DA CATÁRSIS À CONSCIÊNCIA - COMENTÁRIO SOBRE O POEMA DE Priscila Elizabeth /**O SOFRIMENTO DA ROSA**/


Os olhos comem o poema da Amiga Priscila Elizabeth. As rosas despetalam-se, vivem os seus esplendores, desfrutam da beleza, murcham. O poema é puramente catártico. Com o afastamento da mãe da autora, ela mergulha no mais íntimo, buscando-se, desejando-se, querendo-se, não para a sobrevivência, mas para a sua consciência do que este afastamento significou em sua vida. Priscila Elizabeth in-vestiga´-se à luz da rosa. Todo o esplendor da rosa esvaeceu-se, murchou. Aquele mundo vivido de Priscila de alegria, contentamento, vaidades, alguns sonhos tão queridos, alimentava-os com tanto carinho, esvaeceram-se. Instante-limite. Tão jovem e escrever um poema tão verdadeiro, revela seus sofrimentos e dores a si própria, com dignidade, com honra, enfrenta-se, vê-se no espelho. Para uma jovem como Priscila com um nível de consciência assim, encontrado no seu poema, escreve-o consciente, é só mesmo tendo o dom e o talento das letras. Quando ela diz não sentia mais a presença da esperança, começa a ver à frente, a vida se lhe revela. O poema termina: "Todas as minhas tentativas são vãs/E desesperadas". significa que está consciente da ausência que faz a mãe, como ela se sente, como irá seguir sua vida, a consciência joga-lhe adiante, mostra a vida. Com este estilo e linguagem, para revelar um instante-limite, só com dom e talento. As palavras estão nos seus devidos lugares, nenhuma cai mal num verso. O que posso lhe dizer, Priscila? Disse-o ontem mesmo quando nos conhecemos no restaurante do Robson: "Continue escrevendo. Não jogue fora este dom. Você colherá os seus frutos. Um grande abraço!!!



O SOFRIMENTO DA ROSA



Hoje uma rosa chorou.
Hoje uma rosa se despedaçou.
O dia amanheceu sem cor,
E a rosa sem amor.



A rosa estava sem vida.
Não parecia a mesma bela flor...
Estava murcha.
Mas como manter-se viva sem amor?



Pobrezinha da rosa...
Nenhuma gota de orvalho caiu.
A rosa invejava as margaridas,
O beija-flor partiu.



As margaridas, sempre tão decididas,
Não pareciam tristes
Nem sofridas.
Mas a rosa era.



Quem diria
Que a uma rosa, outrora tão bonita,
Agora beleza não restaria.



A rosa era eu.
Porque parte de mim partira
Minha mãe nos abandonara.
Eu chorava
Que me restara?



Que sobrou da rosa?
Apenas os espinhos.
Apenas a dor
Não havia mais caminhos.



A rosa estava ferida
Eu também
A cicatriz não sumira.
Quando é que, eu e a rosa, ficaremos bem?



Será que morreremos antes?
Ou renovaremos nossas forças?
Tentava enxergar à diante,
Mas não havia esperanças.



Onde estás, mãe?
Por onde andas?
Volta pra gente... Por que nos abandonas?
Todas as minhas tentativas são vãs
E desesperadas.



Priscila Elizabeth


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