TROTEANDO DILEMAS DO SER-DA-MORTE** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA POÉTICA ====


Epígrafe:

"... sem mim, minha águia, coruja, condor e serpente, tenho um excesso de vazio, um acesso de nada, como o coelho que deu a luz a sem-limite de filhotes... rédeas então aos disparates! "(Manoel Ferreira Neto)

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Faço valer o argumento excepcional da sombra, daquelas projectadas nas amuradas de residências, nas calçadas de árvores, nelas escondendo-se casais apaixonados, beijos e abraços ousados, quando para furtar-se ao dilema da intensidade e as divagações que surgem sobre o maléfico e o benéfico que proporcionam, quais são as diferenças, que características comprovam, acinzentadas de tonalidade leve, de forte escuridão, que galanteio ostensivo se mostra, projeta sobre o homem o delineio de vereda sinuosa, não adianta a trafulhice do burilar as bordas para amenizar a tarefa árdua que desejam, quão difícil é trotear nela, requer engenhosidade, por onde serpenteia entre as cúpulas de prata e os pilares de ouro.

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Atrelo sonhos no corcel indômito

Que dispara e relincha e me entontece,

Mesmo entontecido, deixo-lhe prosseguir

Sabe por onde levar-me longe:

Antigamente ele nutria escombros

Agora outro pasto o abastece,

Outro pasto sacia-lhe a fome,

Outro pasto engorda-lhe,

Outro pasto dá-lhe inéditas disposições,

Instintos eriçados, atiçados às ousadias da raça,

À coragem intrínseca de exercer as funções da natureza,

Se assim posso me expressar que seja ao menos digna, plausível

A função das polêmicas das estirpes alevantar

Disses-que-me-disse das laias adjuntas,

Mentiras viçosas, verdejantes das origens mancomunadas.

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Agora suas crinas eriçadas

De prazer que o vento e as potrancas

Galopam em liberdade enluarada

Remexendo suas lustrosas ancas.

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Outrora um trote cego, e o arreio

Era cilício na cintura: a dor

De esporas e látego e o freio.

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Trotear cambio-kosado de zigue-zagues

Nos caminhos-de-roça de serras,

As patas traseiras cuidando de onde pisam,

A queda não rola, dá cambalhotas para trás,

Instintos seguros,

Nos bosques de estradas esburacadas,

Quebrar uma das pernas é sempre risco irrefutável,

Dúvidas e atenção se aderem,

Trotear se faz na continuidade das atitudes.

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Agora esta pujança, este embalo

De poema que é empinado

Por outra alma que tem nome de cavalo.

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Cavalo que troteia as patas

Ritmos que mostram ousadia, força,

Nada pode desvirtuar de seu itinerário,

Mesmo se serpente se puser pronta para o bote,

Melhor inda: o trote será em disparada,

Oportunidade de ancas baloiçarem,

No embalo das dianteiras que abrem as vias,

Das traseiras que se despedem das idas poeiras, pedras,

Cascalhos,

"Fois" dos pastos e rações exclusivíssimas,

Passeios românticos, cavalgadas...

Quê lembranças saudosas....

Flectere se nequeo superos, acheronta movebo

- Se eu não puder mover o céu, então irei elevar o inferno. .

Antes, desde tempos imemoriais, destes que se distanciam a olho de lince, ficando na língua sedenta os seus movimentos, carentes de serem ditos com primor, acuidade, o poder de expressar numa palavra que não só encanta com seu som suave e incisivo, mas ofereça sorte precária, que talvez se torne mesquinha, dá forças para resistir ao egoísmo da paixão, às luxúrias da psique, moléstias da razão, o que é referido a esta resistência. Paixões requerem cancelas, porteiras, fronteiras abertas para se sarapalharem à vontade; o egoísmo delas adormece nos braços das maledicências íntimas.

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Qualquer coisa pode ser

O verbo que digo e afirmo

Ser a alma das querenças e utopias,

Ser a luz das trilhas a palmilhar,

Ser as visões de nossos sonhos e esperanças,

Ser a Dialéctica da Iluminação,

São aos linces dos meus olhos, sentimentos,

Emoções, até mesmo explicações e justificativas,

Oratórias solenes,

Verbalizando a fissura por instante de reconhecimento,

Contrabalanceando dúvidas insofismáveis da descrição,

Narração, o tal-agora-aqui dos acontecimentos,

Do que nem eu próprio posso intuir, inspirar,

Outros o significam, definem, conceituam,

Nada significa para outros,

Loucos e despreocupados se ocupam com estas coisas,

Precisam de algo com que espairecer os desequilíbrios,

Com que sarrabiscarem despautérios,

Desatinados e desvairados se entregam a saber-lhes

Custe o que custar....

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Qualquer coisa pode ser

A coisa que digo, dizem!

Os pontos de vista se multiplicam,

A partir dos olhares, visões,

Triplicam, cada um sob ângulos e prismas diferentes,

Intenções e interesses diversos, adversos

Nas suas perspectivas de servir aos preceitos

Que evangelizam, universalizam as certezas,

Mesmo sob o ícone das dúvidas, medos, devaneios,

Multifacelam-se, sob a luz do vivido, vivenciado,

Multifacetam-se, sob os desígnios da má-fé,

Da ausência e falha dos juízos e julgamentos,

A vida, as coisas são

Tudo o que pensarmos e sentirmos

É uma visão,

Digo o óbvio. Endosso solenemente,

Apesar do desconforto, mal-estar,

Quem despertou para a perquirição

Da alma re-velar-nos o ser da vida e das coisas?

Simplesmente,

Simplesmente,

Simplesmente....

Eis a honradíssima indagação nestas instâncias!

Que sensações trazem no alforje de a penas pensamentos,

Que abreviações de saberes residem na mochila

De apenas papiros de zagaias asseveradas de origens lendárias?

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Ainda vivo, dias agradáveis para a minha natureza ásnica eram justamente os de chuva contínua. Os instintos se anunciavam de modo mais forte, presente, com suas nuanças de galhofa, mofa, meditações, sarcasmos na dose ou quantidade precisa, representando os sais de que se alimentam para a sobrevivência, ironias e cinismos haviam de ser temperados com mais rigor e empáfia, figuravam como alho e cebola da China Oriental, malagueta no ponto, mas não era com asnices que causaria o riso nos humanos, o intelecto aguçado e perspicaz, isto num equus asinus é de dar gargalhadas, inda mais quando as idéias e pensamentos são profusos, apesar de que se mostravam lentas e sutis as angústias, tristezas, desolações, medos de estar num lugar não sendo ele a existência; facultavam-me prazeres inusitados mangofar das mazelas humanas, dizendo-lhes em silêncio que de certo modo era-lhes superior, não sofria destes males. Nada podiam dizer, mesmo que soubessem decifrar o que passava na cachola desvairada, seriam tachados de loucos, desde quando jegue sabe discernir entre sabedoria e conhecimento?!

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Este embalo de poema nas patas de marchador

Que nem eu próprio posso entender como se pode marchar

Com firmeza, disposição,

Palavras, idéias, sentimentos, inspirações,

E mais o diabo que carregue,

Empino por outra alma que tem o nome de vento.

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Ventana galopa em liberdade luarada e estrelada,

Asas invisíveis de penas singelas, cada uma aberta,

As idéias se esplendem no movimento movediço

Da estética da vida o que ela é,

Crinas eriçadas sentindo perpassar-lhes o ar,

Da ética das relações íntimas, sociais,

Do mundo e do pensamento,,

Pernas revezando-se na galopada.

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Outrora remexia as lustrosas ancas,

Empáfia e orgulho do trote cego e arreio,

Era o dilema do conhecimento e sabedoria do vento.

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O ato de vê-la é inefável,

Por vezes o que é visto é também inefável,

É assim certo estilo de troteio,

Chamá-lo-ei de "liberdade",

Só para pensar-sentir que lhe dei um nome.

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Agora outra grama verde e viçosa

Onde repouso o corpo,

Observo a ec-sistência às maresias, ondas do mar, ao vento,

Deitado na nuvem que vai deslizando com lerdeza,

Mister enxergar as coisas nos seus índices de glórias,

Gritos antigos incluídos.

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Conhecia as sensações, sabia-as presentes, deixava-as livres para o que desejassem. Em dias normais, a galhofa e mofa eram o prato do dia, contundentes, maléficas, extremamente pessimistas. A cachola instintiva fervia com os raios do sol, a alternativa era desejar que tudo saísse, nada ficasse dentro delas; ao contrário, quanto mais saíam ainda mais e mais tinham para sair.

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Gostava do tempo de chuva.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 12 DE DEZEMBRO DE 2020, 07:09 a.m.#

 

 


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