**O HOMEM E AS LETRAS** - Manoel Ferreira


Se me perguntarem hoje "O que é isto - a vida?" ou "O que é isto - viver?", posso, refletindo sobre as trilhas percorridas, experiências e vivências adquiridas, acumuladas, tecer alguns profundos pensamentos, sentimentos, emoções, sabendo, de antemão às revezes, nada defini, nada conceituei, nada respondi, pois que para estes questionamentos não há respostas ou definições plausíveis, haverá sempre quês de interrogação, indagações...
Sinto, contudo, aprendi a amar a vida, a amar viver ao longo dos tempos, das situações, a amar apaixonadamente. E quando senti presentemente, no mais recôndito de mim, foi num entardecer, estando sentado numa pracinha pública, depois de uma visitinha ao meu amigo e escritor memorialista Antônio Nilzo Duarte, olhei fixamente para o prédio do Cine e Teatro Virgínia, onde a tantas películas cinematográficas assisti, e muitos flashes da minha vida perpassaram-me o íntimo, a alma, o coração. "Nossa... Com este amor que sinto hoje pela vida, pelo viver, quem dera houvesse sentido na juventude, creio que me teria entregue inteiro a realizar muitas coisas em homenagem à vida, ao viver. Mas este sentimento se me revela no crepúsculo da vida." Sinceramente, passei a mão direita nos olhos enxugando lágrima furtiva que escorria.
Se os caminhos percorridos foram difíceis, complicados, se fui infeliz, se me angustiei diante do medo de nada realizar, não concretizar o que sonhei, se as dores e os sofrimentos foram inestimáveis, se tive inúmeros enfartos, anginas, taquicardias, o que isto importa? Quiçá, tudo isso tenha sido necessário para no crepúsculo da vida poder sentir o amor à vida, ao viver! Os caminhos trar-me-iam onde me encontro agora. O medo do "nada obtuso", morrer sem nada ter conseguido realizar, somente haver me arrastado pelas ruas do mundo, foi muito mais forte que os sonhos e esperanças em mim trazia dentro, mas foi pedra angular para continuar lutando, desejando deixar-me eterno no mundo. E certa vez alguém me dissera categoricamente: "Você precisa valorizar a si mesmo. Seus valores são inestimáveis, mas não sabe reconhecê-los. Ame a si próprio, ame os valores que traz em si dentro. A partir desse instante, sua vida será outra".
Escritor virtual, já um tanto reconhecido, alguém me dissera: "Você já realiza o quanto suas letras são inestimáveis para os homens, para a eternidade, já realiza o quanto o homem você é importante..." Respondi que sim, a responsabilidade com isto era enorme, mas tinha condições de fazer jus ao reconhecimento dos amigos e leitores do Brasil e do mundo inteiro.
Disse que descobri o amor pela vida, pelo viver. O que importa se esse sentimento me veio no crepúsculo? Entre o crepúsculo e a noite, há muito tempo, os ponteiros do relógio tem muito a percorrer. Os caminhos se revelam outros, visualizo a luz no horizonte distante cônscio, e até lá vou realizar o homem, o que é isto - o estar-sendo-no-mundo, deixar-me-ei eterno no mundo, não apenas como escritor, mas como quem desejou o encontro do homem com seus valores humanos. Tudo pode ser realizado no mundo, suficiente apenas a entrega aos objetos do sonho, da esperança, mas realizar a vida, o homem transcende sonhos e esperanças.



Manoel Ferreira Neto.
(21 de junho de 2016)


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