A ESPERANÇA RE-COLHE E A-COLHE O SONHO - Manoel Ferreira


Quem sabe não lhe dissesse, na saída de uma peça teatral, vernissagem, lançamento de obras literárias. aquela tão famosíssima vida artística, sentados numa pracinha pública no crepúsculo, relembrando os momentos de nossas vidas, contando os "causos", a vida íntima, felizes, alegres, e vamos seguindo os nossos caminhos do campo, sabendo nossa vida como cônjuges e artística estará na história como símbolo de Amor e Amizade... Rio-me, quando penso numa cena de assédio feminino, no métier artístico isto é público e notório, o seu ciúme, e se a assediante não tivesse senso, após uma resposta sei que terá, acho que nem Deus evitaria a consequência... Nalgum lançamento de livro meu, sou o protagonista do evento, alguma engraçadinha desse-me cantada rasgada, ficaria esquisito duas mulheres a tapas, puxões de cabelos, rolando no chão por causa de cantada ao escritor num lançamento, estampado nas manchetes de jornais, revistas... escandalozinho furtivo. Antes de vôo a Paris, a correria fora tanta que me esqueceu o celular em casa, você olhando muito séria, acertaríamos essa questão no apartamento de um hotel... Aquela conversa seriíssima. Numa vernissagem, tenho algum problema de saúde, e você não podendo adiar as coisas, viajando preocupadíssima... Versos e in-versos, mas caminhada junto, levando nossa arte por todos os lugares, e nossa intimidade. Jamais fui ratinho de eventos sociais, amo estar em casa, criando, vivendo o quotidiano da vida, seus afazeres, responsabilidades, o amor presente. Mais jovem, não vivia de eventos de lançamentos de livros, acontecimentos culturais, a intimidade, no meu lar, aquela mineirice do aconchego familiar é característica cultural minha, desde criança, amava estar na sala, sentado numa poltrona, lendo, e jovem, na biblioteca, escrevendo e lendo, criando, mas as coisas acontecem na vida, teremos de, quando em vez, dar uma daqueles en passant nestes eventos... Do jeito que é, refiro-me a friorenta, aqueles tantos cobertores e edredons, mais do que agarrada em mim, e dizendo que irá mandar instalar uma lareira em nossa choupana, de preferência nalgum lugar onde a natureza resplende a sua beleza, oitentões fazendo nossos passeios...
Sonhos... Sonhos... Jovem, sonhava o encontro com alguém, poderia ser artesã, pintora, escritora, poetisa, e ambos juntos, cônjuges, vida artística juntos, por sempre juntos. Desejava isto na juventude, prolongou-se por anos, mas silêncios interiores diziam algum dia iria acontecer, outros horizontes e uni-versos adviriam, Tornar-se-ia realidade. Por ter formação filosófica existencialista, e tendo com Sartre e Simone de Beauvoir acontecido exatamente isto, encontraram-se, amigos para sempre, eternos como escritores, isto não aconteceria comigo, diziam todos, alguns com aqueles olhares de soslaio, "- puro delírio."
Sonhar isto significa algo, querer para si o que não é de si, mas e quando isto estava escrito nas estrelas, este "causo".
Lembranças de sonhos passados, misturadas a realidades presentes e reais, um "causo" que aconteceu entre um escritor e uma artista-plástica, tornou-se eterno. Velhinhos passeando de braços dados no crepúsculo, no inverno muito bem agasalhados, partiram, mas haverá esta história sendo contada por toda a eternidade.
Para finalizar, você me perguntaria:
- Por que está rindo?
- Porque é um homem, fortíssimo candidato aos sessenta anos, está sentado num banquinho de praça pública, sonhando acontecer isto com ele, contando para um jovem menina de 10 anos, sua sobrinha-neta, contava a história desejando acontecer com ele um dia.
E você aí caindo na gargalhada, saindo rindo para apanhar outra garrafa de vinho na geladeira, para terminar o nosso almoço, jogando os cabelos para trás.



Manoel Ferreira Neto.
(21 de junho de 2016)


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