POETISA E ESCRITORA Maria Isabel Cunha COMENTA A SÁTIRA /**LINGUAJAR HILÁRIO E INTELIGÍVEL LEGITIMA IMPROBIDADES DO SISTEMA**/


Interessante como todas as sátiras que escreve, quase sempre baseado em provérbios ou aforismos. Critica a sociedade, o estado atual desde a política aos costumes. Uma ironia subtil e ao mesmo tempo contundente alerta o leitor para o objetivo que pretende, numa linguagem bem cuidada . Em Portugal diríamos: "aqui há pulga atrás da orelha"! Mais tarde, as suas sátiras serão estudadas para averiguação dos costumes nesta época. Parabéns. Um grande abraço, escritor Manoel Ferreira Neto.



Maria Isabel Cunha



Quem na Literatura Brasileira amava os aforismos e provérbios era Machado de Assis. Influenciei-me. Aliás, a sátira adveio-me do meu grande mestre. Óbvio que a minha herança circense ajuda bastante, corre-me sangue jocoso nas veias. Tem razão: mais tarde estas sátiras serão estudadas para averiguação dos costumes dessa nossa época. Aqui no Brasil também tem este provérbio: "aqui há pulga atrás da orelha". Tenho um romance intitulado PRETÉRITO DAS PULGAS, um dos volumes da heptologia UTOPIA DO JEGUE NO SERTÃO MINEIRO. Beijinhos, querida!!!



Manoel Ferreira Neto



**LINGUAJAR HILÁRIO E INTELIGÍVEL LEGITIMA IMPROBIDADES DO SISTEMA**
TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis
SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto



Conheço-lhes o humor, caríssimos leitores, e tenho a divina absoluta certeza de que vão dizer aos quatro cantos da cidade, enquanto houver o vento que espalhe será dito com eks-clusividade: “Nilson Serqueira largou mão de desfilar os jegues em seu jornal, agora está montado no seu cavalo pura raça”. Não deixa de ser verdade, o cavalo está em cena nas páginas desta edição; a intenção não foi de re-novar, as situações e circunstâncias exigiram, a responsabilidade é delas. Re-novaria, se tirasse a chuva do cavalinho, e isto é mesmo impossível, não me fora doado o dom de fazer milagres.
Não há duvidar que os meus jegues sejam implacáveis para provocar o riso deslavado, meus cavalos têm um quê de sérios e circunspectos. Jamais montei num jegue, por isto dizerem que o desfilo nestas páginas. Isto não. Monto bem, sei cavalgar. Na infância tomei tombos homéricos, quando não me desequilibrava nas corridas, a cela afrouxou-se. A minha última montaria aconteceu há seis anos num churrasco de aniversário de grande amigo, também cai na corrida, e foi no cascalho desta vez. Nas minhas colunas, não vou montar neles, vou arranjar-lhes os cavaleiros, só mesmo os exímios terão este privilégio. Exímios cavaleiros fazem cavalos eternos, fora assim que Incitatus se tornou eterno, e no Império Romano. Quem vai montá-lo agora é o digníssimo senhor prefeito. Não há quem não conheça e re-conheça minha finesse e generosidade.
Há quem use este ditado a torto e a direito e não sabe o que mesmo significa. Digo-lhes o significado para as intenções ficarem bem transparentes e esclarecidas. Significa: desista, pois o que está desejando em tempo algum será realizado, nem mesmo depois da consumação de todos os tempos. Vou aproveitar para enfatizar o esclarecimento: “Tirem, leitores, o cavalinho da chuva, pois não vou largar mão de meus jegues, estou é colocando o cavalo em cena. Jegue e cavalo são duplas fantásticas, vão legar-me grandes resultados e saltitâncias”. Quem sabe até não modernize outra fala do povo – dizem: “amigos são bois de carro”, passem a dizer: “amigos são jegue e cavalo puxando carroças”.
Não há alternativa: vou tirar meu cavalinho da chuva, faço isto ou vou acabar me ferrando, não me será agradável andar nas ruas de pedra de ferradura aos olhos dos transeuntes. Serei objeto de mofa.
Sonhar é maravilhoso, magnífico, dá forças e esperanças de outra vida, realidade, desfrutar as conquistas, sentir verdadeiramente o que é a alegria, felicidade, saber que os feitos e obras servirão a todas as gerações. Aliás, ser homem é sonhar, não há vida sem sonho. Existem os sonhos impossíveis, insistir neles é uma cavalice sem limites, para não dizer uma jeguice juramentada.
Desejar mudar a mentalidade das autoridades, em particular dos prefeitos, com matérias jornalísticas ou através de sátiras as mais deslavadas, entupigaitadas de cinismo e ironias picantes, sarcasmos apimentados, não adianta. Não me é dado saber se por picardia, mas quanto mais se lhes descasca os pepinos, mais as arbitrariedades e despautérios aumentam. O que se consegue com isto é o olhar brilhante de fúria, a cara de quem comeu e não gostou, o nariz torcido, alguns usando a santíssima e diviníssima diplomacia, noutros termos, a velha e surrada hipocrisia dos três tapinhas no ombro nos eventos sociais, políticos, artísticos e culturais, e mesmo pelas calçadas das ruas e avenidas do centro. Este mesmo prefeito, certa vez, encontrou-me numa feira dominical, havia pouco lavei a alma de alguém de sua equipe. Vendo-me acompanhado de minha Josefina, abriu um sorriso de orelha a orelha: “Como vai?”, respondendo-lhe eu que estava “pelejando”: “Pelejando, senhor prefeito”.
Pau que nasce torto morre torto, por mais boa vontade que se tenha, só mesmo Deus para endireitar o pau, não vai gastar seus poderes de miraculoso com paus, há homens necessitando deles com urgência, estão sofrendo o pão que o diabo amassou com o rabo com suas doenças incuráveis.
Vale repetir a pergunta de Cícero, o imortal – acabei usando um vocábulo indecente, jurei de pés juntos tirar-lhe de minha língua, “imortal” é o membro de covil de gênios, membro de academia de letras que não escreve única letra em papel higiênico -, o eterno tribuno e filósofo romano: “Até quando? Até quando assistiremos a tantos absurdos?”
Jamais se viu tanto disparate e despautério na política de nosso município, Lúcifer está ad-mirado, já disse que não receberá tais políticos, em especial, o prefeito, em seus domínios no inferno, está precisando de alma boa para lhe ajudar a administrar o reino das trevas e das chamas. A prefeitura virou hook de empregos, e o zelo pelo patrimônio de todos está longe de ser o ideal. O nerinho e seus piromaníacos não ligam a mínima para o verde do município. A cidade está ao deus-dará. Descalabros de todas as laias e estirpes. Cavalo “pastava” todo à vontade, mastigando e triturando o capim, fazendo trejeitos com o focinho, mostrando os dentes, na rua Marechal Deodoro. Ficaram estupidificados, leitores? Não se estupidifiquem, não! Trata-se de coisa mais que trivial. Disseram-me, afianço que não sei da verdade da informação, mas o prefeito prometeu colocar cochos nas ruas e avenidas para os cavalos, nalgumas matarias de algumas ruas do centro ou da periferia há plantas venenosas. Ninguém mais observa, ninguém mais diz alguma coisa, não adianta. Enquanto isso, nalgumas esquinas e praças, correm notícias, sempre há quem mas contem, de atitudes estapafúrdias ou inaceitáveis para uma administração que almeja mostrar algum valor por mais ínfimo que seja, o que está revelando é ser o pior de todos os tempos, não se duvida mais, é a pior, antes mesmo de Deus jogar uma sementinha de arraial no chão de terra trincada.
Leitores, este “pasquim di-verso”, que acabo de criar para cuidar com esmero das matérias de tablóides, a linguagem e estilo deles são para convencer os leitores de que estão cumprindo a função que lhes é de obrigação, mas, na verdade, não dão a mínima, nada fazem, está sendo fundamentado, inspirei-me num jornal de agosto deste corrente ano, que fora deixado no “Correio” de minha redação, quem o fizera desejava que lesse com percuciência, emitisse o meu ácido crítico; põe-me em mão a responsabilidade de criticar, envenenar os cretinos, imbecis e súcias. Não vai adiantar coisa alguma; contudo, ponho a mão na massa, tirando o cavalinho da chuva que o prefeito vai se enrubescer e tentar mudar os rumos de sua administração, é porque estou criticando que ele vai procurar ser ainda pior do que já está sendo. As vezes que destilei os ácidos, e não foram poucas, cuidaram haver sido fruto de minhas sandices e varrências, estava precisando chamar a atenção para ser reconhecido e considerado.
Quem não sabe, meu Deus, que o interesse verdadeiro é o poder, sentar na cadeira giratória e re-festelar-se. O colunista, nesta específica matéria, está perguntando se existe fogo por trás da fumaça? Para tantos despautérios, ausência de senso, de inteligência e até de sensibilidade, deve mesmo haver fumaça à frente do fogo. Claro, e não é necessário ser intelectual ou uma cultura inestimável para saber que o prefeito em questão sempre esteve interessado no poder, iria massagear-lhe o ego, iria poder rebolar mais um pouco pelas ruas, sentir-se grande; não era de seu interesse fazer alguma coisa pelo município, engrandecê-lo, proporcionar-lhe desenvolvimento e progresso. Também jamais teve capacidade para isto, faltam-lhe miolos políticos na cachola. Continuando a dizer o colunista, está escrito que neste “quatriênio de trevas, o ridículo se estabeleceu neste chão”. Não sei se diga se há em suas palavras um engano ou um equívoco dos mais solenes. Pelo que me conste, esta administração está com um ano e dez meses, para ser bem específico, e neste tempo infelizmente o ridículo está estabelecido neste chão. Ainda restam dois anos e dois meses para os quatro anos. Ao longo deste tempo, este ridículo que a nossa comunidade está presenciando ainda é “fichinha” para os outros que hão de vir. Terminada, em nossos manuais históricos estaremos inscritos na “era do ridículo”. A Idade Média – in-verdade, obviamente – é considerada o tempo das trevas. Nossa época atual, com esta administração pública, estará nas páginas – verdade mais que verdadeira – como a “era do ridículo”. Sugeriria a uma geração que há de vir que faça o busto de bronze do prefeito, colocando em praça pública com a inscrição: “o pioneiro da era do ridículo”, é uma homenagem bem merecedora, enfim não é sempre que se tem este privilégio.



(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE JANEIRO DE 2017)


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