte do nosso cotidiano né?Agora...Que tudo isso cansa, cansa e muito!Todos estamos meio que assim de "saco cheio" e nem somos papai Noel, é política, chacina, em cima em baixo na Rocinha, no cangaço do Ceará , na Bahia também violência aportando por lá, por cá em todo lugar... Está duro de morrer mas tão fácil pra matar, viver cada vez mais complicado, caro e supérfluo, todos muitos supérfluos com valores bestas, a maior confusão ninguém sabe mais pra onde está indo.A política desacreditada no chão e ainda têm idiota que defende os acusados, não existem INOCENTES são TODOS CULPADOS, agora a crise que já vinha antes está sendo jogada nas costas de quem assumiu, ora veja que beleza a crise já rolava, mas se eu disser isso são capazes de me engolirem acharem que estou tomando partido desse ou daquele LADRÃO! Bem pelo menos nunca vimos tantos políticos presos se é que não saem a noite pra dar uma "livre voltinha" Enfim...Te li reli e adorei sua crônica excelente tudo ideias inteligentes...Mas faça-se você novo a cada dia já que tudo é velho tá?Sei que converso com você, e tens o vigor de um jovem de 20 e como disse muitos estão morrendo correndo atrás sei lá do que... Tá confuso demais...destaco esse trecho do seu texto após ter citado a mulher que matou o marido, o que me fez lembrar que a mulher do embaixador grego que tinha um amante policial também o matou , ora veja que coisa maluca as mulheres sempre lutaram com o slogan "Quem ama não mata" mas a Elise matou o japonês da Yoki por ciúmes por Amar "Os tempos mudaram sejamos nós novos Manu.Eu estou prontificada para me renovar ainda que seja pra me repetir aqui e ali.... rsrsr Beijos
Ps: Sem estricnina na língua =D



Antes de continuar escrevendo este editorial, que, com efeito, não será lido por ninguém, se alguém o fizer é capaz de molhar a ponta da língua com estricnina, conseqüência da consciência do tédio de tudo, do fastio de todas as coisas, não haver modo algum de re-verter, para isso seria necessário a vida ser outra, e nunca será, faz-se mister saber a idéia que faço de um legislador, e a que faço de um salteador(Manoel Ferreira Neto)



Sônia Sonia Gonçalves(Soninha Son)



*DO PRIMÓRDIO TEMPO... DISSERTAÇÃO IRREVERENTE DE ILUSÕES E MAZELAS**
TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis
SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto



Farto de vendavais, naufrágios, chacinas presidiárias, corrupções, boatos, mentiras, polêmicas, fofocas, farto de ver como se des-compõem os homens, bancários e diretores, advogados e engenheiros, políticos e delegados, papas e cardeais, farto de mim, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, de algazarra de vozes sem som. Na infância, ouvia minha avó dizer: “Estou farta de ser paraplégica. Estou farta de ficar sentada nesta cadeira dias, meses e anos, faça sol, faça chuva, faça frio”.
Tudo isso cansa, tudo isso exaure, o suor frio corre no rosto a todo instante, haja lenços para enxugar – é só ligar o aparelho de televisão em jornais: crimes, drogas, desastres de ônibus, aviões, corrupções políticas. Estou mesmo de “saco cheio” de tudo. Este sol é o mesmo sol, de por baixo do qual, segundo uma palavra antiqüíssima, os tempos são imemoriais, nada existe que seja novo. A lua não é outra lua. As estrelas não são outras estrelas. O céu azul ou embruscado, as nuvens, o galo da madrugada, é tudo a mesma coisa. Lá vai um para o fórum, defender culpado, enjaular inocente, outro para o consultório médico, prescrever receitas, este vende, aquele compra, aqueloutro empresta a juros exorbitantes, enquanto a chuva cai ou não cai, o vento sopre ou não; mas sempre o mesmo vento e a mesma coisa.
Tudo isso cansa, tudo isso exaure. Não fosse tudo isso o suficiente, a vida é a mais velha, juntamente com os homens, tão logo a vida, de imediato o homem e todas as criaturas de Deus; o corpo dividido em três partes, cabeça, tronco e membros, o corpo dos hipopótamos, dos jegues, das galinhas, o corpo de cada um deles é o mesmo, salvo pouquíssimas aberrações da natureza. A morte é a mesma para todos: cerimonial de velório, lágrimas verdadeiras e de crocodilo, angústias, tristezas, o fechamento do caixão, quatro homens carregando-o, o enterro; ou são alimentos dos lixeiros da humanidade, em se tratando de animais.
Em quaisquer ângulos que se analisem tudo é velho neste mundo sem cancelas, sem cercas de arame farpado ou liso. Os homens de vinte anos dizem-se jovens, fantasiam tudo, têm namoricos fugazes, vão aos botequins e restaurantes encher a cara, às festas para a paquera, entram na universidade, tornam-se profissionais graduados, com ou sem qualquer eficiência. Os de cinqüenta dizem-se não tão jovens, mas ainda jovens, há muita água para passar debaixo da ponte. Os de setenta, oitenta dizem-se velhos, mas não senis, caducos. Esquecem-se de que isto é visto em termos de idade, de estar habitando o mundo, não se lembram de pensar que tudo isto é ilusão, fantasia, quimera, quiçá doidura das bravas: a vida é velha, antiqüíssima. Tudo isso cansa, tudo isso exaure.
Nada sobra: idéias, ideais, pensamentos, sonhos, utopias, angústias, tristezas, etc., etc. Ninguém pensa ou quer fazê-lo, é acumular dores e sofrimentos, tédios os mais sublimes e variados, não restando alternativa senão o suicídio em massa, no mundo ficarão só as coisas e objetos, que, ao longo do tempo extinguirão com a ação das chuvas e sol.
Tal era a reflexão que eu fazia comigo, enquanto trabalhava na nova edição de meu tablóide O Sertão Mineiro – pensava que também é velho na imprensa homossexuais jornalistas, colunistas, diretores. Que me diriam eles que não fosse velho? O que menos apita, quem menos importa no tablóide é o leitor, isto é, de nossa atualidade mesquinha e hipócrita, o que diria eu ser estupidez, o leitor desde tempos imemoriais gosta de escândalos, crimes, corrupções, vulgaridades, por isso sobreviveu até a modernidade, sobreviverá até a consumação dos tempos. Res-ponder-me-iam a plenos pulmões: “antigamente, a língua era usada com critério e conhecimento, não era necessário frequentar escolas, ouvir as lições do professor, para assimilar as regras e exceções dela, quando hoje a língua não diz qualquer coisa, não tem a mínima importância, ela impede a consciência, forte ad-versária, dos problemas que estão aí a olhos cegos ou vendados, além de instituir e institucionalizar a “liberdade de expressão”, que é a febre icteróide do momento, como sempre houve, há, sempre haverá o “icteróidismo”.
A guerra é velha, quase tão velha como a paz: guerra nas Malvinas, guerra no Vietnã, guerra no Iraque... Os próprios diários são decrépitos. A primeira crônica do mundo é justamente a que conta a primeira semana dela, dia por dia até o sétimo em que o Senhor descansou. O cronista bíblico omite a causa do descanso divino; podemos supor, com qualquer espécie de ignorância que nos habite, tipo de alienação, que não foi outra senão o sentimento da caducidade da obra. Deus dizendo, sentado em seu trono: “Agora, vivam o mesmo por todos os séculos, na consumação dos tempos a caducidade de minha obra estará por inteira re-velada”.
Repito, que me trariam os diários? As mesmas notícias locais e estrangeiras, a mulher que matou o marido com duas facadas, porque ele se drogava e dava-lhe surras constantes, as colunas sociais eivadas de pessoas sem qualquer importância social, artística, política, científica, retratos de colunista com personalidades importantíssimas do métier cultural e artístico, com o mesmo sorriso e olhos brilhantes, dizendo na cara mesma “estão vendo como sou importante! Minha imortalidade está garantida”, incêndios, notas de falecimento de deixar caírem o queixo das sete maravilhas do mundo, uma tempestade daquelas que deixou milhares de pessoas na miséria insofismável, a crise política de Honduras, do Brasil, o aniversário de jovem, filha de Fulano e Beltrana, as cebolas do Egito, o carnaval do Rio de Janeiro.
Abro as páginas sem qualquer curiosidade, leio sem interesse algum, deixando que os olhos caiam pelas colunas abaixo, ao peso do próprio tédio e fastio.
Antes de continuar escrevendo este editorial, que, com efeito, não será lido por ninguém, se alguém o fizer é capaz de molhar a ponta da língua com estricnina, conseqüência da consciência do tédio de tudo, do fastio de todas as coisas, não haver modo algum de re-verter, para isso seria necessário a vida ser outra, e nunca será, faz-se mister saber a idéia que faço de um legislador, e a que faço de um salteador. O leitor perguntará: “O que têm as idéias que ele faz do legislador e salteador com o tédio e fastio, tema deste editorial?”; pergunta mais que percuciente, vale isto ressaltar e sublinhar. O legislador é o homem deputado pelo povo para votar os seus impostos e leis. É um cidadão – não indivíduo qualquer, embora seja encontrado às pencas nas câmaras – ordeiro, ora implacável e violento, ora tolerante e brando, membro de uma câmara que redige, discute e vota as regras do governo, os deveres do cidadão, as penas do crime. Advogado mais que conceituado dissera-me que de semana em semana é preciso adquirir outro livro da Constituição Brasileira, de minuto a minuto outras leis, emendas são feitas. O salteador é o contrário. O ofício deste é justamente infringir as leis que o outro decreta. Os gênios e intelectuais mesmos dizem: “lei foi feita para ser infringida” e o populacho endossa a unhas e dentes. Inimigo jumentado e juramentado delas, contrário à sociedade e à humanidade, tem por gosto, prática e religião tirar a bolsa aos homens, e, se acaso for necessário, a vida. Foge naturalmente aos tribunais, não passam na porta das delegacias, e, por antecipação, aos agentes da polícia, corre léguas e milhas deles. A sua arma é um revólver, um punhal, uma faca, pedaço de pau; para que lhe serviriam penas, a não serem de ouro? Um revólver, um punhal, olho vivo, pé leve, e mato, eis tudo o que ele pede ao céu.
Dadas estas noções mais que elementares, imagine o leitor com que alvoroço li esta notícia de uma de nossas folhas: “Foi preso o vereador Thalis Josefino, e expediu-se ordem de prisão contra outros, por fazerem parte de uma quadrilha de salteadores, que infesta a nossa comunidade”. Acredito terem sido poucos os leitores que leram essa matéria, se é que há alguém, visto que já estão enfastiados de tanta corrupção na política.
Sim, essa mistura de discurso e espingarda – não creio seja coisa nova, até o que não existe, jamais alguém ousou fazer, é já velho: não me consta que algum vereador tenha feito discurso na tribuna com uma espingarda em mão -, esse apoiar o ministério com um voto de confiança às três da tarde, e ir espreitá-lo às cinco, à beira da estrada, nos jardins da avenida Sanitária ou da Integração, para tirar-lhes o resto do subsídio, não é comum, nem excêntrica, muito menos rara e inusitada, é única. As instituições parlamentares não apresentam em parte nenhuma esta variante. Ao contrário, quaisquer que sejam as modificações de clima, de raça ou de costumes, o regímen das câmaras difere pouco, e, ainda que difira muito, não irá ao ponto de por na mesma curul Nero e Pilatos. O leitor cai na gargalhada! Tem todo o direito de fazê-lo, não o fizesse, acabaria eu por acreditar não haver atingido o objetivo, desde que tomei da pena para escrever este editorial, identificando em todos os níveis possíveis e impossíveis, transcendentes e contingentes, o mesmo que impera, a velhice de todas as coisas e da vida mesma. O tédio também é leitmotiv de riso, só que nervoso e desesperador.
Há alguma coisa nova de por baixo do sol?
Senti-me fora de mim, estupidificado, bestializado. A situação é, em verdade, aristofanesca. Só a mão do grande cômico grego podia inventar e cumprir tão extraordinária facécia. A folha que dá a notícia da prisão do vereador Thalis Josefino e seus comparsas não dá conta de provável confusão de linguagem que há de haver nos dois ofícios, salteador e legislador. Quando algum daqueles vereadores tivesse de falar na Câmara, ao invés de pedir a palavra, podia muito bem pedir a bolsa ou a vida dos presentes. E nada ficaria, em absoluto, fora do seu lugar; com um minuto de atenção e agilidade se tira o relógio a um homem, e mais de um na Câmara preferiria entregar a bolsa a ouvir um discurso de justificativa da corrupção que fora a razão de haverem sido presos.
Por todos os deuses do Olimpo, caríssimo leitor! não há gosto mais perfeito na terra. A novidade está no mandado de prisão aos legisladores corruptos – jamais ouvi dizer que algum vereador de nossa comunidade tenha sido preso mesmo, atrás das grades. Foi a primeira vez que o mandado foi expedido. Há-de ressaltar um político que na sua gestão criou um presídio. Este político foi preso, o seu cárcere seria neste presídio. Deu piti para não ser mandado para lá. Por haver construído o presídio, os presidiários iriam acabar com ele. Lembrou-me o Dr. Guillotin, quem na Revolução Francesa, criou a guilhotina. Fora executado nela. A História se repete não com os mesmos fatos. Gargalhei de deitar no chão e espernear com os pitis do político com medo de ser morto dentro do que ele mesmo construiu. Fiquei triste, não com a prisão dos corruptos, não com a corrupção que realizaram, mas pelo fato de que foi uma coisa nova de por baixo do sol de nossa comunidade.
A própria poesia perde com isto; ninguém ignora que o salteador, na arte, é um caráter generoso e nobre, e o legislador é que faz leis a favor do plágio, contra os direitos autorais, contra a liberdade de expressão e inspiração, contra a sensibilidade; re-criando Voltaire, não é negócio para os legisladores que as artes identifiquem suas mazelas e corrupções. Thalis – se é assim que se lhe escreve o nome, neste sentido a liberdade é total e absoluta, pode-se-lhe escrever Talis, Thális; aliás, já vi, li nota de falecimento com o nome da pessoa completamente distorcido: Maria Elba Lacerda se tornou Maria da Silva Lacerda, uma mulher que não se casou, não se divorciou, não teve filhos, não teve netos e bisnetos, quando tudo isso na vida dela aconteceu – pode ser que tivesse ganho um par de galochas de grife a tiro de espingarda; mas estou convencido e persuadido que proporia à Câmara uma pensão à viúva da vítima. São duas operações di-versas, e a di-versidade é o próprio espírito grego. Adeus, minha ilusão de instante de mostrar aos homens o tédio de tudo que há no mundo, a velhice da vida, dos sistemas, das idéias, ideais, pensamentos!
Tudo continua a ser velho; nihil sub sole novum.
Nem sempre res-pondo por papéis velhos, por matérias e artigos velhos; mas aqui está um que parece autêntico; e, se o não é, vale pelo texto, que é substancial, cabendo ao leitor apenas ler não com os olhos da razão e da galhofa sem limites e fronteiras, mas com a sensibilidade. Se amanhã, depois de lido esta matéria, a população resolva vez por todas tocar fogo no prédio da Câmara, não sou eu o res-ponsável, o culpado, enfim tudo isso é de tempos imemoriais.



(**RIO DE JANEIRO, 04 DE JANEIRO DE 2017)


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