#ONDAS NO LIMIAR DA IMAGINAÇÃO DES-VAIRADA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ====


Des-vairado comenos de sabença,

Brecha de sapiências do desvario de sabedorias

Que por menos de suspiro profundo

Des-encadeia por menor que seja

As fantasias, delírios do inter-dito,

Pormenor, detalhe,

Conhecer o sublime, sem poder

Re-alizar?

O que inter-dita essa realização?

Des-vairado tudo o que é vivo

Não poder tornar-se sadio,

Forte e fecundo senão dentro dos

Limites de determinado universo,

Inconcebível? Inimaginável?

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A paz do coração posta em desvio,

Sentimos com abstração,

Mal somos capazes ainda de saber

Como os sentimentos se exprimem em

Nossos contemporâneos,

Nós os deixamos sobressaltos,

Mais do que costumam estar hoje,

Shakespeare nos corrompeu a todos,

A todos nós, modernos,

A sublimidade sentida no âmago da alma

Em extravio de ondas de sensações indizíveis,

Em improviso de inspirações de ventos

De comoções morais in-inteligíveis,

Concupiscências éticas inescrupulosas,

O gosto em desenganos sufocado,

Lágrimas com lembranças desafio,

E pela tarda Morte às vezes brado:

"Tão maviosos são meus ais mesquinhos, tanto pode a paixão que em mim suspira, que se esquecem das mães os cordeirinhos": tantas volúpias que em mim se patenteiam, que se esvaecem nos mistérios, incognoscíveis das idéias e ideais, que perpassam os interstícios, esperam outras escolhas de se ver o mundo esplender-se ou explodir no que tange às profecias do Apocalipse. Quanto tempo antes de voltarem os sentimentos, emoções, sensações, devastando a sede de sabedoria das dialécticas e contradições que são húmus de outras luzes de conhecimentos, de outras contra-luzes de in-vestig-ações do não-ser, e se a vossa sublimidade de espírito não se vos revelar, é que os sibilos do vento estão acabando de, à luz do sol, esplendendo-se no tempo, movendo moinhos e cataventos, devorando idéias e utopias, deglutindo esperanças e vontades, seguir, no "café com pão, manteiga não", as sinuosidades das trilhas.

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Limites desfeitos, extintos

O tudo que outrora existiu

Precipita-se sobre mim

Perspectivas deslocam-se

Até a noite dos tempos,

Até o infinito,

Tão longe para onde

Houver um devir...

O vento não se mexe, nem respira;

Deixam de namorar-se os passarinhos,

Para me ouvir chorar ao som da lira.

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Se o vento é suave,

Balança as folhas da palmeira,

Se o vento é forte,

Tanto folhas quanto a galha baloiçam.

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Quantas vezes o olhar implacável do artista se detém, subitamente desarmado, numa criança suja ou papoula tola, no ápice gelado de uma elucubração absolutamente cética, o pensamento se corporifica como nó na garganta e transborda, liquefeito em lágrimas. A história de meu corpo é de afetos represados. Sepulto vivo, quem é a outrem dado, e quem ao outrem que há em si, sepulto, não poderei Senhor, alguma vez, qualquer rumorejo de vento no arvoredo, brilho incerto sobre o rio, acordar de repente o “sentimento-raiz”, recalcado, mas formidavelmente vivo: “Quem me entalou estas lágrimas nos interstícios do coração?!”

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A memória seja per siempre

E de novo excitada,

Contanto que afluam sem cessar

Coisas novas, coisas inusitadas,

Coisas inéditas, dignas de serem sabidas,

Coisas que se pode classificar com

Esmerado cuidado nos cofres dessa memória.

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Somente a quem uma angústia do presente o tortura e que, seja lá como for, quer se des-embaraçar de seu fardo, sina, saga, somente esse sente a necessidade de uma história crítica, isto é, uma história que julga e condena

Do antiqüíssimo de mim, onde têm raiz todas as rosas de maravilha, cujos odores são esperanças que amo, das honras e dignidades caprichosas, vaidosas, porque as sei fora de relação com o que há na vida, uma vontade estranha, oculta, e deliberada de verter lágrimas quentes e fáceis, talvez porque a alma é infinita e a vida, finita.

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A compaixão(éleos) surge na existência contínua, cíclica, com grandes fontes de alegria como a misericórdia, o que desejo é "Iluminai a todos como tendes iluminado a mim, e deito tranqüilo e sereno, sabendo que vós estais a meu lado a todo instante."

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É de sonho e de cinzas que se existe a vida, que se ec-sistem as náuseas e as angústias, que se ek-sistem os pós e as poeiras da estrada, imperfeitos para serem imperfectíveis, ec-siste a ec-sistência cumprida e solitária, a liberdade é que se despetá-la ao re-colher, a-colher, colher as luzes que se bailam nos seus reflexos, útero que concebe e gera criações, criatividades, invenções, in-vestig-ações, ec-siste a metafísica que vomita perquirições, os gritos que se revelam altissonantes diante dos verbos do silêncio há tempo recolhido e acolhido, esperando o instante-limite de se patentearem, e das cinzas o templar o re-nascer do incognoscível do eterno, que são mistérios que voam longe, o in-audito de o efêmero ferir o eterno, despetalando-se, mostrando, com a dura semente que se prende no peito de toda multidão o que virá como aflição e cor-agem, na voz de peregrino que anda solitário atravessando os campos e florestas, bosques.

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Esta antiga angústia que trago há milênios no coração, transbordou da taça em lágrimas, imaginações férteis, desejos de mostrar o íntimo, mesmo com todas as dificuldades, carências. E, no entanto, na lua que esplende no céu, na ESTRELA DO NASCIMENTO, estrela de outros infinitos, sonhos, quimeras, utopias veramente inscritos na história, concretizados, no sol que incide sobre a ilha, bosque, mar, um indício fala no limiar das origens.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 06 DE DEZEMBRO DE 2020, 17:14 a.m.#

 

 


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