**IMERGEM-SE/EXPANDEM-SE SENSÍVEL E INSTINTIVAS, DELINEANDO-SE COM IMPARCIALIDADE E SATIRICIDADE, DEBILIDADES DO ESPÍRITO - II PARTE** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto


Bons dias!



Ih, ih, ih...
Só entre - dentes e entre-olhares vadios, a risadinha mostraria o que está dizendo, o guinchozinho satírico e sátiro poria o dedo na ferida, as suas intenções de sarcasmo e ironia, cinismo e mofa, revelaria os seus interesses mais que escusos, manifestaria suas mazelas críticas a respeito de sua pena de galhofas sua tinta de mangofas, um quê de pena de galo carijó, como ornamento e arrebique, e por isso é que encentei a partir dela, podendo haver sido de outro modo, noutras dimensões Brás - cubanas, assim o fiz, assim está feito, nada melhor que a cor-agem de ser ousado, a empáfia de ser in-verso, sem estrofes ou rimas, sem versificações e melodias, o júbilo de não comer o angu quente pelas beiradas, mas enfiando a colher de pau no centro dele. Não sou, não me sinto obrigado a id-ent-ificar o que antes perpassara a mente para que esta risadinha fosse manifestada tão engenhosa e talentosa, tão arrebicosa e ornamentosa, tão deliciosa ao meu paladar mais que exigente, mais que refinado, diria radical mesmo, e isto somente com a leitura desse título “tabernáculo de imbecis”, os sentidos vários e sarcásticos que me perpassaram as dimensões sensíveis e instintivas, assim desejo registrá-las e registrá-lo para que instiguem os instintos avessos e re-versos, e as gargalhadas ecoem por toda a eternidade, por todas as gerações além da consumação dos tempos – quem quiser fazê-lo, sugiro que crie as suas razões e motivos, e ria abertamente para a comunidade inteira rir também já que se esqueceu o que é o riso deslavado, que ajuda até no emagrecimento das gordurinhas da cintura, as mulheres chamam de "pneuzinhos" - tão a critério e rigor, até elevando os seus dons ao brilho diamantizado de todas as estrelas e da lua, durante a noite, aos raios de sol incandescente durante o dia, ao ensimesmamento em dias de chuva fininha, garoa ou temporal notório.
Ih-ih-ih...
Sucessos e realizações são os primeiros olhares de soslaio, cada olho em seu próprio canto, cada canto para os olhares tantos, do lado das orelhas, em direções contrárias, para não haverem dúvidas de que todas as nuances e perspectivas foram observadas, para que todas somem as glórias no Juízo Final, as volúpias vividas e vivenciadas no Paraíso Celestial, contemplando as belezas do jardim, experimentando as verdades da paz de espírito.
Estes freqüentemente frequentadores deste tabernáculo de imbecis encostam suas bengalas à mesa, há algumas com ornamentos de prata, ouro, até de diamante ou cristal, lado direito, ao sabor das empáfias e êxtases da prosa, apanham, batem algumas vezes com ela no chão, elevam ao céu, por vezes tiram os óculos, esfregam os olhos, quem sabe para lhes chamar a atenção para as observações peculiares e singulares, para as coisas indizíveis e inexpressáveis, não se esquecerem de guardar os pequenos e sutis detalhes, fumam, enquanto desfiam suas contas desde a transparência de suas atitudes até à margem do rio de águas límpidas, e se esquecem, contudo, de que o rio não tem margens, não tem pressa, segue lentamente, segue suavemente o destino que lhe fora doado e entregue, e eles estão sobremodo interessados nos detalhes e pormenores imediatos, o tempo suficiente para um pensamento sutil e coberto de sombras, que ninguém poderá insinuar ou imaginar, por vezes nem eles próprios sabendo de que se trata, o sentido que a inconsciência revela.
Não assim... Ah, desculpem-me os presentes, virtuais e/ou reais, digo-lhes que alimento consideração e respeito por eles, mas há momentos em que sou bastante inconsequente, insubordinado, esquecendo-me de expressar palavras destituídas de sentimento de compaixão e solidariedade, de amor e compreensão, deixando-as escancaradas a todas as análises e interpretações dos instintos em clima de êxtase e volúpia, a língua não a consigo conter, domesticar, diz o que é sussurrado, cochichado, em alto e bom som, rasga os verbos e desfia os adjetivos eruditos e não-eruditos, levo a cruz às costas como dádiva de tanta sabedoria e conhecimento, de tanta perspicácia e malícia nos seus movimentos de delinear as palavras.
Enfim, se não houvessem diferenças o que seria dos olhares destes que observam para mostrar homens importantes que são, para indicar suas virtudes indevassáveis e valores inauditos e, por mim, senhores, não há de modo algum o que contestar, apresentar argumentos contra, nem mesmo satirizar com vocábulos os mais eruditos, daqueles que nem Machado de Assis usara em sua obra completa, não só me orgulho deles, mas aplaudo acenando os terços de diamantes e cristais.
Desde o início, ainda durante a missa das sete no Santuário-Basílica de São Judas, desfiava as contas com muita humildade, simplicidade, rogando a Deus engenhosidade e arte para a expressão de minha alma, espírito, caprichando nas palavras, sabendo-as usar, a todo instante questionando se era mesmo fé ou aquele velho hábito indecoroso de dar satisfação às pessoas, todos me perguntavam durante a semana se estaria na igreja no próximo domingo, desfiando as contas do terço, então, observaram a profundidade de minha fé e de todas as esperanças que nela habitam; a fim de que satisfaça os prazeres mais sutis, tenho continuamente um terço em mãos, desfio-lhe as contas com constância, não apenas na igreja, pode acontecer até sentado na porta do Cine Virgínia, enquanto os transeuntes descem ou sobem a avenida, entupigaitados de problemas e dívidas as mais di-versas, há quem vendeu a cueca a preço módico para pagar um cafezinho que tomou fiado na Padaria Bel-Pão, há políticos pagando até hoje prestações de seus despautérios e disparates para satisfazerem as vaidades e vadiagens da secretária de assuntos aleatórios, ou mesmo em eventos sociais ou artísticos realizados em clubes, quando o faço para pedir a Deus ficarem as hipocrisias bem longe de mim, não me pegarem pelo suspensório, e as vestes aparentes são calça de tergal, vincada, camisa de seda azul ou branca, amarela, que suscitam as cores da Bandeira Nacional, manga comprida, sapatos de couro alemão, marrom, que é tradição dos militares, mas o pingulino balança à vontade, tendo mesmo de fazê-lo, alfim ficou livre das pressões.
Há quem neste imprescindível tabernáculo de imbecis permanecem à porta por longos instantes, fumando, às vezes brincando de fazer bolhas de fumaça, relembrando as conversas de alto nível de ontem, de outroras anteriores a quaisquer outras situações ou circunstâncias, a respeito da autenticidade e originalidade, são realmente mestres nestes valores tão dignos de consideração, invejo-lhes as palavras que com elas se expressam acerca, espremo os miolos à busca de imitação, representação, mas me faltam os trejeitos e gestos, faltam-me as suciedades de caráter e personalidade, faltam-me as malícias dos instintos. Ao menos, não desfiam os terços desde a dignidade, honra, re-clamo de Deus até com palavras agressivas não me haver dotado delas, sabem de suas precedências, só a partir delas é-se possível a autenticidade; conhecem os valores éticos e morais da humanidade, e a linguagem é de fácil acesso de compreensão e entendimento. – ah, nada mais esquisito que ficar encarado a uma pessoa, ouvindo-a, tentando com toda a fé entender as suas palavras, o que mesmo está desejando dizer!..., e não havendo o que isto id-ent-ifique, só verborréias, não se faz mister defini-las, as “réias” do verbo mostram as mesquinharias por si sós.
Encostam-se à parede deste importante estabelecimento onde qualquer indício de contestação e insatisfação dos valores e virtudes não são permitidos ou con-sentidos, Deus, enfim, permitiu-se a criação de seres perfeitos, é puramente ausência de senso da verdade. Aliás, a contestação seria endosso de ateísmo, o que não é nada aconselhável, aliás censurável, discriminável, os olhares não se dirigem a alguém ateu, dirigem-se para a calçada das ruas, becos e alamedas, em busca da insensibilidade pública e notória, apesar de que não deixam de rezar todos os dias, pela manhã, ao acordarem, à noite, antes de dormirem, com uma diferença substancial, são incapazes de pedir ou rogar a Deus algo, o que seria uma contradição, e isto é endossar bacamartismo, despautério ou disparate, quem em Deus não crê não Lhe pede coisa alguma, não Lhe roga proteção e amparo, não re-clame por um milagre.
Disse-o já, embora haja sim necessidade de enfatizar, sou indivíduo de bom senso, além do bem e do mal, ah!..., esta “fronteira da lembrança e do esquecimento”, o incólume desejo de rompimento, a enorme vontade de outros vôos por sobre os vales e montanhas, apenas para espairecer os pensamentos de escol e as idéias de salão, os instintos de picância e ardência; portanto, me orgulho e ostento anel de diamante no dedo mínimo, cri que nele mostraria mais importância neste recinto de homens que prescindem de qualquer questionamento, ato de des-confiança.
Por mim, permaneço em pé na calçada, sem bengala, ouvindo os colóquios, observando os gestos e olhares, as palavras espirituosas, e, só por vezes, sarcásticas, um indivíduo de proba índole como eu não se envereda por este caminho sinuoso e perigoso, além de prova real e evidente de nonsense; enfim, nesta relação com homens portadores de carteirinha por sermos freqüentemente frequentadores, nossos créditos não ultrapassam a responsabilidade com a família, os casacos de lã e a carne de pescoço para as esposas, as senhoras, as amantes, filezinho de porco para as virgens e desconsoladas, encalhadas e frustradas; sou destes testemunhos que ostentam guarda-costas, não ainda batedores, mas não posso responder pelo futuro, estão nos meus projetos imprescindíveis... Somos solidários e compassivos com as grandes idéias desde que se harmonizam com as atitudes e ações, com os magníficos interesses desde que se sin-cronizem com as mazelas e ideologias.
Às vezes, até me admiro de jamais haver ouvido por partes destes amigos, com quem sou um livro aberto à página de “a existência preceder a essência”, de antemão e revezes, e de na seguinte, sublinhada com pena de ouro, “antigamente não existia metralhadora, hoje existe”; jamais ouvi deles palavras de abordagem cínica e comprometedora a senhoras casadas, raparigas, noivas, amantes ou casos deste ou daquele, pensam que atrás de grandes homens existem sempre mulheres maiores que eles, atrás de homens de sucessos e realizações vêm as mulheres, atrás de homens grandes, as mulheres são maiores, dizem todas estas palavras quando somente algumas já teriam explicado o que desejam. Se assim o é, atrás de homens vulgares, as mulheres são ainda mais vulgares, o homem é o único ser que se adapta a todas as situações. Há quem deguste carne de pescoço como filet mignon, só que confundem os gostos e fazem gestos desnecessários.
A placa do Tabernáculo de Imbecis... Esculpida em tronco de pinheiro, letras barrocas com detalhes de impressionismo, afixada à parede de tijolos e cimento armado, com cravo de correntes do Coronelismo, do Militarismo, da Ditadura da Corrupção, que são as nossas origens, que são as nossas identidades, e só com eles
podemos mostrar a força de nossa sensibilidade e caráter, algo assim de fazer cair os dentes molares, já que os caninos se perderam nos ossos das patas dianteiras.
Em direções contrárias às esquinas, de entre estabelecimentos comerciais e sebos de livros, de instituições oficiais e sistemáticas, mas isolada por completo num largo, onde por precedência dever-se-ia imaginar ligadas entre si, “Tabernáculo de Imbecis”, a placa de tronco de pinheiro ostentando o provincianismo, tradicionalismo, em cujas calçadas e mesas homens e indivíduos de toda estirpe e laia disputam os sucessos e realizações, glórias e conquistas...
Ah, Ah!... Esta fronteira da palavra e da entrega, este sonho de rompimento, entrar em sintonia e harmonia com a construção, com a identidade dos humanos, com a essência das almas, sejam penadas ou não!...



(**RIO DE JANEIRO**, 09 DE JANEIRO DE 2017)


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