Maria Isabel Cunha ESCRITORA E POETISA COMENTA A ÉGLOGA PROSAICA /****DO INAUDITO EXALA-SE E EXPÕE-SE O GENESIS DO SENSÍVEL, INTUIÇÕES E INSPIRAÇÕES CADENCIADOS NA ENIGMÁTICA LITERALIZAÇÃO**/


Quantas mãos vazias de carências vizinhas ! Na verdade é o constatar da realidade, do mundo atual, indiferente ao amado, a tudo que o cerca. Cada vez mais a solidão abrasa a alma que se sente desprotegida, sozinha e sofre sem ser peça teatral, é o teatro da vida no real. O mundo de cada ser é um enigma carregado de dores que tenta remoer e esconder, com receio do escárnio do vizinho azougado que apenas deseja apontar e apunhalar. Um abraço, amigo.



Maria Isabel Cunha



**DO INAUDITO EXALA-SE E EXPÕE-SE O GENESIS DO SENSÍVEL, INTUIÇÕES E INSPIRAÇÕES CADENCIADOS NA ENIGMÁTICA LITERALIZAÇÃO**
TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis
ÉGLOGA PROSAICA: Manoel Ferreira Neto



Do olhar longínquo e vago, quantos sussurros de línguas crispadas, "quantas mãos vazias de carências vizinhas", quantas mãos sem entrelaces, sem serem feitas conchas. Desliza volátil desatina, "destemido, sem destino, impotente", quero ir ao In-finito. Repasse...
Há mínimos lenitivos, recalcadas dores ignóbeis, retrogrados sofrimentos inóspitos, melancolias insubordináveis. Há o pranto no teatro. Há o final feliz nas telas de salas de projeção. Há o espírito da vida nos poemas de verdades da alma, esperanças e des-encontros. Embacio as luzes, engolfo-me num sinistro crepúsculo de sábado.
Tenho palavras em mim desejando, buscando porto, são roucas e estridentes, irritadas, enérgicas, esconseadas há tanto tempo, seria que perderam os sentidos, seria que perdessem o sentido, querem simplesmente dizer-se, obscenos gestos avulsos. Vim aqui só para dizer, o que há-de silenciar-me, o que há-de calar-me? Não perde por esperar o eco das palavras musicalizando ritmos e melodias intrínsecos do coração, "a solidão abrasa a alma que se sente desprotegida, sozinha e sofre sem ser peça teatral, é o teatro da vida no real."
Águas re-fletindo imagens sob raios numinosos do sol, luzes re-fletindo perspectivas sob a claridade do alvorecer, lírios brancos à mercê de vento suave, belga pousado no arame farpado da cerca, trinando seu canto, nuvens brancas deslizando no azul celeste, pétala perdida de rosa vermelha sendo levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada.Outras plumas, o céu se desfaz.
E eu, pobre, miserável, de sentir medo de tanta feiúra, desmiolado, seguindo em frente... Pela esquerda se entra, pela direita se sobe os degraus, seguindo as linhas infinitas das páginas das contingências em baladas de paraísos olvidados.
O ar da madrugada é estritamente necessário para a continuidade das querências de outras perspectivas dos sentimentos e da entrega, eis-me sentado à amurada perscrutando, à distância o corrimão da ponte, as luzes acesas, passadas nas frestas entre as folhas das árvores de esquerda e direita, as calçadas escuras, compondo círculo, nas adjacências sombras.
Oh, metafísicas barrocas cadenciando o belo e o feio!!!
O que há de mistério e inconsciente, o que há de mítico e místico, o que há de lenda e folk-lore, o que há de mitológico, do nada quiçá possa haver; olhos perdidos no espaço de todos os versos e verbos da noite e do dia, da chuva torrencial e sol escaldante, quem sabe e conhece artificia o eterno que preenche as lacunas das novas lições. Visões interceptadas, e tudo o mais inter-dito. Outras riquezas ocultas se despedaçam. Afetando entregar-me, doar-me ou render-me, a cada suspiro mais me in-trospectivando, re-traindo as dialéticas das ciências sublimes e formidáveis e as pesquisas ardentes do inesquecível que se mostram na imagem do espelho uni-versal, des-piciendo monumentos erguidos à Verdade de o mal da vida em ecos, sibilos se dispersam, desvanecendo treva espessa que entre os raios do sol inda se filtra.
Sentimentos leves perpassando o íntimo. Carinho, ternura, afeição.
O que há de mistério e inconsciente, o que há de mítico e místico, o que há de lenda e folk-lore,o que há de mitológico, do nada quiçá possa haver; olhos perdidos no espaço de todos os versos e verbos da noite e do dia, da chuva torrencial e sol escaldante. "O mundo de cada ser é um enigma carregado de dores que tenta remoer e esconder, com receio do escárnio do vizinho azougado que apenas deseja apontar e apunhalar", esperar não é saber, esperar o enigma carregado de dores refazer-se, esperar os mistérios carregados de questionamentos e indagações re-nascerem-se, quem sabe clarear as idéias, ideais... "Somos todos iguais braços dados ou não." E só no amor que o amor há-de chegar, de eternizar nos dialetos da língua os genitivos da alma.
Ouço o pulsar do coração, extasiado de emoção, no que em mim trago dentro, as volúpias da alma transcendem as elegias do instante de sonho, trans-elevam églogas e idílios do minuto de ilusões.
Em mim, sentindo íntimo, a alegria conjuga versos, a felicidade recita de rimas as fantasias do amor correspondido, do amor sentido profundo, do amor saboreado, do amor entre-laçado de corpos, busca do clímax absoluto e pleno, busca dos nomes escritos nas estrelas. No que em mim deseja de Verdades as regências verbais tecem de erudição a estética do estilo sensível, espiritual, as metáforas conjugam de imagens a linguística do eterno, as regências nominais desenham no horizonte as perspectivas da linguagem do Ser e Tempo, do estilo do Ser e Nada, e nos interstícios da alma de verbos alucinados, tresloucados, esperanças delineiam de perspectivas cânticos solenes em uni-versos líricos, vim de longe, vou mais longe, quem tem fé e utopias vai me esperar no dia que este mundo vai virar, plen-itude de êxtases compõem de estesias alhures de sentimentos à busca de subjetivas verdades algures de desejos de felicidade à busca do espírito de con-templar o absoluto sentido efêmero, templo sem tempo de mim, tecendo o terço das ipseidades e facticidades, sentido volátil, sentido nítido nulo, capela sem efígies hereges e proscritas, sagradas de minh´alma, sentido estrela cadente, sentido vazio, sentido lua minguante, sentido fugaz, sonhos do belo, beleza de re-fazendas conjugam imagens e intuições, perspectivas e inspirações, criatividade e percepções, re-criando da memória o movimento, do in-audito o leitmotiv das utopias do sublime, re-inventando das lembranças o impulso, literalizando da recordação os instantes, a coisa-oferta que se abre fortuita, gratuita à minha perspicácia em engenhar no poema do espírito a presença viva do eterno feito amor, do efêmero feito desejo, do fugaz feito fantasia, do há-de ser feito querência do simples feito grandeza do nada feito travessia para o além... Quê sol quente e quê ex-tases do novo dia que vai chegar!



(**RIO DE JANEIRO**, 27 DE JANEIRO DE 2017)


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