**DOS INSTINTOS ABISSAIS REPUGNANTES QUIÇÁ A RENOVAÇAO/REDENÇÃO** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto


Ode às putices do filhodaputa
Por serem as sementes e raízes
Do nascimento de novos valores
Entre as estirpes de laias duvidosas,
Entre as laias de estirpes ilícitas,
Fechando os caminhos das tradições
De valores e virtudes,
Abrindo outras veredas
Para as libertinagens,
Trastices,
Tretagens,
Do caráter
E dos instintos!



Dizer ou afirmar com prepotência, mesmo sem ela, de modo simples e humilde, os filhosdaputa são misteriosos, os mistérios de suas putices são sementes da vida, são raízes abstratas do que há-de se a-nunciar no Olimpo das grandezas de seus escusos hábitos, vícios, comportamentos, no Apocalipse da ausência de caráter e personalidade, e até sentirem-se extasiados por conhecerem e saberem com percuciência o que elas, as putices, trazem de benefícios e privilégios para a real-ização dos interesses e objetivos, sobretudo os individuais e de ordem econômica, todas as alegrias e felicidades habitam-lhes, o que lhes habita a essência do ser e de seus tempos desperta-lhes para a busca de esclarecê-los e torná-los transparentes e reluzentes, a Imagem Suprema da alma, não é está-la definindo de modo absoluto, seja verdade absoluta, jamais haverá quem isso conteste ou diga que, nas situações e circunstâncias do tempo, era essa a definição que se poderia esperar, até que se poderia obter, era o que se poderia considerar e reconhecer sublime e esplendoroso, as luzes plenas não haviam sido acesas ainda, na continuidade das relações sociais, políticas e econômicas, até que fora iluminado para assim definir com toda propriedade, fora muito feliz, mas os tempos são outros e tais palavras não mais têm o menor sentido, já nem se explica porque razão serem pronunciadas, porque motivo serem ditas com ênfase e euforia, as ciências e o conhecimento se desenvolveram, progrediram, não existem mais mistérios, a vida dos filhosdaputa é livro aberto, as páginas à vista de todos os olhos de lince ou retinados, mostrando todas as letras que podem ser lidas livre e espontaneamente, e com a leitura reverenciar o que há de vir, o que há de ser, con-templar o abutre que voa de um extremo ao outro do uni-verso, em busca de seu in-finito, do horizonte onde pousará e olhará todas as carniças de frente, baterá suas asas alegremente para mostrar e id-ent-ificar que os seus projetos foram sim concretizados, poderá atravessar o que há para além do bem e do mal.



Ode às imbecilidades do imbecil
Por regarem os risos e sorrisos
Dos idôneos de princípios,
Oportunidade única de eles sentirem
No âmago de si mesmos
O que é isto – ser retrógrado
E alienado
Nos tempos modernos,
O que é isto – viver de passado,
Alienado em patrimônio cultural,
Histórico e artístico!



Ode às cretinices do cretino
Por mostrarem com dignidade,
Honra,
Só as idiotices são capazes
De real-izar o que há de mais íntimo
E percuciente
Nos sonhos de outras realidades,
Horizontes,
De tornar reais
A vida sem qualquer sentido,
Só nascer, prolongar-se no mundo,
Conservarem as cretinices passadas,
Criarem outras inéditas para as gerações futuras,
Morrerem por encontro
In-evitável!



Ode às maneíces do Zé
Por despertarem olhares de esguelha
Para todas as suas falas e dizeres,
Discursos na tribuna,
Em eventos sociais e políticos,
Tornarem-lhe a febre do momento
Em todas as situações,
Tornarem-lhe objeto de atenções
As mais di-versas,
Tornarem-lhe querido
E estimado em todas as rodas
De bate-papo,
Sejam de coisas sérias
- quem não aprecia risadas sensaboronas
À custa de alguém? -,
Avançadas, de nível profundo,
Retrógradas, superficiais,
O que lhe deixa exultante de felicidade,
Não sente mais a inolvidável solidão,
Indescritível sentimento de abandono!



Ode à libertinagem dos libertinos
Por fomentarem os instintos vários,
Deixando a alma depravada
No jogo de luz e sombra,
As atitudes e comportamentos
Ficando no cio
Do coração alucinado, des-vairado,
Varrido da silva,
As ações e ímpetos
Varrendo as nuvens
Da dignidade,
Limpando as estrelas
Das honrarias,
Faxinando a lua
Dos idílios, sorrelfas
Do amor eterno,
Andando à deriva
No sem-limite,
Na permissividade!



Ode à permissividade dos canalhas
Só por inter-médio de todas as porteiras
E cancelas abertas, escancaradas
Torna-se possível
A construção do nada
Soldando outros estilos e linguagens
De vida,
Na imagem baça dividida
Irrompe lá do vazio
Das canalhices
Novas criações
Da desesperança,
Como toda
PERSONA NON GRATA!



Mesmo para as verdades absolutas quaisquer definições são efêmeras, esvaecem-se num piscar de olhos, num passe mágico de uma arte ou de uma arbitrariedade solene e sublime. Viver sem definições ou conceitos é talvez o mais inteligível e aconselhável, o mais tranqüilo, ec-sistir à margem dos princípios, dogmas, tradições do bem e do mal é o mais aconselhável por assim estar aberto a novas experiências que, com certeza, aprofundam a natureza e o instinto. O Livro Sagrado é testemunho divino de a vida serem mistérios, habita-lhe o ser, desde o Gênesis até o Novo Testamento, nenhuma ciência ou conhecimento superou essa verdade, sê-lo-á por todos os séculos e milênios. Seria que devêssemos os homens nos entregar por inteiro a in-vestigá-los e des-vendá-los? Ou seria que devêssemos fazer deles a pedra angular para as luzes iluminarem as nossas estradas, por vezes íngremes, por vezes não, a partir de nossas atitudes e ações, de nossas palavras em busca da verdade, em busca da sublimidade da vida e da contingência de nossos desejos de saciar as nossas fomes seculares e milenares? Nem uma coisa nem outra, tenho dito, sentindo-me, por mais inteligível que possa parecer, eufórico e charmoso. Ou seria que devêssemos cruzar os braços e lhes sermos indiferentes? É seguir nas trevas e nas sombras, putices e imbecilidades, maneíces do Zé, libertinagens e permissividades, quiçá o fim não seja o mesmo para os que se entregaram a buscar a redenção dos pecados e a ressurreição.Quem disser que os senões foram dissipados, extintos, com efeito, está absurdamente equivocado, alienado ou ensandecido, ou mesmo não se sente vida, não sente estar no mundo, não se lhe concebe um ser, um instinto, servindo a interesses e ideologias que não são os seus, apenas para receber os cumprimentos das mãos que se tocam mutuamente, os sorrisos e tapinhas no ombro, à moda, linguagem, estilo dos mineiros, alfim estão esquecidos de si mesmos, não mais atribuem qualquer valor à vida, ou tentando ludibriar a si mesmos por não terem coragem suficiente para assumir a vida, os seus limites e incapacidades, os seus problemas, dores e sofrimentos, entregarem-se à feitura do próprio destino através de lutas autênticas e peculiares.



Ode às zeíces do Mané
Por ornamentarem com distinção
E estilo
O irônico e o mordaz
Da crítica do quotidiano,
Até a prostração da auto-crítica
Desolada,
O agressivo de sonoros
“filhos-da-puta”,
Até o lúdico de uma carícia familiar
E supostamente burguesa!



Ode as cafajestices do cafajeste
Por serem elas que,
No silêncio,
Falsificam os verbos da eloqüência
Em forma,
Da verdade pontuda da carne,
Da planície lúcida
De onde emerge a montanha do ser;
Por à luz e mercê delas
A humanidade des-ocupar-se
Em ec-sistir,
Sobreviver até que a morte
Tenha o termo eterno para roer!



Ode às suciedades do burguês
Por dinheiro fazerem poupança
Do desespero, angústia, medo,
Por os juros delas no inferno
Serem pequenos,
Por as cifras do lucro no sangue
Escolherem a morte
No instante do sono profundo,
Por na arapuca de Morfeu
Serem as suciedades
O sangue coagulado
Do espanto,
Da estupificação!



Ode às justicices do Poder Judiciário
Por elas serem as verdadeiras responsáveis
Pela ausência de punidade,
Abrindo os caminhos e veredas
Para
A sociedade despertar daquele
Sonho de paz e tranqüilidade,
Romantismo de sétima categoria e estrela,
Entregar-se ao jogo real
Das violências todas,
Dos crimes hediondos,
Das corrupções em todos os níveis,
Trevas e desenganos
Varrendo a réstia tênue
Do crepúsculo!



Ode aos sonhos dos sonhadores
Que desejam suas éguas desembestadas,
Seus jegues no pasto
Comendo do mais delicioso capim,
Seus porcos no chiqueiro,
Desfrutando de tranqüilidade,
Após a lavagem do meio-dia,
Suas éclogas desnatadas,
Suas liberdades que já tardam
Os camelos sedentos
No meio da cáfila!



Contudo, e não é estar iludido, fantasiando as coisas, criando quimeras di-versas, para conseguir continuar seguindo as minhas trilhas em direção a todos os infinitos e horizontes, não é estar tripudiando, enganando a mim próprio, facilitando as coisas, vejo e sinto luzes várias que podem iluminar e iluminam os caminhos de trevas, e mesmo que sábios me dissessem o contrário não iria dar em nada des-acreditar nessas luzes, ainda assim acreditaria, ainda assim juraria com a mão esquerda sobre o Livro Sagrado, trilharia todas as estradas do não, como é a própria vida, o desejo da redenção e ressurreição, motivado pelas chamas do caldeirão do inferno, é que tergi-versou os caminhos, que são as viagens ao infinito dos verbos de sonhos explícitos e eternos. E que luzes são estas? – é o questionamento que todos os que comigo estão presentes nesse instante, incentivando-me a criatividade, sensibilizando-me a alma, dando-me coragem para adentrar-me no que há de mais íntimo na natureza e instintos, em que teço essas palavras nessa página, com esmeros inestimáveis, quero lúcido e lúdico o que há de mistério e inconsciente, o que há de trambicagem e indignidade, murmurando, sussurrando, em silêncio, os olhos perdidos no espaço de todos os versos e verbos da noite e do inferno; estão ansiosos por conhecê-las, quem sabe esteja eu com razão, quem sabe possam destilar as minhas palavras, torná-las pedras angulares de suas buscas da plen-itude do arbitrário e gratuito?! São elas as nuanças e perspectivas da esperança.



Ode à pedofilia dos clérigos pedófilos
Por ensinar às crianças e adolescentes
O que é isso aprender os clímaces
E gozos da carne,
Ao longo da vida lhes desenvolverem
A ponto de os verbos da sensualidade
E sexualidade
Se tornarem em carne fresca,
Sedenta de prazeres e alegrias,
Sendo isto abençoado por Deus,
Pelas mãos de seu representante
No mundo.



Ode às indecências do indecente
Por seus vocábulos e termos
De baixo calão
Enriquecerem os dicionários,
Transformarem os discursos
E oratórias,
Nas tribunas esclarecerem
Os interesses e ideologias
Escusos,
Muitas vezes escondidos
Pela tradição, erudição
Estilística e linguística
Da Última Flor do Lácio,
Nos diálogos de ruas,
Praças, botequins,
Dos cônjuges com os filhos,
Amigos e íntimos,
Id-ent-ificarem com primor
Suas naturezas e instintos!



Ode às defencices dos advogados,
Repletas das mais lindas oratórias,
Cujos interesses nada mais são
Que a perpetuidade,
O nome inscrito na história para sempre,
Erudição de fazer lágrimas de emoção
E êxtase,
Em nome de diminuírem a pena
De um assassino hediondo,
Evitando assim que as penitenciárias
Não fiquem entupigaitadas
E o respeito ao ser humano
Não seja negligenciado.



Ode às politiquices dos políticos
Por só através delas
As mentes são apagadas,
Os cérebros devidamente lavados,
As inteligências eliminadas,
Possível então
Os tráficos de influência,
As verbas desviadas,
As propinas milionárias,
A aquisição ilícita
Do dinheiro público,
Vinhos e uísques
De primeira,
Luxos e luxúrias di-versas,
Manjares deliciosos
De primevo e primeiro mundo,
Secretárias de assuntos aleatórios
As mais lindas e sensuais,
Acima de nada,
Abaixo de tudo,
As importâncias das oliveiras
E day-réis,
Os orgulhos e lisonjas
Do bem-estar!



Ode às intelectualoidices dos intelectuais
Por serem com elas
Que as teorias ficam sem solo de por
Baixo dos propósitos idôneos e lídimos,
Na cisterna sem fundo de água,
Só terra íngreme e trincada,
No abismo sem início e profundidade,
Só vácuo,
De por cima dos nonsenses
Das utopias e sonhos
Que visam as luzes e esplendicências,
Até mesmo es-plendicidades
Medievas,
À mercê da medieval idade,
Medievalidade das idéias clássicas,
Eruditas,
Deturpadas pelos interesses de outras
Realidades ou mesmo de outras ideologias do
Mesmo, de outridades do tempo,
Originando e nascendo,
Sendo dada à luz
Aos trigos e joios,
Misturados, separados,
di-vididos,
alhos e bugalhos, di-{s}-sociados
da realidade presente,
das veias do coração
que pulsa o sangue,
negligencia,
nega,
refuta,
e ainda espera
a transformação da carne em verbo,
a mudança de conjugações
em id-ent-ificações
da pessoalidade
dos pronomes.



Ode às vulgarices
Putices,
Imbecilidades,
Cretinices,
Libertinagem,
Permissividade,
Cafajestices,
Suciedades,
Justicices...
Que serão húmus de outros
Pensamentos e idéias
De saber e conhecimento,
Através da vida,
Da ec-sistência,
Para a AURORA,
CREPÚSCULO
No vai-e-vem dos acontecimentos,
Iluminarem os olhos em-si-{mesmados},
Da in-ec-sistencia da vida,
Da con-tingência,
Da im-anência
Do ser por vir,
Da nad-ificidade
Do “Aqui e agora”
Das Odes às Luzes
Pouco a pouco!



O tique-taque do relógio que move o ponteiro dos segundos, lentamente, à mercê do piscar de olhos, à mercê de passos mágicos, o tempo que passa na roda-viva dos desejos e sonhos esquentam na memória tão passadas águas, tão pesadas mágoas, contundentes ressentimentos, que moinhos movem, cata-ventos giram, farinhas fazem de cada pensamento, de cada idéia, idéias e fantasias do grão, haja sacos de aniagem para colocá-las dentro, entornando pranto na pedra desse peito, lágrimas que deixam em sua superfície o lodo e o sal.
Sentado aqui na cadeira de balanço, nessa manhã ensimesmada, as montanhas cobertas de neblina, pernas cruzadas de por baixo da mesa, balançando-a, por vezes suspirando, abaixando a cabeça, observando os tacos sem qualquer brilho, há tempos não é encerado, apenas passo a vassoura para tirar a poeira, dando-me por satisfeito, ou olhando a parede de cor cinza de modo em absoluto abstrato, ouço músicas, os sentimentos são inúmeros, re-conheço-os sensíveis e melancólicos, não sei nem conheço o que lhes habita o mais profundo, se, em verdade, abrem outras janelas e portas de novas dimensões da vida e de meus projetos de felicidade e alegrias, de ser o que em mim sou, ser o outro de mim. Com poderosas mãos egressas das esferas paraliso toda ânsia, todas as inquietações e inseguranças, todas as dúvidas e desconfianças, separo o joio, e das espumas das vidas in-definidas fluem da morte a fonte real e mais verdadeira das escusas características dos instintos.



(*RIO DE JANEIRO**, 03 DE JANEIRO DE 2017)


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