FOGO DANADO NO RABO DAS IDÉIAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ###


Instância primeva: peço-vos a finesse, gentileza, acompanhadas de diplomacia e data vênia, não jogardes pedras em mim, primeiro por machucarem muito, leva à morte, sob certas circunstâncias, segundo por não haver razões percucientes para juízos tão sérios. Tão somente com intenção de espairecer as ideias, andam com fogo danado no rabo, então encontrei este modo de não cogitar muito acerca dos rabos, as chamas chamuscando-lhe os pelos, sensação de ardência à princípio, depois churrascando-lhe com tanta glória, eis o que me não é conveniente saber, não devo entrar por esta via, em demasia sinuosa, o risco da queda no abismo é indizível. Tecer esta consideração fora a dádiva a mim legada para me livrar destas cogitações, pensar no rabo já é bem complexo, pensar e sentir as chamas queimando, deixa de ser complexo a penas ou apenas como melhor aprouver às entrelinhas. Não me explico, não me explicito, nestas situações há modos de reversar as coisas apresentadas e as omissas, contradizendo a intenção fundamental, tendo de defender-me por todo o tempo de meu estar-no-mundo, até mesmo condenado por uma Corte. Evito, dizendo a razão incólume por não jogardes em mim pedras, que interpretações escusas sejam objeto de aliciar os sarcasmos, ironias e cinismos.

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Vicios, cacoetes de linguagem são ininteligíveis no que concerne e tange ao incomodo, não por saber os representantes legais para evitá-los, não incomodar o ouvinte, mas os ouvidos ficam em demasia excitados com a repetição, o som leva à loucura, o mesmo ouvir matraca, disco de vinil riscado e a mãozinha passando no mesmo lugar, o som. Por diplomacia, releva-se, quando se trata de conversas sociais, íntimos, amigos, o que seriam conduta e postura de alguém mal educado ficar corrigindo os vícios e cacoetes das pessoas.

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Agora, tratando-se de ser todo o povo, a comunidade com os mesmos vícios e cacoetes, não os ter até é motivo de surpresa, sendo eles altamente desagradáveis aos ouvidos, sentindo eles a sensação de que vão explodir a qualquer momento. Vou dar-lhes uma "palha" da questão a que me refiro. Vou contar o causo: ".... aí, a mulher começou a passar a mão no seu rosto, ai passou a passar a língua nos seus lábios, aí fiquei olhando, queria saber o que iria acontecer, aí você saiu com ela da mesa, aí escondeu atrás de carro alegórico, aí o carro começou a pegar fogo, aí só gente correndo, a mulher saiu, aí me disse não ter podido fazer nada, sentia muito...." Peço-vos a gentileza de contar quantos "aí" foram pronunciados. Isto irrita qualquer santo. Imaginai se eu me ponho a seguir o resto do sonho que a pessoa contava, quantos "ai"! Imaginai agora todo o povo com o "aí" na língua em riste, língua que não sabe aquietar-se instante sequer, sempre na ativa.

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Estivera certa vez trocando dedos de prosa com professora de geografia na praia. De imediato, iniciando a conversa, cometeu erro ruço de português, diante de sua impertinência de quem respondia pelo ensino, contei-lhe os erros da língua, mentalmente, conversa de meia hora. Não vos sintais surpreso, duvidando da veracidade, a minha intenção é enfatizar as coisas irritantes dos vícios e cacoetes de linguagem, o desconhecido da Língua! Não mesmo. É real. Com que intenção iria mentir, deturpar os fatos? Contei setenta e oito erros crassos da Língua Portuguesa, em se tratando de professora, mostrou-me a sua carteirinha, deveria cuidar disso. Inda mais diante de tanto orgulho da raça, estirpe, laia de quem responde por seu ensino.

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Pois é... O mineiro da gema, como se tem costume dizer referindo-se aos tradicionais, conservadores, tem o vício do "pois é...", em tudo está ele presente, a sua justificativa sui generis para todas as situações e circunstâncias, a vida ser assim mesmo: "pois é..." Pois é... Assim, explico-vos com todas as letras no riste da língua a razão de haver pedido-vos não atirardes pedras em mim por esta coisas que precisavam ser retiradas de mim, jogadas fora. São os meus ouvidos, não creio seja responsabilidade minha serem sensíveis demais, o talento e o dom deles são a sensibilidade!

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Referi-me ao rabo, as minhas idéias andavam com fogo danado no rabo. Em consonância com o que vos digo, não poderia deixar passar em branco que as minhas notas acadêmicas em Língua Portuguesa sempre foram baixas, tive de repetir o terceiro ano ginasial por causa desta disciplina. São os meus ouvidos.

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Ficam as gratidões por haverdes compreendido, entendido as razões do pedido de não usarem as pedras em defesa aos vossos princípios, comportamentos. Inda mais por me sentir feliz, satisfeito, sinto prazer, o fogo danado por que fora invadido o rabo de minhas idéias extinguiu-se.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 06 DE DEZEMBRO DE 2020, 15:54 a.m."

 

 


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