**BANQUETE DE CHURRASCO REGADO A VINHO** - Manoel Ferreira


Vagas sorrelfas de idílios compactos à luz da neblina que cobre a superfície do abismo, qualquer fantasia de pensar e sentir a sua proximidade esvaecida por algum tempo e qualquer pensamento sobre o que além de onde a neblina pode ter pés está desde antemãos às revezes é invisível, vagos idílios de sorrelfas ads-tringentes às asas da águia que mudou o seu caminho, segue a sensibilidade a outras quimeras do longínquo e distante, mas pousada nalguma doca esplenderá seu olhar à imensidão do mar por onde sobrevoou inumeras vezes, sonhos e esperanças outros, perpassando longínquos e distante é a sua mística jornada, mas nalgum dia desaparecerá na neblina, mas atrás tudo se tornou lenda, mito, causos dela, a sendeira do infinito...
Interessante a coruja cantar nalguma galha de árvore pela noite e madrugada a fora, e durante o dia a águia sobrevoa os lugares da terra e do mundo, sempre adiante, adiante, e avançando segue. Sem pensamentos, sem idéias, sem ideais, perscrutando o mar e as nuvens se comungando à distância, gaivotas se alimentando à beira-mar. A águia e a coruja, vagos devaneios vagueiam, as cores do arco-íris dissipam-se num lance de lince, o entardecer e o anoitecer se comungam, a lua e as estrelas, cantos orfeônicos da solidão, do sempre in-vestigar as trilhas percorridas, com ímpeto e coragem, sentir carências, faltas, falhas, continuar no amanhecer outros vôos entre as coisas e os objetos, entre os homens, perscrutar a longitude dos mares, desertos, con-templando a distância, meiguices, ternuras, afetos, afeições, entregas, amor, amizade, alvorecer de novo dia, se o Ser se faz continuamente, a continuidade é também o Ser, e o tempo segue tocando a sua gaita de foles, e os éritos atrás, a viola, haverá a curva a ser trilhada, e não mais a visão dele...
Sonhos, idílios compactos, furtivas sorrelfas, volúveis quimeras, voláteis fantasias não sejam o menu de sobremesa após o banquete de churrasco regado a vinho, à luz dos sons dos mares. O velho e o mar, José, e agora? Remar contra a correnteza ou deixar o mar levar o barco? Na calçada, o poeta pensa, perscruta, investiga, contempla o tempo e o mar, um abraço, no peito, a lembrança, re-cordação, na moldura a imagem dos éritos caminhos percorridos de ideais, sonhos, idéias outras, sentimentos e emoções, entregas, andando a passos de bicho-preguiça, mão segurando o braço, cabeça baixa, passeando no calçadão da praia, numa mesa de restaurante com os amigos, os velhos e surrados causos. As risadas de quando os jornalistas tresloucados invadiram a suite só para perguntar o porquê de a coruja renascer de seu canto, num momento indevido, instante de intimidade, quinze dias numa pequena ilha até passarem as euforias, fantasiado com um belo chapéu mexicano, abas mais que largas, um ponche... Se a coruja nasce de seu canto, não poderia responder, grande mistério e enigma, mas que o canto da coruja inspira o re-nascer, disto não haja duvidar. Disse-o e as palavras reperticuram solenes e calientes. Estava apenas brincando com as palavras.



Manoel Ferreira Neto.
(26 de junho de 2016)


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