#DA ANUNCIAÇÃO CÂNTICO DOS ANJOS # GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ====


Oh, míseras marcas de pés na poeira de lembranças dúbias de sentimentos, ambíguas de projectos, cúmplices das palavras a queima-roupa, da pernosticidade e avaras luxúrias sob a luz dos véus que cobrem o prazer da pureza, por que não estendem o tapete vermelho para a travessia desta miséria para o lado re-verso da glória, a consciência da dignidade não requer qualquer prateleira para apreciações e aquisições, surge no imediato dos acontecimentos. Se não estendem com júbilo e engenho, é que esta travessia é para ser patenteada na terra íngreme, trincada, na poeira densa. Malnascido, contei os esforços para re-nascer: mil vezes as súplicas da ingenuidade em perigo me despertaram, suscitaram, enfim seduziram-me a não legar importância ao malnascimento. A autotransparência das realizações da vida, mundo superior do espiritual, também cotidianas nas contingências do tal-agora-aqui, sim são sine qua non na constituição e produção de valores lídimos e probos.

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A brancura das nuvens se confunde com a brancura do silêncio. Choro de alegria, prometi-me não o fazer estivesse triste ou desconsolado, desesperançado ou deprimido. Sufoca o peito, a respiração des-compassada, cumpre seguir o destino almejado, querido, sonhado. Lágrimas não são anestésicos, morfina para os sofrimentos, sublimações e fugas, Katharsis e quimeras, não são lágrimas de sol. Orgulho irreverente. Os sinos bradam para o vazio do mundo, para a fresta de luz do entendimento e das compaixões, as suas travessias, compadecimentos, os seus avarios. Espero que me retornem ao ventre, acocorados em miséria sobre o lume que se extingue.

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Cântico dos anjos da anunciação!...

Cântico dos anjos das trevas e do desastre!...

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Numa espécie de calendário interior, os acontecimentos vão marcando, pela incerteza, ambigüidade seqüencial, ao longo do tempo a memória, dubiedade contínua, tanto pode haver ocorrido antes ou depois, arestas tendo sido carcomidas, mergulhadas bem profundo, bordas tendo sido artificiadas no mover do tempo, presentes e fortes, restando o cerne, requerendo ele mergulho ad aeternum.

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Oh, míseros compassos e traços de um instante sem fim e início, filhos do acaso e da preguiça, da bebedeira e insanidade, da overdose de despautérios por haver transgredido todos os limites, porque me obrigam a dizer o que não seria nem um pouco conveniente - se houver conveniência é o aprender a tocar qualquer instrumento, amar apaixonadamente estes ritmos de qualidade e belo estilo - dizer o que não seria, em suma, bom ouvirem? O encontro ser de dois. O melhor para um indivíduo, quem sente o ar calmo e temperado, a brisa suave, contemplar o bosque, as sombras frescas, o aroma da relva, o brilho suave do céu sem estrelas e sem lua, as vozes do mar, o patear compassado e o resfolegar dos cavalos, porcos, vira-latas pelas estradas – todos os encantos da via, da primavera e da noite penetram-lhe na alma, - é não ter nascido, não ser, ser Vazio, condenado a criar, in-ventar, re-criar, refazer para me sentir no quotidiano das coisas e dos objetos, dos homens, enquanto passando entre eles.

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Águas correm ruelas, avenidas, estradas, caminhos do campo, em direção às nostalgias e lembranças de tempos que re-nascem, re-novam em cada movimento de lábios que buscam palavras a expressarem ao sabor de esperanças os desejos íntimos de corações selvagens, rebeldes e solitários, de mentes humildes e sinceras, de caráteres pernósticos e dissimulados, de personalidades chinfrins e simuladas pode auxiliar nos prazeres de comenos cuidado com as cositas da saúde, alimentar a matéria para ser resistente às intempéries.

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Oh, míseros nós de nada dados, in-desatáveis quase, não houvesse a destreza de des-atar com a paciência de ações e atitudes de risível sarcasmo vazio, haver vagabundeado pelas situações e circunstâncias, o que de vós é capaz, possua dom e talento para entender o sem-destino inventa, cria, re-cria as suas trilhas, na mochila a cor-agem de assumir, reconhecer o absurdo do sensível e contingente, condenado a viver em brancas nuvens... acontece a tragédia do vazio, dera espírito para a continuidade das multiplicidades que jorra no transcurso das intenções de preenchimento dos espaços, alma, dera-lhe as asas para voar as penas, árduas experiências, só o vazio multiplica perspectivas de visões do "olhar" o mundo e o pensamento, haveis sido vós que armara a arapuca das situações e situações particulares, individuais e jogo, os dados lançados, se os sonhos se fazem na continuidade do tempo, o tempo são os sonhos continuamente, cor-agem e consequência, o estilo e a linguagem da cor-agem entrelaçados às intenções da jornada, isto é quase inaceitável no métier dos desprobidados, aqueles destituídos de probidades, a psicanálise aí consentir que são os improbos que dão origem à cura, a psicanálise assumindo a responsabilidade de ser a cura dos deslizes do caráter e personalidade...

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Conheço sobremodo o meu destino. Tenho a impressão de que uma extraordinária e doce melodia se prepara para visitar-me, seria mágica a visita à beira de fogueira, crepitando as achas o fogo dos devaneios, o silêncio das falas e diálogos refutando-se nas visões, tentando conciliar os "refutes", os ideais e intenções crepitando nas lenhas da estética, comungando-se na sensibilidade e visão-de-mundo, os desejos do divino e da espiritualidade: já ardem e se agitam, já sinto o langor e o deleite de sua aproximação, mas não a aguardo até ao fim. Um dia meu nome vai se suspender nalguma parede, apresentando a sua sagrada face, por um profundo choque de consciência, uma decisão contra tudo o que fora dito, impresso, publicado, contra tudo que foi acreditado, santificado, divinizado. Pensar que sou aparentado com o canalha do tabernáculo de imbecis é uma blasfêmia e perjúrio contra a minha santidade, simplesmente por não possuir serventia alguma as opiniões e pontos sem vista. Isto é, eis a primeva questão primordial, se serei capaz de manter esta santidade, fazê-la permanecer?

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Às vezes, tenho a voluptuosidade de rasgar os verbos todos, dizendo que não sei ao certo se o inconsciente não acabara mastigando e engolindo aquele que se entrega ao escrutínio de hipocrisias, a entrega simplesmente será sublime, e não sei também ao certo se quem se entregou a ele será suficientemente intuitivo e perceptivo para sustentar seus pontos de vista e opiniões verdadeiros diante de uma existência e mundo os mais estranhos e esquisitos possíveis, uma existência vazia buscando sobreviver no mundo de seus juízos avariados.

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Em direção ao infinito, águas re-colhem de nossas vidas o húmus de recordações simples que preencheram os vazios esplendorosos do olhar ensimesmado e triste por cima dos acontecimentos inenarráveis, indescritíveis. Rumo ao eterno, águas acolhem de nossos prazeres a alegria de instantes, a paz de entregas e mortes, desejando a felicidade que afagamos no íntimo. Resta olhar o acinzentado do dia de chuva, a certeza, quem sabe, de erguer uma taça ao som de silêncios e vozes que percorrem o espírito, desejando o paladar da alegria e realização, bebericar o sabor das quimeras armazenadas, realizadas, sonhos de verbos outros do saber e do conhecimento, até considerando com perspicácia o que dissera Thich Nhat Hahn, a sabedoria não é armazenamento de conhecimentos, quiçá Dialécticas da Iluminação e Vazio, separadas de intenções e utopias, mas presentes e fortes na Consciência-Estética-Ética, saboreando um churrasco de picanha ao ponto.

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A vida, aos sons de imagens dispersas e sinuosas, mostra sua fragilidade, sua investida em deixar não só recordações mas o orgulho de sua verdade, insolência das vaidades. O difícil mesmo é aceitar e admitir a eternidade são esperança, sonho, amor, confiança, como dissera alguém "A liberdade está em questão.", querendo dizer: "O amor transcende a tudo por a sua essência ser a eternidade do sentimento de entrega e dedicação e, diante de seu poder, projeta dimensões sensíveis da felicidade, projeta a liberdade ao refletir e meditar o que é isso de "Humanidade do Ser."

#RIO DE JANEIRO(RJ), 04 DE DEZEMBRO DE 2020, 11:48 a.m.#

 

 


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